Boogiepop wa Warawanai – ep 8 – Informação versus Enxerto
Você já se imaginou sendo uma vítima da sociedade por ser alguém que nasceu em um mundo que não foi moldado por seus esforços? Se sim, considera sacrifícios as pessoas que tornaram a sua paz possível – se está lendo este artigo, creio que deva ter um mínimo de conforto – ou acha que fazer uma mudança na sociedade, por mais insignificante que possa parecer, não é inevitável, que todos têm a possibilidade de escolher não ser responsáveis pelo futuro de outras pessoas? Reflita, é isso que Boogiepop quer que façamos. Eu tenho outras considerações a fazer abaixo. Leiam, por favor!
Mais uma vez Boogiepop-san apareceu nesse episódio apenas de forma indireta, só que a mudança na voz da personagem foi tão abrupta que sequer me atrevo a imaginar que todos não perceberam. O que isso significa? Que por mais sumido que o vigilante possa estar eventualmente ele participará da ação e que, na verdade, ele tem atuado dos bastidores, mantendo a “perseguição” ao Imaginator? Creio que sim. Aliás, não será estranho se ele aparecer do nada e salvar alguém, como a Aya. Apesar desse arco ter personagens que não precisam exatamente ser salvos em qualquer sentido da palavra.
Uma dessas é a Suema, que encara o Jin e talvez não tenha tido um resultado produtivo da conversa, mas foi muito bom ver o confronto de formas de ver o mundo dos dois e o que ele disse sobre o que ainda estava por vir.
Como a série já deixou claro até aqui, a Suema é alguém que quer compreender o que se passa ao redor dela, o que se torna alvo de sua observação. Isso porque ela passou por uma experiência que ela não conseguiu entender, que a assusta ao mesmo tempo que a fascina? Tudo vai nessa direção. O que ela mais teme é a ignorância, e para persuadi-la o que o Imaginator ofereceria?
Nesse caso, o resultado estava não na tentação da completude, mas na forma que a garota reagiu a ela. Isso definiu quem ela é, quais são seus princípios, o molde do seu caráter. Suema não só recusa essa perfeição que o Imaginator oferece como traz a mesa o nome de seu salvador: Boogiepop.
Ele devia guiar as almas dos mortos, mas está é cuidando dos vivos, não é? O caso do passado da Suema deve ter tido interferência do Boogiepop e isso deve rolar de novo.
Aliás, adorei o jeito que a garota encarou o Imaginator, apesar de nervosa ela teve pulso firme para não se deixar manipular. Ela não seria forçada a nada, mas se fosse mais frágil poderia ter caído na conversa dele. Além disso, tenho certeza de que os planos dele serão frustrados, pois a Aya mudou desde que ela conheceu o Masaki.
O amor nos muda. Não poderia existir frase mais certa. E será esse amor o fator de interferência nos planos dos Imaginators. A 1 voltou a aparecer, mas agora ela me parece mais o subproduto do 2, ou se não isso, alguém que já cumpriu seu papel em prol do que se tornou um objetivo comum aos dois.
Mas antes de comentar isso mais a fundo não poderia deixar de elogiar as belas cenas de ação desse episódio, nem a compostura e atitude do Masaki ou a interferência da irmã, apesar de que eu tenho minhas dúvidas se ela realmente era necessária.
Mas não é como se a Nagi não fosse fazer nada, né, então eu entendo ela ter aparecido. Situação que serviu de gancho para o antagonista brilhar, mas é quase certo que o seu progresso irá por água abaixo e ele perderá quase tudo que lhe é importante.
Até mesmo o amor da Kotoe, o qual ele insiste em chamar de falso só porque surgiu da falta de algo, é relevante a história. Na realidade, como desqualificar esse sentimento independentemente do que o levou a ser?
Se é a instabilidade, imperfeição e incompletude o que ele abomina, eu até entendo o que ele diz e sua forma de pensar, mas existe um grande furo lógico nisso. A pessoa quer ser salva do que ela sente, do que a joga no desespero e a torna inconsistente, imperfeita, incompleta? Você não pode salvar alguém de algo que a pessoa não deseje ser salva.
Você até pode, mas deverá arcar com as consequências disso, de forçar o que acha melhor em detrimento do que acha pior sem perguntar se a pessoa que está sendo modificada quer o mesmo.
Não somos plantas para não pedir por nossos enxertos e mesmo assim recebê-los. Sei que já ficou claro que o Imaginator não “ajuda” aqueles que não querem, mas o quanto dessa transformação pode ser encarada como legítima? O quanto alguém foi induzido a acreditar que isso resolveria todos os seus problemas e cedeu por conta da fragilidade? O quanto é legitimo fazer as pessoas crerem que elas precisam de algo e dar isso a elas, porque você acredita que é o que elas precisam? O Jin sabe usar bem as palavras, tão bem que só me faz imaginar que ele não foi usado pela Imaginator 1 só porque ele vê o que falta nas pessoas, mas porque queria e é capaz de influenciar pessoas; achando que está fazendo um favor a elas, não um desserviço.
Para expandir o plano mais rápido “englobar” a Organização Towa foi de fato uma sacada bem inteligente, mas que aconteceu no pior momento possível. A rebeldia do Spooky E – o seu suicídio – denunciou a fragilidade dessas ideias. Ao se ver livre do que o tornava instável ele preferiu morrer, mesmo dentro do controle do Imaginator ele o desafiou e ganhou. Perdeu a vida, mas não seu direito a imperfeição.
Aliás, talvez o Imaginator tenha nascido disso, da fixação de muitas pessoas ao longo do tempo sobre a uniformização do ser humano, a padronização de sua mente. É uma fuga covarde do que incomoda a praticamente todas as pessoas, mas leva só uma certa parcela delas a rejeitar totalmente a mancha daquilo que lhes falta para alcançar um equilíbrio ideal.
Eu aceito que me falta algo, seja um caule ou uma raiz sólida, e sei que qualquer forma artificial de completar o que há de vazio em mim não me é, por mais tentador que seja, benéfica. O ser humano deve celebrar sua individualidade. Há um preço, um preço caro, a se pagar por ela, é verdade, mas por que viver fugindo da dor? A instabilidade não é o problema, se entregar a ela sem buscar mudar, sem buscar equilíbrio, pelo seu próprio esforço, sim.
Você só terá felicidade se também for um pouco infeliz e também só conseguirá amar se for capaz de odiar um pouco – e até mesmo de ser odiado. A Aya descobriu isso com o Masaki e é isso que a torna não mais uma musa perfeita a fim de espalhar um modelo padrão de psiquê para a humanidade, mas uma simples e bela adolescente apaixonada, quer seja a sua origem. Aliás, o fato de ela ser artificial é o que a tornava “perfeita” para o papel de musa, mas ao interagir com outras pessoas na sociedade a mudança dela aconteceu. Sua alma – seu coração – desabrochou e agora torço para que ela saia viva.
Boogiepop, salve ela! Frustre o plano do Imaginator, mostre a ele a verdadeira força da humanidade!