Detroit Metal City – O Imperador do Death Metal
Bom dia!
Johannes Krauser II é um demônio que veio do inferno. Quando nasceu, a primeira coisa que disse foi “me mate!”. Ainda criança, matou seus pais e depois os estuprou. Ou estuprou eles e matou depois? Tanto faz. Agora ele é o frontman, vocalista e guitarrista do Detroit Metal City, banda indie de death metal, e planeja conquistar e destruir o mundo.
Johannes Krauser II é Souichi Negishi, um jovem adulto pacífico, que cresceu em uma fazenda e veio para Tóquio fazer faculdade, ama coisas estilosas e da moda. O sonho de Negishi é se tornar um músico famoso de pop sueco. Ele não poderia detestar mais o death metal, que não consegue compreender pois veio de um mundo totalmente diferente. E seus pais estão vivos, passam bem e se orgulham do filho.
Negishi é a contradição ambulante que carrega quase todo o humor do anime nas costas. E sendo Detroit Metal City um anime de comédia rápida, com episódios de 15 minutos divididos em duas esquetes cada, essa contradição é justamente todo o ponto da história.
Como ele acabou se tornando o vocalista de uma banda de death metal? O anime não responde isso, mas deve ter sido puro acaso, como quase tudo o que acontece ao pobre Negishi.
Num minuto ele está tocando seu violão na rua e cantando sua composição pop melosa tão açucarada que eu acho que diabéticos devem assistir esse anime com o volume baixo, e no minuto seguinte uma multidão de fãs do DMC está causando uma baderna por perto e ele é obrigado a, como Clark Kent quando se torna Superman, vestir secretamente sua persona demoníaca que por algum motivo ele sempre carrega consigo – peruca, roupas pesadas com peças de armadura, e a maquiagem preto e branco estilo Kiss – para intervir e evitar que as coisas saiam muito de controle.
E muitas vezes elas saem de controle mesmo assim, ou talvez saiam de controle exatamente por causa de sua intervenção, criando mais uma “lenda” para a biografia de Krauser II.
Música, de qualquer gênero, é um hobby e um entretenimento como qualquer outro. Uma forma de fugirmos temporariamente da realidade e nos transportarmos para fantasias que libertam nossas frustrações acumuladas, deem azo às nossas fantasias ocultas, e nos permitam relaxar a alma depois de um dia de trabalho duro.
Isso é verdade tanto para gêneros extremos, como o death metal, quanto para os “suaves”, como o pop sueco. Aliás, nem sei se existe “pop sueco”. Talvez exista. A graça para mim nesse caso é que o death metal é um estilo normalmente associado ao seu vizinho escandinavo, a Noruega.
Retornando, o problema é quando as pessoas (fãs ou profissionais) não separam ou não sabem separar a fantasia implícita em seu hobby da realidade. Detroit Metal City parodia esse tipo de comportamento nos fãs da banda titular, principalmente, além da presidente da agência que criou o DMC, que vive uma “vida metal” (em dado episódio ela destrói o apartamento do Negishi e o droga a noite inteira tentando “ensiná-lo” a viver desse jeito), além de outros personagens em outras situações.
E se pode argumentar que pelo menos um personagem da cena pop do anime, Asato, um designer de moda, também encarna esse problema, sendo uma pessoa sofrível que parece querer conquistar com palavras suaves Aikawa (garota que é interesse romântico do Negishi e que parece gostar do protagonista também) enquanto espatifa os sonhos do protagonista de se tornar um músico pop na primeira oportunidade que tem.
Que se note: o pop do Negishi é mesmo horrível. Mas existem formas e formas de dizer a alguém que ela não toca e canta bem, não é? Uma das mais cruéis sem dúvida é dizer “Se quer brincar, que tal fazer isso lá fora?” enquanto Negishi está tocando, ao vivo, por sugestão e encorajamento do próprio Asato.
Essencialmente, enxergo nisso o uso de uma máscara bonita (ao contrário da máscara feia do death metal) para fazer coisas feias debaixo do nariz de todo mundo sem que ninguém perceba. Colocando em uma só palavra: hipocrisia.
Isso leva a outra questão: quando uma pessoa está apenas atuando, vivendo uma fantasia, e quando ela está sendo ela mesma? Para quem vê de fora é impossível saber. A fronteira está sempre dentro da nossa mente.
Claro que ações valem mais do que pensamentos, nesse caso. É fácil saber que uma criança inocente levada a um show de death metal com letras sobre morte e estupro está ali só pela diversão, e não entende nada, e tampouco seus pais esperam que ela viva segundo a ética de Johannes Krauser II.
Mas quando fãs do DMC e fãs do rapper Kiva (que provoca Krauser em seus shows) começam a se caçar nas ruas e em shows é só atuação também? Como a violência está explícita na fantasia de ambos, até certo ponto se pode argumentar que sim, mesmo essa pancadaria, conquanto condenável, ainda é in character. O mesmo não se pode dizer quando ameaçam transeuntes que nada têm a ver com a cena musical.
É no protagonista, porém, que essa fronteira entre fantasia e realidade se torna deliciosamente hilária. Negishi se transforma em Krauser em três situações distintas: profissionalmente, em shows e eventos da banda; altruisticamente, quando encarna sua persona para ajudar seus fãs ou outras pessoas; e egoisticamente, quando, conforme se passam os episódios, ele começa a se orgulhar do bom trabalho que faz (ainda que continue detestando os temas e o estilo da banda) e se transforma para se defender, ou apenas porque ficou com raiva e isso começa a invocar seu demônio interior.
Em qualquer caso, não há dúvida de uma coisa pelo menos: Negishi é magnífico em sua atuação como Krauser II, capaz de improvisar em shows ou de usar até mesmo a moral demoníaca de seu alter ego para transmitir mensagens positivas.
Num dado episódio, por exemplo, impossibilitado de dizer que sente medo (um demônio poderoso não deve temer nada, afinal), ele convence um fã que está com medo de uma operação que terá que fazer no dia seguinte que até mesmo ele, Krauser, se “preocupa” às vezes sobre o futuro, sobre coisas como se será mesmo capaz de destruir o mundo.
A animação não é o ponto forte de Detroit Metal City não importa como se amenize, mas não é ruim também. É propositalmente ruim, como South Park, por exemplo, outro clássico do humor negro, mas com um estilo de ruim totalmente diferente, lógico. Ao fim e ao cabo, é uma animação que cumpre muito bem o papel em um anime paródia.
Detroit Metal City é um anime musical, e apesar de tudo que o humor chulo e a animação pobre fariam esperar, a música na verdade é muito boa! É preciso gostar dos gêneros, suponho, mas acredito que é minimamente agradável mesmo para quem não é muito metaleiro – ou muito “popeiro sueco”, muito menos presente no anime que o death metal mas ainda assim surgindo em mais de um episódio, além da música de encerramento ser uma composição melódica supostamente do próprio Negishi.
Para deixar bem claro, estou falando das músicas em si. As letras são tão absurdas e ridículas que chegam a ser engraçadas, e dialogam com a história de forma hilária em alguns episódios. Nem a torta de framboesa do pop nem os assassinatos em série do death metal são poeticamente notáveis, bem pelo contrário, mas isso é parte da piada.
A música em si, porém, é real, e os três episódios finais em particular são generosos em grandes composições. Confira a abertura e o encerramento abaixo, respectivamente death metal do Detroit Metal City e pop sueco do Negishi:
Se gosta de death metal em particular ou heavy metal ou rock em geral, mas não leva seu gosto muito a sério e não se ofende com paródias, assista Detroit Metal City. Se gosta de humor negro, assista Detroit Metal City. Se não é particularmente fã de humor negro mas não se incomoda automaticamente com piadas envolvendo assassinatos e estupros, que são os temas de todas as músicas do DMC e fazem parte da lenda demoníaca de Krauser, dê uma chance a Detroit Metal City. Os episódios são curtos, na pior das hipóteses não irá perder tanto tempo assim.
Meta Galaxia
É muito engraçado! Pena que não acho mais para baixar!
Fábio "Mexicano" Godoy
Olá Meta Galaxia, tudo certinho?
Eu acho que encontrei torrent, mas faz tempo, não me lembro. E acho que tem no Amazon Prime também, dá uma olhada.
Obrigado pela visita e pelo comentário!
Rodrigouchiha10
Um dos meus animes de comédia favoritos!
Fábio "Mexicano" Godoy
Olá Rodrigo, tudo certinho?
É hilário mesmo, mas é sempre bom lembrar antes de recomendar que as piadas definitivamente são um pouco pesadas. Mas é muito bom, a combinação de ritmo rápido, episódios curtos, e músicas boas e engraçadas que casam com a história é excelente!
Obrigado pela visita e pelo comentário 😊
Rodrigouchiha10
Concordo, o humor desse anime não é para todos.