Cavaleiros do Zodíaco: Saintia Sho – Vão e tornem-se lendas!
Saintia Sho era para ser uma “versão feminina” de Cavaleiros do Zodíaco, um spin-off que valorizasse as personagens femininas que tanto ficaram em segundo ou terceiro planos ao longo das histórias da franquia.
Contudo, não é a baixa qualidade de produção técnica que se choca com a proposta, mas o roteiro problemático que, mesmo não totalmente falho, me faz questionar a representatividade que devia ter. Vale a pene assistir o anime? Eleve seu cosmo ao máximo e me acompanhe nessa jornada!
A trama se passa no que seria um universo alternativo e ao mesmo tempo que os acontecimentos da série clássica – não os negando, só os modificando um pouco em situações pontuais.
Nela nós somos apresentados as Saintias, grupo de cavaleiras que são consideradas as guarda-costas de Athena, e ao passo em que a Deusa da Discórdia, Éris, tenta tomar o corpo da irmã de uma dessas guerreiras, sua onee-chan se sacrifica e deixa a inexperiente Shoko com a difícil missão de vestir sua armadura, virar uma Saintia e partir em seu resgate.
Claro que isso tudo Shoko decide por si própria, mostrando algo que em pouco tempo fica meio perdido na franquia: um desejo egoísta. Sim, é benéfico para o “plot” que o corpo hospedeiro da Éris seja retomado, mas a Shoko só deseja se tornar uma Saintia por esse motivo, é só depois que ela cria um laço com a Saori e as outras Saintias, se sentindo parte de “algo”.
A Shoko em si não é uma personagem muito carismática, e sua construção bebe muito de uma fonte que não é nada nova: Seiya. Sim, ela luta com meteoros, sua armadura é a constelação de um cavalo alado e até suas personalidades mais se assemelham que se distinguem.
Se você viu ou leu um pouco do início da série clássica deve lembrar que o Seiya lutava para encontrar a irmã, só depois se deixou engolir pela sequência de eventos, tendo esse desejo ficado em segundo plano. Não há nada de novo na construção da personagem, talvez que ela foi iniciada a cosmoenergia de um modo não ortodoxo? Mas o spin-off Lost Canvas já não havia feito algo do tipo?
Sobre as outras quatro Saintias, até o final do anime – que é quando todas as “protagonistas” se reúnem pela primeira vez – é bem fácil apontar a qual cavaleiro de bronze do clássico corresponde o seu perfil, mas, felizmente, já são copias menos descaradas que a Shoko. Mas não me entendam mal, a personagem não é de todo ruim, não se você não odeia o Seiya, como eu não odeio; o problema é que não é nada assim tão diferente, é medíocre.
Na verdade, os problemas pertinentes da série são outros e enquanto têm algumas lutas nas quais as Saintias conseguem se sobressair até mesmo ao enfrentar homens, há lutas em que elas precisam da ajuda dos cavaleiros de ouro. Ou melhor, há lutas em que eles se metem, os motivos são plausíveis e tudo, mas isso atrapalha a construção da força dessas personagens, principalmente da Shoko.
Eu não quero ver um battle shounen no qual as mulheres são as protagonistas – ou eram para ser –, mas são os homens que levam os créditos pelas grandes lutas. Isso não faz muito sentido para mim e, aliás, as grandes lutas que citei são apenas poderes sendo desferidos em cenas de ação pífias que podem até não pecar tanto – ou não o tempo todo – no que tece a consistência, mas são pobres em fluidez, fica até difícil dizer que são combates.
Na reta final tudo degringola, e o que já era ruim fica horrível, mas não posso deixar de reclamar da mediocridade que cerca a todo o anime. Não aprenderam nada com Soul of Gold, ou pior, é assim por machismo, porque tentaram vender um anime com foco no público feminino, mas não fizeram o mínimo esforço para agradar esse público e nem qualquer outro.
Teve o caso ridículo da autora do mangá pedir desculpas publicamente pela qualidade dessa adaptação, mas a culpa não é dela. Okay, o roteiro questionável não difere muito do mangá, mas os quesitos técnicos não a dizem respeito. Não há nada de experimental em Saintia Sho, só enorme falta de investimento.
Deixando isso de lado, o roteiro falha não só em fazer com que as Saintias sejam interessantes e úteis nas várias batalhas, como também puxa demais do elemento nostálgico a fim de manter o público de longa data que a gente sabe que é o “público pagante” em Cavaleiros do Zodíaco.
Por que não tentar conquistar outros públicos? Ainda não assisti o Ômega todo, mas pelo pouco que assisti dele esse era um dos objetivos do anime e já que Saintia Sho buscava o público feminino, por que não tentar levar a trama de uma forma menos manjada? Entendo que Saintia Sho não refuta o clássico, mas também não precisava se relegar tanto a ele.
Além disso, qual o problema de fazer as Saintias mais fortes? Os cavaleiros de bronze não dependiam de alguém para salvar o dia por eles e nem de modos inusitados de “vencer” uma batalha. Se é um battle shounen de mulheres fortes o normal a se esperar é que as mulheres fortes resolvam os problemas – pelo menos a maioria deles – lutando. Não é bem assim em Saintia Sho.
Elogio a criatividade da produção ao fazer aquele final meia boca – se não me engano no mangá é bem diferente já que nele a história continua depois desse ponto –, mas reclamo da falta de cuidado com todo o resto.
Desde o número de episódios a ação de quinta e o mal aproveitamento da proposta. Eu curti de verdade ver a Shoko usando a cabeça para resgatar a irmã – parando de gritar o onee-chan isso, onee-chan aquilo de quase todos os episódios –, mas todo o resto da situação não foi uma maravilha.
Ademais, posso afirmar que a nostalgia não foi de toda ruim, o episódio em que há a conversa entre o Seiya e a Shoko foi um achado, e gostei muito também do paralelo que poderia ser feito entre a Saori e suas Saintias, da forma que elas lutavam não exatamente pela Deusa, e sim pela humana, pela mulher que, como elas, não tem uma vida tão fácil quando poderia parecer.
Considero esse um dos poucos pontos positivos do anime, o fato de que se trata de uma obra em que mulheres tentam proteger, ajudar e lutar ao lado de outras mulheres; e muito porque têm algo de semelhante.
Se Saintia Sho deixa uma mensagem é essa, de que mulheres devem se apoiar, se unir, nesse mundo dominado por cavaleiros de ouro – culpa de Soul of Gold. Brincadeiras à parte, a subtrama do Saga é até boazinha, mas confesso que achei apenas uma tentativa de vender a série usando de medalhões, o constante aparecimento do Milo e do Aioria me pareceu ser o mesmo, e acho uma pena que a obra precise disso para despertar o interesse do público; seja do mangá ou do anime.
Isso só deve ocorrer porque falha enquanto execução de sua proposta. É, Saintia Sho passa longe de ser feminista ou algo que valorize o empoderamento, e tinha total espaço para isso em um battle shounen com o público cativo, e ainda potencial de expansão, que tem Cavaleiros.
Acho isso uma pena e caso você discorde ficaria grato que compartilhasse sua opinião na sessão de comentários, pois o anime me divertiu um pouquinho e no geral eu sou um baita fã da franquia; inclusive compro e leio o mangá de Saintia Sho.
Não achei essa adaptação tão horrível como muitos fãs, mas sem dúvida alguma a pior que vi de uma obra da franquia. Indico-a apenas para quem for fã de Cavaleiros e ainda que faça a regrinha dos três primeiros episódios. Se você for mulher e se interessar pela premissa e também por Cavaleiros em si, indico que dê uma chance, mas que vá com as expectativas baixas para não se decepcionar tanto.
Eu espero que você, caro(a) leitor(a), tenha achado a resenha proveitosa, mas não por outra temporada, pois acho praticamente impossível que isso aconteça. E isso é uma pena, pois queria ver as cavaleiras que defendem o amor e a justiça sendo fortes e metendo porrada ao menos uma vez. Até a próxima!
Algumas caras e bocas da Shoko