Alita: Anjo de Combate (Live action americano) – Para o Infinito e Zalem
Alita: Anjo de Combate é a adaptação hollywoodiana do mangá GUNNM que fora lançado anos atrás no Brasil pela editora JBC e ganhou sua reedição de luxo recentemente. Neste exato momento a sua continuação está sendo lançada no mesmo formato.
O longa é uma produção de James Cameron – é, ele mesmo, o megalomaníaco diretor por trás dos filmes Titanic e Avatar. Um show de efeitos visuais e ação de primeira qualidade com um roteiro que não é assim tão incrível, mas passa longe de jogar a proposta pelo ralo. Alita é um bom filme que vale a pena assistir, e logo abaixo comentarei o porquê!
Antes de mais nada, preciso deixar claro que ainda não li o mangá – mas depois desse filme fiquei na vontade –, então não posso comentar se achei a adaptação boa ou não, só que achei o filme bom ou ruim e acredito que isso seja o importante.
Vamos a sinopse: Alita é uma ciborgue que foi achada em um lixão pelo Dr. Ido e teve seu novo corpo dado por ele, além do seu nome e a chance de descobrir a sua nebulosa origem. Tudo isso enquanto se apaixona e se vê envolta em uma trama bem perigosa.
A trama de Alita se passa no século 26, em um mundo futurístico no qual a tecnologia avançou tanto que ciborgues já fazem parte do dia a dia das pessoas. Outra coisa comum eram cidades aéreas, mas devido a uma guerra catastrófica conhecida como A Queda a Terra foi devastada e as cidades aéreas destruídas, restando apenas uma: Zalem.
Inclusive, a quase impossível ida até lá é o objeto de desejo de alguns personagens da trama, mas não exatamente de Alita. Todavia, o pouco que ela sabe sobre seu passado e as circunstâncias a atraem cada vez mais para essa cidade e o que de perigoso há nela.
Alita é como um filme de origem de super-herói no qual um “nascimento” é mostrado, o nascimento da guerreira Alita que resolve ajudar as pessoas, e a si mesma, caçando criminosos usando seu corpo ágil e sua mente que foi criada para o combate mesmo a contragosto de seu superprotetor “pai”.
Dr. Ido não é um pai de fato, mas age como tal e só pensa no melhor para a Alita enquanto tenta fazer a vingança que contente seu coração, mas isso sem ver na Alita a filha que perdeu. Ao menos tive essa impressão e posso afirmar que gostei bastante do personagem, pois mesmo discordando dela provê ajuda quando a garota precisa e sabe dar bons conselhos. No fim, ele nem é tão superprotetor assim.
A Alita em si não tem uma personalidade tão interessante, mas gosto da forma como ela amadurece, é muito mais na base do instinto, da vivencia de experiências, que ela vai moldando a personalidade, aprendendo com o pai ou o garoto pelo qual se apaixona, mas não exatamente se deixando usar por eles.
Ao menos não foi o que me pareceu, não que eles tivessem esse objetivo, porque ela assume a escolha que faz e se joga nela, o que vai de acordo com quem se preocupa primeiro em sentir antes até mesmo de raciocinar. A Alita reflete pouco sobre as coisas, mas aprende rápido, vai construindo as camadas necessárias para que o final do filme nos recompense, para que ela tenha amadurecido.
Antes de comentar os relevantes papeis de dois personagens; Hugo, par romântico, e Chiren, o mais próximo de uma “mãe” que Alita teve nesse filme, preciso pincelar o papel de seus vilões. Vector é o menos interessante aqui, ele funciona mais como uma conexão entre o vilão principal, Nova, e todos os outros personagens que um personagem com história e objetivos em si.
Na verdade, ele até quer se manter na superfície, o que é indício de que Zalem não é tão boa quanto aparenta. Por outro lado, Zapan e o troglodita Brusca – eu vi o filme dublado, não sei se é a escrita correta – servem mais como degraus que Alita deve superar para se provar como guerreira, além de ganhar a espada com origem similar a sua ao derrotar o primeiro.
Aliás, a origem da Alita não foi algo totalmente exposto no longa e achei isso uma boa, pois não foi insuficiente para definir quem é a personagem e corroborou com a deixa para sequência que houve ao final da película. Ela ser uma marciana que queria destruir o Nova me parece mais algo contrário a questionável existência das cidades aéreas, da única que restou, que a Terra em si, então não vejo como o objetivo que ela retoma ao fim do filme ser um maleficio para o mundo no qual ela vive, a Cidade do Ferro.
Como último adendo aos antagonistas, as lutas que eles e a garota protagonizam são um deleite para os olhos. Os efeitos especiais do filme são excelentes e as coreografias de batalha também, lembrando até as artes marciais orientais – fontes da qual um autor japonês com certeza se aproveitou para definir o modo de batalha de sua heroína.
Visualmente é um prazer acompanhar Alita não só pelas batalhas, pois o universo apresentado parece bem “vivo” e isso inclusive pode ser conferido na forma como o humano se conecta ao tecnológico com os ciborgues e também com o esporte que a Alita passa a praticar em certa altura do filme, e se torna “rota de fuga” para ela e o Hugo, Motorball. Enfim, comentarei mais profundamente os papeis desses personagens.
No começo pensei que Chiren fosse se tornar uma vilã, mas não podia estar mais enganado já que há um background interessante que envolve ela e o Dr. Ido, o que diferencia seu desejo do do Hugo. Ela desejava voltar para “casa”, mas na verdade sua verdadeira “casa” era agir de acordo com o “instinto maternal” que nunca perdera, mas a filha sim.
Ela teve sua própria Alita e provavelmente se culpava, o que claramente não fora culpa dela, por não ter conseguido ajudar sua filha. Vendo as ações do Dr. Nova, além das do próprio Vector, não achei estranho e nem incoerente ela escolher ajudar a Alita a salvar o Hugo, afinal, a ida a Zalem era tudo uma farsa, uma quimera.
E ciente disso, ela não iria mais arriscar todo o resto, toda e qualquer outra pessoa, em prol dela. Ela viu o que o Nova desejava fazer com a garota e intercedeu por ela em um ato nobre, mas que a fez perder a vida nas “mãos” do vilão. O Hugo foi uma vítima do sistema, garoto que veio de baixo e que estava disposto a fazer quase tudo para se dar bem na vida, sair do lixão onde vivia e ir para Zalem.
Um desejo palpável que propiciou as atitudes questionáveis pelas quais até se pode julgar sua personalidade, mas não é como se ele fosse o pior crápula do mundo por tirar partes do corpo de ciborgues e matá-los – indiretamente ou não – enquanto namorava uma, e se a Alita tivesse priorizado essa contradição ao amor que sentia por ele ali a personagem estaria sendo descaracterizada, pois ela pensava primeiro com o coração, só depois com seu cérebro de guerreira.
Além disso, seria muita hipocrisia dela, que já havia matado ciborgues, se compadecer com as vidas que o namorado foi responsável por tirar. Ela ficar em choque, dando a brecha que o Zapan precisava para se vingar dela, foi compreensível e achei a forma que ele foi salvo bem mirabolante, mas não ruim e nem incoerente dado o contexto, o problema é que isso estendeu o drama de uma forma que não era necessária, ao menos não se ele já iria morrer de qualquer jeito.
A luta final seria boa, mas principalmente relevante para definir a personagem como uma guerreira caçadora e futura atleta de Motorball, mesmo sem o choque final que, sejamos honestos, foi clichê quando não precisava ter sido. Mas esse não foi um grande defeito do filme, algo que me incomoda mais nele é o seu ritmo dinâmico que, na verdade, é bom, mas por vezes destaca mais a ação que o desenvolvimento de personagens fora disso.
E a trama não é ruim, longe disso, mas acho que ficaria melhor se tirassem uns minutinhos do final e botassem no meio para desenvolver mais personagens, ou desenvolver melhor os de menor relevância. De todo jeito, a deixa construída pelos flashbacks da vida passada da Alita foi clara, o seu dever é destruir Zalem, agora não só por isso, mas por vingança!
Alita será capaz de desafiar o Dr. Nova – acredito que ele também seja um ciborgue devido ao tempo que a guerra com Marte se deu – e destruir o seu reinado de mentiras ou fracassará tendo alcançado Zalem para nada? Espero que possamos ver isso nos cinemas.
Como último adendo, gostei do vilão e gostei também de não ser um filme expositivo, contam tudo em meio aos acontecimentos, e isso até aguçou minha curiosidade por saber quais as circunstâncias da guerra, por que Zalem deve perecer e o que levou o mundo, ou a galáxia como um todo, a ficar daquela forma no século 26.
Há um mundo interessante por trás da história da ciborgue Alita que eu gostaria de ver ser debruçado em tela, mas para isso é preciso que o longa faça sucesso. Eu fiz a minha parte indo ao cinema, e espero que você tenha feito a sua. Despeço-me garantindo que Alita é um filme muito bom que vale a pena ser visto!