Purple Haze Feedback é uma light novel de autoria de Kadano Kouhei e ilustrações de Araki Hirohiko. Sim, o autor de Jojo. A obra se trata de um spin-off que narra eventos que se passam seis meses após a conclusão do arco Vento Aureo, mas tem como protagonista não Giorno Giovanna e sim Fugo Pannacotta, personagem subutilizado na quinta parte.

A novel conta com apenas um volume e seu lançamento fez parte da comemoração dos 25 anos da franquia, para o qual três livros foram lançados, sendo “Over Heaven” e “Jorge Joestar” os outros dois. Feedback é um trabalho autêntico que possui mais pontos positivos que negativos e funciona como um ótimo epílogo para a saga dourada do nosso GioGio.

Apesar de ser escrita por outra pessoa, Purple Haze Feedback é uma obra que complementa muito bem o enredo criado pelo Araki-sensei na parte 5. Se é cânone ou não acho que isso é o que menos importa, o relevante é que se trata de uma boa leitura que tem sim seus defeitos, mas se sobressai justo no que o autor mais falhou, tornar Fugo um personagem interessante.

Passados seis meses da queda de Diavolo é Giorno Giovanna o novo líder da organização Passione e sua intenção, ao menos as claras, ao juntar Fugo a outros agentes da gangue, Sheila E e Cannolo Murolo, é derrubar a divisão de narcóticos da máfia que domina a Itália. Fugo conseguirá lidar com seus fantasmas ao provar seu valor em um ato de coragem?

 

 

Esse é o questionamento que o romance visa responder e para isso o primeiro passo dado é construir o personagem que protagoniza a trama. Não que o Fugo de Vento Aureo já não seja um, mas a profundidade que o faltava precisava ser propiciada e Kadano faz isso por meio de uma origem minuciosamente alterada, mas também de trechos reflexivos.

Uma opção válida, visto que demonstrar os pensamentos de um personagem como forma de torná-lo mais complexo é algo que costuma funcionar melhor na narrativa escrita que na narrativa predominantemente visual. Além disso, é uma forma de firmar a escrita do autor, afinal, assim ela nâo se limita apenas ao que já foi feito pelo autor da obra primária.

Em Feedback Fugo é um personagem que tem mais nuances, seus defeitos e suas qualidades são explorados com mais naturalidade, o que não anula a construção satisfatória dos companheiros que o acompanham na missão, diria até que a auxilia pela maneira como os problemas deles acabam dialogando com os do ex-projeto de playboy.

Sheila E é uma moça obstinada até demais que segue Giorno como a um Deus e Cannolo era quase o extremo oposto até conhecer aquele que o tinha na palma de sua mão. Duas almas errantes, assim como Fugo, integrando um grupo inusitado, mas que se prova orgânico ao longo da missão. Diferente do time de Bruno, mas ainda assim um tanto cativante.

 

 

O talento de Kadano para criar personagens e trabalha-lhos em conjunto fica claro com o passar das páginas, tanto é que sua insistência em referenciar a obra original, apelando para quase todas as partes anteriores, parece forçado, um fanservice desnecessário mesmo, porque ele respeita a essência da obra, apenas acrescenta um toque seu a ela.

Contudo, isso também não faz a história se perder, afinal, as ligações são possíveis, algumas inclusive são esperadas, como a relação de Giorno com Jotaro e a Fundação Speedwagon. Por outro lado, qual a necessidade de relacionar um personagem secundário da parte 4 ao vilão do livro? O que isso acrescentou a construção do vilão? Nada.

Aliás, os vilões são todos bem interessantes, mas o principal, Massimo Volpe, me pareceu um pouco vazio. Talvez para corroborar com o que é dito sobre sua personalidade? Talvez. Já Angelica Attanasio é um pouco menos aproveitada do que eu gostaria. Além disso, acho que faltaram páginas para torná-los personagem mais instigantes.

Os Stands de cada um dos novos personagens, sejam mocinhos ou vilões, são muito criativos e têm designs bem peculiares, o que considero algo legal sobre a obra, mas, sejamos honestos, qualquer imagem passa longe de ser um ponto relevante para a leitura. No máximo justificam não detalhar alguns personagens e cenários.

 

 

O que pega mesmo é a história dos personagens, o que eles almejam e como agem em prol disso. Nesse sentido nenhum da vilões é demasiadamente aprofundado, já Cannolo e Sheila têm mini-arcos com começo, meio e fim. Fugo, claro, é quem mais muda ao longo da narrativa, chegando a “evoluir” seu Stand como um reflexo palpável dessa mudança.

Até aí nenhum problema, a forma como ele compreende aquilo que não entendia e se sente impelido a agir diferente ao se dar conta disso é satisfatória, gratifica o tempo gasto pelo leitor, mas há pequenos probleminhas de forma que me encomodaram um pouco ao longo de toda a leitura e claro, acho que ela ficaria ainda melhor sem eles.

Por exemplo, retratar Giorno como um líder sábio, carismático e inigualável chegou a me dar nos nervos porque babação de ovo tem limite. Além disso, as lutas são todas muito rápidas e os clímax muito cortados. Não bastasse isso, Fugo é responsável por exterminar 3/4 do grupo inimigo, o que faz de Sheila E, uma guerreira caracterizada como forte, quase inútil.

Ela ajuda, isso fica claro, mas por que justo as duas mulheres da trama acabam sendo subutilizadas quando a coisa aperta? Angelica poderia ter tido um background de fato e até poderiam ter explorado sua relação com Volpe, já Sheila E merecia brilhar, lidar com um inimigo e explorar ainda mais o seu Stand. As duas ficaram devendo e as lutas como um todo também.

 

 

Em compensação, as reviravoltas mirabolantes tão frequentes em Jojo ficaram de lado e os confrontos foram mais objetivos, verdadeiros embates para decidir qual seria o mais competente na arte do assassinato. Porém, os vilões se dão mal e não teria como ser diferente ao se enfrentar um Stand insano como Purple Haze. Aliás, será que Jimi Hendrix curtiria Jojo?

Pergunto isso porque todos os novos Stands apresentados são referências a músicas do guitarrista e cantor, o que considerei não apenas uma bela homenagem a ele, mas uma forma de atenuar que essa história é do Fugo e que tudo nela foi pensando para levá-lo a amadurecer, a passar de um ponto A a um ponto B. Tudo de acordo com o plano do inigualável chefe da máfia.

Por fim, com mais conteúdo; tanto no que se refere ao desenvolvimento de personagens, quanto no que tece as batalhas e os climaces; creio que a novel poderia ter sido melhor, mas, em todo caso, o desenvolvimento dado a Fugo já é satisfatório e bem melhor que o feito pelo Araki, quer sejam as circunstâncias que o levaram a tirá-lo da trama em um momento tão crucial.

Purple Haze Feedback é um romance divertido, interessante e que dá uma palinha da vida de mafioso do Jojo da quinta parte. É o mais próximo de uma “retratação” por mal uso de personagem que a gente deve presenciar nessa franquia e um exemplo de que não precisa ser cânone para contentar o coração dourado de um fã de Jojo.

Até a próxima!

 

 

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