The Hero Is Overpowered but Overly Cautious — Kono Yuusha ga Ore TUEEE Kuse ni Shinchou sugiru —; que traduzindo fica algo como “O Herói é Extremamente Poderoso, mas Extremamente Cauteloso”; é uma light novel escrita por Light Tuchichi e ilustrada por Saori Toyota.

A obra tem anime marcado para a temporada de outono de 2019 e é exatamente por este motivo que me adiantei e trouxe as primeiras impressões de sua light novel. Um isekai “típico” de forte tom cômico e um herói “peculiar”.

Separo o isekai contemporâneo em dois tipos, os ”atípicos” são aqueles em que mesmo que o protagonista seja extremamente forte, esse não é um fator preponderante na trama, já os “típicos” são exatamente o contrário.

Inclusive, estes têm por predileção não focarem nas adversidades do herói, mas no quão ele é poderoso e tais adversidades são facilmente superadas por ele. A light novel que abordarei neste artigo integra o segundo caso, mas tenta disfarçar isso sob o pretexto da comédia.

Na história acompanhamos Ristarte, a deusa da cura em um mundo espiritual cheio de deuses que precisam invocar heróis e auxiliá-los na empreitada de salvar mundos de fantasia.

Um isekai de invocação cuja desculpa para que o herói seja japonês é até boa, afinal, é um país muito exposto a esse tipo de história, mas me faz questionar quando os isekais passaram a se apoiar tão descaradamente no próprio gênero. Aposto que após o boom de Sword Art Online se isso já ocorria, aumentou e muito.

Mas isso é irrelevante, o importante é que Seiya Ryuuguuin não é de Pégaso, mas é extremamente cauteloso, apesar de ser ‘apelão”, e esta é a piada da obra. Uma piada boa? Uma piada ruim? Tudo depende da execução e acho que Kono Yuusha é tanto ruim quanto bom na forma que aproveita isso.

O primeiro fator que me leva a questionar a piada da obra e seu caráter cômico é que eu raramente ri ao longo da leitura. Não sou tão ingênuo em achar que boa comédia se apoia apenas no riso, mas é que acho difícil de me divertir descompromissadamente quando chega perto do óbvio o que vai acontecer a seguir.

A escrita de Tuchichi é muito previsível na maior parte do tempo. Para piorar ela nem é exatamente ruim, mas limitada e isso dá para perceber não só pela pouca descrição, mas pela pouca variação no que tece as personalidades dos personagens e as situações em que eles são postos.

Acho que a primeira qualidade para qualquer boa comédia é a imaginação de quem a escreve, e com ela vem a capacidade de levar o público ao riso de maneiras inesperadas, mas não menos prazerosas. Eu sinto falta disso nessa novel. Ela acaba se prendendo tanto a estrutura já tão manjada do isekais com protagonista overpower que houve momentos em que até me esqueci que se tratava de comédia.

Contudo, estaria mentindo se dissesse que não me diverti, mas não é como se eu fosse muito exigente. Os capítulos são curtos, apresentam uma linguagem bem acessível, para quem está aprendendo inglês e quer se desafiar um pouco parece uma boa, e não tem grandes problemas de ritmo. Eu só pontuaria que algumas quebras entre cenas não ficam tão claras. Usar asterisco ou espaçamento seria uma saída.

Vou além e diria que a história em si não incomoda muito, é extremamente simples e é fácil de se deixar levar por ela se você não parar para questionar muito. Ainda parando, o protagonista é forte demais e desconfia até da própria sombra, então é de se esperar que sempre esteja três ou quatro passos à frente de seus inimigos.

Aliás, algo que gostei nesse primeiro livro é como a Ristarte reage a personalidade desagradável, inversamente proporcional à beleza, do herói. O livro é todo narrado por ela e se não fosse por esses momentos, que algumas vezes se alternam com constatações de que o herói também tem suas qualidades, me divertiria ainda menos.

Ristarte, aliás, é uma gracinha. Se não curti tanto a escrita, não poderia dizer o mesmo dos desenhos; mas isso não conta para a história, né.

Eu acredito que escrever em primeira pessoa prejudicou a criatividade do autor, fazer isso em terceira pessoa permitiria mais a ele. Mas quando falo de pouca criatividade, me refiro mais exatamente a situações repetitivas que perduram por toda a novel e vilões que posso enquadrar no mesmo problema.

Há três inimigos ao longo do livro e todos eles são vencidos após a sessão de treinos do herói no reino espiritual, não curti essa ida e vinda entre mundos constante na trama, todos eles fazem uma pessoa de refém, conhecida do herói em algum nível, e passam por um boost de poder, como se também fossem cautelosos igual o herói.

O primeiro quesito quebra o ritmo da narrativa. O segundo é tosco, um herói não precisa conhecer a pessoa para salvá-la. O terceiro um clichê usado em demasia.

Acho construções assim bem pobres, porque apenas dão um ou dois retoques a uma situação que teve resolução poucas páginas antes.

Um autor de comédia não pode se apoiar em mini-arcos repetitivos o tempo todo, até porque é informado que Gaeabrande, o mundo para qual o herói é enviado, possui quatro generais a serviço do Rei Demônio e dois são derrotados só nesse volume.

Seguindo esse ritmo acaba no volume 3 e olhe lá. No presente momento a obra se encontra em andamento com 5 volumes, então a criatividade do autor deve “upar”. Todavia, não posso julgar um livro pelo futuro de uma série.

Isso inclusive prejudica a construção de mundo da história. Não conhecemos Gaeabrande, não existe mundo. Ele é visto apenas por meio de momentos pontuais, descrições rasas e pouca ou nenhuma cultura. O máximo de “raízes” que podem ser vistos ao longo do livro dizem respeito a Mash e Elulu, um garoto e uma garota da raça dragonkin que são predestinados a acompanhar o herói na jornada.

Mas, ainda assim, se trata mais da cultura específica de uma raça isolada do resto do mundo. Cultura essa que é pouquíssimo explorada e deixa no máximo a máxima “os fins justificam os meios” como lembrança. Aliás, também deixa um boost para um dos personagens, mas comentar mais seria spoiler.

Não acho que em uma obra que se venda pela comédia o mundo precise ser interessante, mas se os personagens não o são, ou são pouco, seria uma saída. O pior é que isso também mina um pouco a capacidade de paródia da obra, pois não há tantos elementos a serem contrariados e quando há sempre chafurdam na piada.

Não posso negar que há momentos em que ela funciona, ainda mais quando o Seiya tem atitudes anormais para um herói clichê, mas ele sequer é engraçado e os personagens ao redor dele também não, então tudo gira muito em torno do sucesso de sua “cautela”.

Eu não gosto muito disso, acho que isso vai tornar a cautela dele maçante ao longo dos volumes, e ao longo dos episódios do anime, mas, repito, não posso jugar pelo futuro.

De tal forma, nesse volume eu acho que funciona bem e é até uma das qualidades da obra. Vou além e afirmo que talvez o maior mérito do autor seja esse, ter uma ideia para um isekai que ninguém teve, ou se teve fez menos sucesso que a obra dele, até o momento em que a obra ganha um anime e se torna de vez conhecida no mundo.

Não que o sucesso comercial fora de casa seja preponderante para a sobrevivência de light novels e a manutenção de seu autor no hall de autores relevantes, mas com certeza ajuda o suficiente para pesar na balança.

É só observarmos que light novels que vendiam bem passaram a vender ainda mais após terem animações de sucesso e ganharem continuações ao longo dos anos.

Não deve ser esse o caso aqui, mas em uma lista de isekais com características únicas eu com certeza lembraria de Kono Yuusha, o que acho mais que suficiente para que a light novel se mantenha firme e forte e tenha um fim natural.

Enfim, o que mais posso acrescentar sobre a novel? Não foi uma leitura desagradável, longe disso, mas sem dúvidas acho que tinha potencial para mais, só que se eu mudar meu ângulo de observação e encarar a obra apenas como mais um isekai com protagonista overpower e estrutura absurdamente clichê, consigo até achar que ela não é tão medíocre se só focar na piada e não levar nada nela a sério.

O problema é que há momentos em que a narrativa se leva a sério e apresenta personagens ostensivamente torturados física e psicologicamente, o que me parece extremamente desnecessário se pensarmos que o herói é extremamente poderoso, mas extremamente cauteloso e obviamente não vai falhar.

Essas histórias não são criadas para isso. Os personagens relevantes não morrem, não se tem graves traumas sendo superados e muito menos fracassos permanentes. São contos de fadas com um público bem específico em mente.

Se você faz parte desse público, tendo ou não consciência disso, então tanto a light novel quanto o anime, e tem o mangá que ainda não tive oportunidade de ler, são para você. Mas pense em assisti-lo com cautela, pois em um mundo sem magia ela é o seu superpoder.

Até a próxima!

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