Histórias de amor me fascinam, histórias de amor impossível me instigam, histórias de amor à distância me fazem lembrar de experiências pessoais.

Your Name, Kimi no Na wa no original japonês, é a magnum opus de Makoto Shinkai, um filme que engloba muitas das ideias que ele havia explorado anteriormente na carreira, mas tudo com uma roupagem mais pop, mais comercial.

Sem deixar o drama de lado, mas com tom bem menos melancólico, a história de Mitsuha e Taki invadiu não só os cinemas do oriente, mas também as livrarias de todo mundo nesse livro escrito em paralelo com o megassucesso mundial.

E por incrível que pareça, ainda não vi o filme, mas acho que isso é bom, pois assim posso comentar o livro apenas pelo que ele entrega, uma bela história de amor que tem sim seus defeitos, mas esbanja da maior qualidade que eu consigo ver em uma forma de arte.

Na história acompanhamos Mitsuha Miyamizu e Taki Tachibana, ela uma adolescente que vive no interior e quer morar na cidade grande, ele um garoto de Tokyo apaixonado pela arquitetura. Os dois acabam trocando de corpos em um fenômeno cercado de mistérios que une para sempre os seus destinos.

Não acho necessário escrever sobre Makoto Shinkai neste artigo, mas preciso destacar a maior característica de seus trabalhos: o amor impossível, principalmente, o amor à distância.

Seja um drama de slice of life, fantasia ou sci-fi, as histórias dos casais que o diretor conta geralmente não têm um final comum justamente devido a esse detalhe.

Isso é ruim? Isso é bom? Isso é realista e não diminui em nada o potencial dessas histórias de tocar as pessoas, de comovê-las porque o que está sendo exposto ali dialoga com suas experiências de vida.

Pelo contrário, diria até que faltam mais mentes criativas que saiam da “caixinha” na indústria e contêm historias com um significado que vai além de um final feliz.

Na vida real nem todo relacionamento acaba com o casal junto, cada pessoa tem suas circunstâncias e muitas vezes o que era para ser pra sempre não dura até a próxima semana.

É difícil de lidar com isso? Demais, mas se você gosta de animes, do gênero drama e não tem medo de encarar esses sentimentos de frente, vá a fundo nas obras do autor, vale a pena.

E Your Name é um ponto de virada na carreira de Shinkai. Um sucesso comercial? Sim. Uma história simples? Sim. Um “enlatado”? Não, não mesmo, mas para defender meu ponto preciso primeiro escrever sobre a história, né, então vamos nessa!

Duas características que gosto bastante desse livro é que ele é bem dinâmico e meio caótico.

Se não me engano não foi lançado como light novel, mas pode facilmente ser confundido com uma justamente por conta desse dinamismo, pouco foco em descrições e mais nas ações dos personagens e seus diálogos.

Além disso, o livro é todo narrado em primeira pessoa, alternando entre os dois protagonistas, o que o confere uma pegada mais intimista e que privilegia a objetividade. Não por acaso tem menos de 200 páginas no total.

Quanto ao caos a que me referi, tal elemento fica evidente nas trocas de corpos que até se alternam, mas demoram um pouco a engrenar e não são tão lineares.

Há o susto inicial que vem com a consciência do evento sobrenatural e ao passo em que ele se dilui os personagens passam a se acostumar ao acontecido, além de dialogar enquanto o vivenciam.

É dessa amizade um tanto quanto peculiar que o laço entre Mitsuha e Taki nasce e se fortalece, apesar de que, excluindo o fator sobrenatural, é como qualquer outro relacionamento a distância tão comum nos dias de hoje; claro, dadas as devidas proporções.

E era nesse ponto que eu queria chegar, pois tirando a troca de corpos, que só atenua a intimidade criada entre os dois, o que temos é um relacionamento a distância que ganha ares românticos com o desenrolar da trama, do tipo que você já viveu, está vivendo ou conhece alguém que viveu/vive. Acertei em cheio?

Eu me enquadro no primeiro caso e confesso que até um tempo atrás, antes de ler Your Name, não me sentia à vontade para falar do assunto. Contudo, por que seria vergonhoso falar para alguém que você amou uma pessoa que não conheceu pessoalmente?

Sei que muitas pessoas nessas circunstâncias acabam se conhecendo, mas a relação se desenvolve antes disso, e é esse o ponto do amor à distância, do amor que não precisa do contato físico para acontecer.

Você pode considerar o que a Mitsuha e o Taki têm um “contato”, e até é, mas é tão indireto, tão surreal, que não muda muito a situação, além de que eles nunca se comunicam ao mesmo tempo, ao menos não antes da reta final. Sempre há uma “distância” na relação deles.

O fato é que existem pessoas mundo afora que compartilham de experiências similares em algum nível com as dos protagonistas e esse é um detalhe interessante que facilita a torcida pelo sucesso do casal, porque nesse século mais pessoas são capazes de levar a história de Your Name a sério.

A internet e todo o avanço tecnológico que está aí possibilita isso.

Eu sou uma dessas pessoas, a minha história de amor à distância pode não ter dado certo, mas torci até a última linha pela Mitsuha e pelo Taki, me cativei pelo drama pessoal dela e pelas aspirações dele.

Sorri, chorei, me diverti e, principalmente, o “Se Eu Fosse Você” japonês me ajudou a entender o quanto foi importante para mim, o quanto foi verdadeiro, o que eu vivi em meu próprio relacionamento a distância.

Quando um livro, um filme, um anime consegue mexer com o seu emocional ao ponto de qualquer defeito dele se tornar pouco relevante perto do conforto que ele traz é porque a arte alcançou seu objetivo, o de proporcionar algo de relevante, até mesmo edificante, para a vida da pessoa.

Eu acho que essa história faz isso de uma forma peculiar, afinal, o sobrenatural se faz preponderante, mas que funciona muito bem.

E não é como se eu não tivesse percebido defeitos na leitura ou não houvessem pontos questionáveis. Eles existem, tanto é que vou abordá-los agora e, sendo assim, entrarei no campo dos spoilers, fique avisado. Apesar de eu duvidar que você não tenha visto o filme.

Quero crer que nenhum dos dois ter percebido a diferença de três anos se deveu a algum fator místico derivado do fenômeno, porque é difícil de acreditar que nenhum deles tenha visto uma data em todas as trocas que aconteceram. Não é explicado, então no máximo posso me dar o direito da dúvida e me incomodar mesmo assim. Pode ser considerado um furo de roteiro, afinal.

Pode ser que o filme explique melhor? Pode ser, mas duvido. Se você souber e quiser me contar, fica à vontade.

Outro ponto que não curti tanto foram as poucas páginas. Esperava mais interações entre os dois, mas experiências de um no corpo do outro. Contudo, entendo que foi o suficiente para um filme e acredito que nesse sentido as mídias não se diferenciem muito.

Mas uma diferença que torço para que exista é o tamanho do clímax. O livro não conta como a Mitsuha salvou a vida de centenas de pessoas da queda do cometa e achei esse um corte abrupto. Talvez essa parte ainda não estivesse concluída enquanto o Shinkai escrevia o romance? Não duvido ser esse o caso.

Ficou faltando esse pedaço e isso não estragou a experiência para mim, mas sem sombra de dúvidas foi uma decisão questionável do autor.

Ademais, não vejo grandes problemas no livro. Consegui me importar com os protagonistas e os amigos deles, inclusive, os amigos da Mitsuha, a Saya e o Teshi, foram mais e melhor desenvolvidos do que eu esperava.

A irmã da Mitsuha é uma fofura, qualquer “desenvolvimento” do pai foi prejudicado pelo corte no clímax e a avó tem um papel importantíssimo, afinal, ela ensina ao Taki, no corpo da Mitsuha, o que é musubi e esse conhecimento é crucial tanto para aquele que é o melhor momento da história, o encontro dos dois a luz do crepúsculo, quanto para o final em aberto nem tão aberto assim. Em todo caso, um final feliz.

Toda a jornada do Taki após a troca de corpos ser interrompida pela queda do cometa e a experiência surreal de morrer, mas não estar morta, que afeta a Mitsuha são situações mais que adequadas para reforçar a ideia de que os laços que unem as pessoas têm poder, o que também pode e deve ser relacionado ao akai ito, o fio vermelho que conecta o destino de duas pessoas que se amam.

É ligando o tradicional e o moderno, o velho e o novo, o passado e seu futuro, que Your Name conta uma história de amor que nasce de um modo encantador e ao mesmo tempo tão real, da convivência, de conhecer uma pessoa como ela verdadeiramente é.

E nesse caso, é como elas são por dentro e por fora, com seus defeitos e qualidades, com tudo de bom e de ruim que cerca suas existências.

A obra é muito feliz em fazer com que a pessoa que está do outro lado da página se envolva, e acredito que também faça isso com a pessoa que está do outro lado da tela, se envolva ao ponto de se convencer que o mesmo fenômeno sobrenatural deflagrado com a queda de um cometa pôde ser contornado devido a força do musubi, os laços marcados na alma.

É bem mais fantasioso do que as narrativas do Shinkai costumam ser, verdade, mas se você se apegar a como a mensagem que a obra quer passar pode ser trazida para o nosso cotidiano, para a vida real, acredito que as salas de cinema de praticamente toda a Ásia não lotaram por acaso.

Your Name cativou milhões porque é uma baita de uma história que abraça o blockbuster sem perder originalidade, beleza e, principalmente, a capacidade de manter um criador com os pés no chão, fazendo o que ele faz de melhor, que é contar histórias de amor impossível, de amor à distância, que tocam os corações das pessoas. É isso o que eu considero mais importante.

Ler a versão escrita de Your Name foi uma experiência muito gratificante para mim. Sei que foi uma experiência diferente para você e acho a forma como um se relaciona com a arte algo fascinante.

Meu nome é Gabriel.

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