Assassins Pride é mais um anime adaptado de light novel a sair na temporada de outono de 2019, mas não um isekai, para variar um pouco. Sua estreia teve pontos positivos e negativos, como tudo na vida.

Enfim, vamos ao texto?

Na história acompanhamos Kufa, um tutor incumbido de orientar uma jovem nobre considerada um problema devido a sua incapacidade de usar magia, o que distingue os nobres nesse mundo. Só que há um segredo por trás dessa relação, Kufa é um assassino que também recebeu a missão de dar cabo da vida de Melida, suspeita de ser filha de um caso da mãe, caso esta não tenha o progresso esperado.

A luta inicial foi muito bem animada, fez jus ao que o público deveria esperar de uma estreia e até anima para as cenas de ação do anime. Uma história de magia e assassinato tem que ter boa ação, né?

Boas cenas de ação, aqui vamos nós?

Quanto ao mundo, a breve explicação dada sobre ele já o distanciou de um mundo genérico de fantasia, o que achei positivo, mostra que o autor tem o mínimo de criatividade necessária para distinguir um pouco sua história dentro do gênero. Além disso, as características desse mundo podem ter certa relevância para o desenrolar do plot, como o objetivo da heroína, então espero por algo dele.

Achei a primeira frase do herói ao chegar à cidade boba e a breve interação dele com a garota que mais tarde deve ser integrada a trama (sempre rola isso) chata, mas não tenho muito do que reclamar, me incomodou mais a cena de princesa nos braços do príncipe que ocorre pouco após a chegada do Kufa a mansão da aluna.

A cena até que foi bem-feita, visualmente a direção não deixou a desejar nesse episódio, mas precisava mesmo de toda essa breguice? Esse tipo de coisa ainda encanta alguém?

Ele pode não ser tão mais velho que ela, mas, ainda assim, esse tipo de cena me incomoda.

Enfim, não seria inesperado se a protagonista sofresse bullying (e de uma garota chamada Nerva, deve ser por que ela dá nos nervos?), tivesse um sonho (entrar para a guilda de maior prestígio desse mundo) e fosse impedida de concretizá-lo pela condição que fez o Kufa se tornar o tutor dela em primeiro lugar; o que eu não esperava era a prima que faz tudo o que ela não consegue fazer. Se o objetivo era judiar um pouco mais da personagem (e era), então o objetivo foi alcançado com sucesso!

Não que isso seja exatamente um problema, mas se a protagonista é tão mazelada assim, apesar de ser uma nobre a qual não falta nada de material, eu esperava que ela tivesse formas de lutar contra isso, formas mais práticas. Ela demonstra convicção no final do episódio, e isso é bom, mas insuficiente.

Não entendi muito bem os focos incomuns de câmera na cena clichê em que a prima vai se retratar com ela. Repito, a direção foi muito boa no quesito visual, por isso acabei achando essa cena deslocada.

Concordo.

A situação dos usuários de magia foi esclarecida com a narração do Kufa. Nesse mundo um nobre só é nobre mesmo se tiver magia, por isso o elemento “assassinato” faz sentido. Não há nada pior que a vergonha de um familiar sem magia, é o mesmo que admitir que se trata de um parente ilegítimo, e a gente sabe como a nobreza valoriza sua reputação em qualquer mundo de ficção. Até mais que a vida.

Vendo toda a desgraça que acomete a mocinha o herói (ou seria “anti”?) opta por matá-la logo, um desdobramento possível diante da missão que lhe foi dada, mas não obrigatório. Não porque ele se compadeceu com o orgulho da menina. Se ele tem seu orgulho de assassino, ela tem seu orgulho de Paladina, apesar de não ser uma Paladina. Aliás, o que rola em seguida sacramenta sua origem plebeia.

Ela parece ter convicção, “só” é incapaz de fazer algo de relevante por si mesma.

Não tenho nada contra o Kufa ter decidido ajudá-la, tenho contra a forma que foi dada essa ajuda e não gosto de ela ter sido a donzela em perigo o episódio inteiro. É sério que essa menina tem vontade, mas não consegue fazer nada de relevante por si mesma? Essa não é uma forma perigosa de construir uma heroína tão jovem? Não fica subentendido o quanto ela pode acabar dependendo desse príncipe?

Achei que o Kufa mudou de opinião muito rápido sobre a possibilidade de matá-la, apesar de já ter ido preparado. Ou foi o caso dele ter sido convencido vendo a resistência dela, o que só ocorreu por ele já ter sido cativado pela garota?

Confesso que não vi tanto motivo para isso (o Kufa deve ser lolicon e ter uma queda por loiras), mas acho que também não posso afirmar que as breves demonstrações de convicção da parte dela foram insuficientes, nem o pouco tempo que passaram juntos. Ela é linda e é o tipo de personagem feita para sugar toda a compaixão do público, que dirá do protagonista (lolicon).

Provável romance cujo cerne é o capricho de um homem? Parece que já vi essa história antes…

Não gostei da forma como ela foi “iniciada” em magia, porque, de novo, ela é ajudada. Apesar de que, só depende dela tornar isso em algo positivo, então vou me dar o direito de ver o que vai acontecer antes de julgar mais severamente.

Ela me lembrou o Deku de Boku no Hero Academia, só não curti ela não ter sido capaz de fazer nada mesmo, como derrotar um daqueles monstros sozinha, salvar uma pessoa ou algo do tipo. Ter vontade não é tudo, né. Enfim, tenho sentimentos mistos sobre esse ponto.

Pareceu haver um beijo, mas isso ficou em segundo plano, então não vou me alongar em considerações sobre isso. Prefiro comentar o quanto achei brega a cena em que ela cai e a cena em que ele se ajoelha. Isso leva qualquer telespectador a pensar em um possível, na verdade provável, romance entre os dois. E, novamente, tenho sentimentos mistos quanto a isso.

A diferença de idade deles não é tão grande e tenho certeza de que um romance entre os dois não seria mal visto pela sociedade (não pela idade, talvez pela classe social), o problema é a forma dependente como a história de amor se iniciaria. Você parou para pensar que a vida da garota dependeu única e exclusivamente da escolha dele, de seu capricho, que não teve um elemento para conferi-la o mínimo de autonomia?

A música final foi bonita e gostei do momento de “troca de pele” dela. A direção acertou quando quis, disso não posso reclamar, acho que devo reclamar mais do roteiro.

A direção apenas deu as cenas bregas, e as cenas normais, o cuidado visual e sonoro adequado, inclusive fazendo boas escolhas de quando soltar um diálogo expositivo e de quando deixar a coisa fluir. Só a critico mesmo porque não importa o quanto ela seja boa, ela vai ser falha se a história apresentada tiver problemas (e essa teve).

MAIS BREGA IMPOSSÍVEL!!!

Por fim, o Kufa dá uma de Lelouch da vida, expõe o plano complexo que bolou para ajudar a garota e, ainda assim, que a possibilidade de matá-la existe, o que, mais uma vez, me deixou com sentimentos mistos, porque ao mesmo tempo em que isso faz todo o sentido possível dentro do contexto apresentado na trama, reforça a minha impressão de que a vida da menina só foi mantida, que ela só ganhou a sua chance, por um capricho dele, o capricho de um homem mais velho capaz de decidir pela vida dela quando bem entender.

Eu não gosto desse tipo de construção, entendo que ela ainda é muito jovem, que não é o fim do mundo ela não ter total autonomia sobre a própria vida, mas ela conhece o cara em um dia e em menos de 24 horas já tem sua vida nas mãos dele? Não é um laço amarrado muito rápido não?

Mesmo que sem querer a mensagem que o anime passa é negativa e não posso deixar de notar isso, além de que, a forma brega, antiquada mesmo, de apresentar muitos dos momentos chave desse episódio remetem a isso, a essa época em que a mulher era considerada a costela do homem, em que sua vida era uma posse do marido, seu “dono”.

A uma época em que as mulheres não tinham voz, direitos, em que suas vidas, e todas as suas realizações, eram censuradas pelos caprichos dos homens; quer fosse um pai, um irmão ou um marido. Esse tipo de história escrita em pleno século XXI não me convence. Não mesmo!

Me dou o direito da dúvida, o direito de ver para crer se o anime vai pelo mal caminho ou foi apenas uma abordagem inicial questionável. Por fim, em se tratando das minhas primeiras impressões sobre o anime, gostei da direção e um pouco da protagonista, temo o roteiro e os caprichos do protagonista. Espero estar exagerando, espero mesmo.

Até a próxima!

Ah não… É o Lelouch agora?

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