O segundo episódio de Blade reafirma e materializa o estilo que o primeiro sinalizou. O anime tem um gingado, uma dinâmica que balança entre cenas rápidas e diretas, sendo minimalista na exposição dos contextos e nos próprios diálogos. Os personagens bamboleiam entre as cordas que amarram habilmente os diversos momentos do episódio.

A direção escolheu transcorrer com mais calma na primeira metade do episódio, nos apresentando um personagem chave na história, constantemente utilizado como refúgio. E para dizer a verdade, provavelmente um dos samurais mais fortes e habilidosos do cenário, se não o mais.

 

Sori. Da esgrima à pintura em esgrima

 

Mestre Sori, antigo amigo do pai de Rin, escolheu dedicar a vida ao aprimoramento de sua arte, e como artista, decidiu abandonar e trair muitos de seus antigos companheiros. Inescrupuloso, porém nostálgico, ele recebe e ouve a jovem Rin. E até mesmo lhe concede uma pequena fortuna devido às pontadas de sua consciência em deixar a jovem na mão.

 

 

Suas habilidades artísticas estão em xeque, ele se sente inseguro quanto aos resultados desejados. Por outro lado, ele também tem o rabo preso para com o xogum, sendo um servo e espião do poder monárquico. Para chegar a essa posição e ter um estilo de vida que lhe garantiria a liberdade artística que desejava, ele foi obrigado a evoluir como guerreiro, e embora isso seja apenas pincelado no episódio, a sua habilidade artística estava em conflito e enferrujando, justamente por ele ter desenvolvido as suas técnicas de esgrima como uma extensão de sua arte. O resultado de não praticar a esgrima por tanto tempo, afetou até mesmo o seu senso estético artístico. E é hilário, ao mesmo tempo que patético, o momento onde ele redescobre que a sua vocação está completamente corrompida pela sua profissão inicial de artista marcial, samurai e guerreiro.

 

Ó céus, ó vida!

 

Os espadachins da Itto-Ryu, farejando e rastreando os assassinos de um de seus companheiros, Kuroi Sabato, o poeta doentio do primeiro episódio, acuam Rin em um ataque surpresa. Essa cena é muito divertida, pois Manji de fato estava se empenhando em ser um guarda-costas descente, e surpreende os atacantes com um contra-ataque. Prestem atenção a essa batalha, ela realça com grande acerto o estilo que o anime escolheu para retratar os combates. Uma decisão ousada, que mais para a frente pode levar a críticas devido à velocidade e teatralidade com que as lutas provavelmente se apresentaram.

 

 

Nesse episódio também temos a apresentação de um outro personagem importante na história. Taito Magatsu, espadachim que carrega um ódio imenso da classe samurai. No início do episódio um flashback introduz o motivo de seu rancor, e como protagonista da segunda metade do episódio do anime, ele explica o significado, e pincela o motivo, de seu percurso como membro da Itto-Ryu. É um dos personagens mais carismáticos da obra.

Magatsu porta uma espada roubada do dojo de Rin. Ela o encontra por acaso na loja de um afiador de espadas, mas não consegue convencer o novo portador da arma a vendê-la.

 

 

Ao voltar à hospedaria e conversar com Manji, finge ter superado as feridas que se reabriram ao encontrar a espada. Mas quando baixa a guarda, chora.
Manji parte ao encontro de Magatsu, pois mesmo se fazendo de durão, ele se comove com os sentimentos retraídos de Rin. Devo dizer que os diálogos e a personalidade que Manji está demostrando até o momento, estão muito condizentes com o clima e as atitudes dele no mangá! Na verdade, a caracterização dos personagens, em geral, está muito boa mesmo.

 

 

Magatsu aceita combater o famoso matador de 100, e ele tem que vingar os seus companheiros assassinados, mesmo que no fundo não pareça realmente se importar com eles.

É uma luta rápida, conclusiva, direta, seca, e assim como as outras, não tem um impacto dramático ou uma elaboração romântica. A fórmula que a equipe escolheu para retratar os combates, acerta ao escolher a dinâmica e o tempo, mas peca ao não nos convidar a sentir, os combates não transmitem emoção. Acho que isso pode se tornar uma falha constante da direção, que escolheu ser pragmática e objetiva ao adaptar os momentos de maior tensão.

 

 

Sinto que o anime ainda está tentando se encontrar, procurando as palavras certas, no sentido de descrever os momentos de clímax e de enfrentamento. Talvez isso melhore no decorrer do desenvolvimento da animação, sendo que nesse episódio, a primeira metade acertou nesse sentido, e a segunda não tanto. O anime precisa amadurecer apenas nesse quesito, pois a animação contínua muito boa, a trilha sonora também está legal, sendo usada de maneira pertinente. A abertura do anime é linda, as cores estão plenas e opacas, adequadas à ambientação, mas o ritmo escolhido para retratar o drama peca por não se destacar, ou seja, ele é engolido pela escolha por parte da direção em enxugar o anime. Literalmente, o anime está “salgado”.

 

 

Concluo que foi um bom episódio, mesmo que com as dificuldades em efetuar a transição de momentos mais calmos para momentos de maior tensão. Espero que ajustem o drama necessário do anime, quem sabe usando a trilha sonora de modo mais contundente.

 

 

Ou mesmo abracem de vez o estilo que já estão desenvolvendo, com um ar mais gangster e cínico, que é o estilo que melhor se contrapõe a personalidade do Manji. Sendo o drama, a emoção e o ódio, um estilo que melhor se contrapõe a personalidade da Rin.

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