Diferente de Shoumetsu Toshi, uma produção recente do Madhouse, No Guns Life retoma o padrão de qualidade do estúdio, um dos mais tradicionais da indústria dos animes, e entrega um primeiro episódio bem satisfatório dentro da proposta. Entre armas e rosas, revólveres e pistolas, eu fico com No Guns Life!

Um mundo pós-guerra em que pessoas recebem implantes mecânicos dos mais diversos tipos é algo que naturalmente atrairia minha atenção, o protagonista da história ter um revólver no lugar da cabeça nem se fale.

Inui Juuzo é um Extended (como vi em inglês não sei como traduziram), um humano com um implante mecânico bem peculiar que ajuda a resolver todo tipo de caso envolvendo seus semelhantes, e não é só porque ele tem uma arma no lugar da cabeça, o cara é casca grossa demais, um ex-combatente de guerra.

A cena do protagonista fumando e recebendo um beijinho de agradecimento no metal me colocou fácil no episódio, além, é claro, do visual mais acinzentado, meio mórbido, que casa bem com o que é dito sobre o mundo após uma guerra, esta que tanto promove os avanços tecnológicos quanto traz a calamidade.

Não é fácil sobreviver em um mundo assim, mas é justamente por isso que é bom acompanhar a obra pelo ponto de vista de Juuzou, um sobrevivente que certamente tem mais história para contar do que foi revelado nessa estreia e não segue cegamente o sistema vigente, mas também valoriza a vida estável.

Até revólver ganha beijinho e os otakus não.

É aí que um Extended procura Inui para oferecer um serviço e a trama anda, muito bem por sinal já que não só o problema apresentado oferece bem mais do que o exposto em um primeiro momento (uma explicação mais simples seria até sem graça), como é bem fácil simpatizar com o protagonista.

Ele tem sua própria vida e valoriza ela, mas sabe ouvir atentamente e decide rápido o que fazer, agindo de acordo em seguida. Juuzo demonstra experiência para lidar com o tipo de situação comum a um “faz tudo” e é isso o que o público tem que esperar dele mesmo. Ele é um protagonista adulto, afinal.

A vilã apresentada nesse episódio tem um decotão daqueles e um design bem descolado (aliás, adorei o que vi dos personagens na abertura), mas não só isso, ela é forte, abusada e esperta (ainda que não tanto quando o homem revólver), o tipo de antagonista que casa bem com esse tipo de história.

Uma mulher sexy sem ser exatamente vulgar em uma história que mexe com temas pesados, mas teve seus momentos de descontração pontuais nessa estreia. Só lembrei do Josuke quando ele ficou fula da vida com a provocação. Foi bobo, mas, que homem “feito” não é um pouco infantil, né?

Não fosse o caso ele não teria ficado envergonhado com a bitoca na “bochecha” no começo do episódio, o que, para um cara com a cabeça que tem (literalmente), eu entendo, entendo a pouca “malícia” dele para esse tipo de coisa. Em todo caso, o mais relevante sobre essa parte foi outra coisa.

É fanservice que você quer? É fanservice que eu quero.

A luta foi breve, mas bem animada e quase me empolgou, por outro lado, curti a interferência do Extended e principalmente o desfecho. Homens adultos também perdem na vida real, mesmo com ajuda, não são super-heróis de battle shonen que podem até perder, mas vencem muitas outras antes.

No fim das contas foi o que aconteceu, devido tanto as ações da falsa freira (que claramente não é apenas um artifício de erotismo ambulante) quanto aos princípios do protagonista. O público quer torcer por personagens que tem convicção e assumem os efeitos-colaterais disso, como arriscar a própria vida.

Não dizem que quanto maior o risco assumido maior é a recompensa? Mas, claro, não se trata apenas de arriscar, mas também de ter sagacidade e inteligência para aproveitar uma situação desvantajosa ao seu favor e o Juuzo fez bem isso, o que, aliás, estendeu esse bom arco introdutório.

Acho melhor assim, pois dá tempo suficiente para resolver melhor a situação e eleva o nível de dificuldade da missão. Depois que o garoto explica as circunstâncias dele fica claro o quão difícil seria resolver tudo em uma única luta, ainda mais porque ele vai se tornar um aliado do Inui, a abertura mostra.

Há uma forma até “fácil” de resolver a situação, mas para negociar a liberdade do garoto em troca do silêncio sobre os crimes da empresa ele precisa da vítima e também provar que é uma ameaça real. Nesse cenário os dois se tornarão um alvo ainda mais visado, mas deve ser isso ou nada, né.

A curiosidade e a crueldade humana não conhecem limites.

Inui nutre certo ódio pela Berühren e não vai dobrar caminho se for para prejudicar a empresa. Sendo assim, faz ainda mais sentido ele comprar essa briga, não é só por ter se sensibilizado com a história do garoto, apesar de que a história de vida dele já me pareceu motivo mais que suficiente para ajudá-lo.

Aliás, se eu aceito um mundo em que pessoas podem ter revólveres no lugar da cabeça (nem sei onde está o cérebro, mas imagino que esteja dentro da arma) posso aceitar um mundo em que dê para controlar um Extended a distância como o garoto faz. Quando o anime é bom dá para aceitar isso, né.

Tirando figurantes em momentos irrelevantes e um ou outro detalhe a animação foi muito boa, nem parece o mesmo estúdio que fez o desastre visual da primavera que citei no início do artigo. Trilha sonora, direção, roteiro, todo o resto também fluiu de acordo. Foi uma estreia bem produzida e prazerosa de ver.

Por esse episódio dá para esperar ainda mais do anime. Uma dose boa de seriedade, brincadeiras aqui e acolá, boas cenas de ação e personagens interessantes e carismáticos. O absurdo você deve aceitar na estreia, feito isso fica mais fácil de aceitar o inesperado e até se surpreender positivamente.

Assista No Guns Life, o anime terá um cour agora e outro em abril de 2020, então deve conseguir contar muita história. Eu quero ver quem vai puxar o gatilho do protagonista e muitas outras coisas bem mais bizarras do que puxar o gatilho da cabeça de alguém.

Até a próxima!

Parece que é hora da revanche!

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