Hoshiai no Sora – ep 5 – Família, família e o divã do Touma
Bom dia!
Depois da forma tensa como o episódio anterior terminou, foi uma semana horrível esperar pelo quinto!
E para piorar, quinta-feira, dia em que o anime é transmitido normalmente, chegou a notícia de que o episódio seria adiado por causa de uma droga de um jogo de beisebol que demorou mais do que deveria. Eu passei a noite acordado e ele ainda não havia saído, então era verdade, sem Hoshiai no Sora semana passada e sem artigo na sexta-feira.
Exceto que sexta-feira o anime foi transmitido. Poxa vida, se tivessem dado a notícia direito eu teria tido menos problema. Analisa aqui comigo: estou cobrindo cinco animes, dos quais três saem na quinta-feira: além desse, No Guns Life e Psycho-Pass 3. Beastars não está sendo transmitido em streaming nenhum, então dependo da boa e velha fansubagem, que costuma estar disponível entre quarta e quinta.
E sexta-feira começa a correria: tenho artigos sexta, sábado, domingo e segunda. Fazer o quê, não é? Sexta-feira sem artigo.
Mas se eu soubesse que Hoshiai simplesmente sairia atrasado, teria adiantado um dos demais artigos e esse artigo já teria saído noutro dia.
Como Vinland Saga (de domingo) também não saiu semana passada, e hoje seria o dia de seu artigo, então vai hoje meu artigo de Hoshiai no Sora.
E foi tensa mesmo a treta com o pai do Maki, hein?
Para começo de conversa, admito que não esperava que o Maki fosse se abrir. Ele sempre me pareceu do tipo que é bastante reservado, mas, veja só, não é o caso. Ele certamente sente vergonha de falar sobre certas coisas, mas quem nunca?
O que não quer dizer que o Maki se abrir para o Touma fosse algo que pudesse funcionar de qualquer jeito. O anime foi bastante sensível com a situação e por isso ela foi tão verossímil.
Maki tenta esconder, mas o Touma percebe que há algo de estranho. Sem conseguir inventar uma desculpa, Maki admite tudo para Touma reservadamente, depois de um pouco de pressão.
E essa era a hora que o Touma poderia recuar e se assustar, ou dar conselhos inúteis, em qualquer caso fazendo o Maki morrer ainda mais de vergonha e se arrepender, mas o presidente do clube de soft tênis não hesita por um instante sequer. O Maki, por sua vez, fica parecendo uma criança perdida o tempo todo.
Na hora de confrontar o pai do amigo, Touma foi temerário demais. Não teve receio em ameaçar matá-lo e não pensou duas vezes antes de contar seu nome completo. Vindo de qualquer outro personagem soaria estranho, mas o Touma já está bem estabelecido como uma pessoa agressiva e impulsiva – não apenas “nervoso”.
Tudo funcionou, foi tudo muito bem escrito do começo até o final da sequência, que termina com o Maki, que agora já sabemos que não é tão durão assim, desmoronando e abraçando o Touma emocionado, chorando, agradecendo.
Foi por isso que ele esperou todos esses anos: alguém que enfrentasse seu pai e o botasse para fora de casa. A ação foi estabanada e perigosa para o Touma, que pode vir a sofrer as consequências disso ainda, mas Maki está tão sobrecarregado de emoções no momento que nem percebeu.
E o Maki não foi o único que procurou o Touma para, digamos, aconselhamento familiar. Rintarou depois se abriria também para o amigo.
Felizmente o caso de Rintarou é muito menos grave, e resumidamente ele tem apenas um problema sério de insegurança. Ele se sente inadequado, incapaz, o que é muito irônico porque ele é um garoto mais competente do que a média. A cena em que a professora pede para ele resolver uma equação na lousa demonstra isso.
É claro que não dá para comparar assim de forma leviana, “ah, o caso do Rintarou é só na cabeça dele então tá tudo bem”. Cada um sabe a cruz que carrega, sofrimento é uma experiência eminentemente subjetiva. Para Rintarou, sua dor é a maior do mundo.
De todo modo, não foi por acaso que Maki e Rintarou se abriram para Touma no mesmo episódio. Não foi só porque precisava aparecer em algum momento, então que fosse agora. Há um paralelo forte entre os dois.
A insegurança de Rintarou nasceu em um momento específico: quando seus pais revelaram que ele era adotado. Como eles choravam, provavelmente preocupados que o filho querido pudesse passar a rejeitá-los, querer conhecer a mãe biológica ou coisa do tipo, Rintarou entendeu que eles estavam arrependidos de tê-lo adotado.
Nota como ele conseguiu entender exatamente o oposto? Para o Touma e para nós, de fora, o absurdo é auto-evidente, mas só Rintarou estava lá, apenas ele teve aquela experiência, apenas ele sabe o que ele pensou e o que ele sentiu. E esse foi o resultado.
Rintarou foi abandonado por seus pais biológicos e adotado por um casal que o ama, ainda que ele não entenda isso.
Enquanto isso, Maki é o exato oposto. Seu pai provavelmente nunca o amou, mas mesmo assim não abre mão de seus direitos parentais.
A seu modo, ele adora Maki também. Adora maltratá-lo e torturá-lo, quero dizer.
Por que seu pai é assim, em todo caso? Eu não sei se o anime irá desenvolver, mas posso especular pelo pouco que foi revelado. Acredito que ele e sua então esposa (talvez namorada ainda?) tiveram um filho muito cedo e precisaram largar tudo o que vinham planejando para o futuro e construir logo uma casa.
Ela conseguiu um emprego, ele não – talvez por má vontade, talvez por azar. Então, por pura necessidade, ficou combinado que ele ficaria cuidando da casa e ela iria trabalhar. Essa inversão dos papeis de gênero tradicionais deve tê-lo feito se sentir emasculado, o que levou a uma decadência progressiva que culminou com a violência contra o próprio filho.
Em todo caso, certamente Maki preferiria ser adotado a ter um pai assim. Não duvido que ele ame a mãe, então não é mesmo uma escolha que ele faria conscientemente, mas talvez no fundo, bem no fundo, se ressinta dela também por não conseguir fazer nada para frear seu pai – bem pelo contrário, ao deixar dinheiro em casa ela incentiva que ele continue indo lá. Só que nunca foi pelo dinheiro, e Maki sabe disso.
Rintarou jamais iria querer viver com seus pais biológicos se fosse para ser assim, provavelmente é o que Maki pensaria se soubesse de sua história. Com certeza foi o que Touma pensou, por isso exortou Rintarou a não contar sua história pra o Maki.
Esse insight do Touma serve de pista para o problema que ele próprio tem com sua mãe, em casa. Ele não pareceu particularmente abalado pela história do Rintarou, mas acha que o Touma poderia se sentir assim. Isso não é suficiente para decifrar a circunstância do Touma, mas permite filtrar as possibilidades um pouco melhor.
Há a hipótese correndo por aí desde o primeiro episódio de que ele talvez não seja filho biológico de sua mãe, que seria mãe de verdade apenas de seu irmão mais velho. Acredito que a forma como ele reagiu a um caso de adoção indica que esse não deva ser o caso dele: ela é, sim, sua mãe biológica.
Os casos de Maki e Rintarou formaram o bojo do episódio, mas não foram os únicos com o tema “família”, proeminente em Hoshiai no Sora desde o primeiro episódio.
Tivemos um breve interlúdio com a presidente do Conselho Estudantil, Kinuyo. Ou Ruriha, segundo sua mãe. Ou Kaori, segundo ela mesma. Da onde vem essa crise de identidade toda?
Claro, das suas relações familiares. Kinuyo é o nome que sua vó decidiu, sem consultar a mãe, que queria que ela se chamasse Ruriho, motivo pelo qual ela a chama por esse nome quando estão sozinhas. Em uma disputa de poder para ver quem decide o futuro da herdeira de uma família podre de rica, mãe e avó (provavelmente sogra) não se entendem e nunca cogitaram perguntar para a menina o que é que ela prefere.
Eu fiquei sob a impressão de que ela não quer nada de grandioso que as duas mulheres planejam para ela. Kinuyo queria ser só Kaori, uma menininha fofinha que come doces gostosos, veste roupas bonitinhas e frequenta uma escola feminina.
Como a herdeira de seu pai, porém, ela aprendeu a ser e deve se portar como uma pessoa determinada, incisiva, e essa é sua persona como presidente do conselho estudantil. Vai ser difícil para ela conseguir deitar no divã do Touma, ou qualquer divã que seja.
Felizmente nem todas as famílias precisam de divã, e na cena mais fofa do episódio, totalmente gratuita e sem contexto, Shingo e sua irmãzinha dançam em casa. Enquanto assistiam um anime de garota mágica? Não há pista nenhuma, mas aposto nisso.
Para além do tema “família”, o episódio teve ainda mais algumas pequenas coisas notáveis. A primeira foi quando um garoto do clube de atletismo entrou no vestiário e tentou zombar do Yuuta por ele ser gay, e foi rechaçado pelos demais membros do clube de soft tênis.
Demonstra não só aceitação pelo Yuuta (eles percebem e falam que ele é “mais sensível”) como a união do membros do clube, algo inimaginável há poucos episódios.
Quero dizer, desde o começo eles são unidos, não estão todos juntos à toa, mas daí a sair de sua zona de conforto para se arriscar por um colega de clube vai uma boa distância. Poderiam muito bem ter deixado rolar e só consolá-lo no final.
Mas assim como Touma escolheu correr risco pelo Maki, eles escolheram correr risco pelo Yuuta.
Por fim, provavelmente venho comentando isso desde sempre, mas a Kanako continua grudada no Maki.
No começo da janela, depois de longe, e agora ela praticamente já se tornou membro extra-oficial do clube. Fica na lateral da quadra, junto com os garotos mesmo.
O Yuuta percebe que ela está lá só por causa do Maki. E todo mundo provavelmente já percebeu isso também. Mas eles são crianças de 14 anos e tratam do tema como crianças de 14 anos tratariam de verdade: negando (a Kanako) e se fazendo de difíceis (o Maki).
Em comparação com episódio anterior, a deixa desse foi bem menos tensa. Um maluco lá ameaçou bater neles se jogarem mal ou alguma porcaria assim.
Será que irão jogar mal?
Até o próximo episódio e artigo!