O anime de hoje, o qual utilizarei como ponto de reflexão, comentário e louvor, é Hotarubi no Mori E. Primeiramente afirmo: vocês, quem quer que sejam, deveriam conhecer e assistir esse anime; não estou recomendando, e sim convidando-os a o fazerem. É um OVA curto, de cerca de 40 minutos, lançado originalmente em 2011, dirigido por Takahiro Omori, baseado, por sua vez, em um volume único publicado em 2002, escrito por Yuki Midorikawa. Bem, essas são informações de apresentação, nem sei porque as escrevi, pois o que importa é o conteúdo dessa linda história. Então vamos lá.

 

 

Não sei se lembram (ou leram), de uma resenha que fiz há algumas semanas sobre o OVA Totsukuni no Shoujo. Caso não tenham lido, deixo aqui o hiperlink para saciar qualquer curiosidade que possa florescer. Hotarubi no Mori E possui uma premissa semelhante, embora diversa e, com certeza, anterior à de Totsukuni, que é uma obra mais recente. De todo modo, podemos considerar Hotarubi, nesse caso em particular em relação à premissa, como o senpai de Totsukuni. A premissa em questão é a impossibilidade absoluta de entrar em contato físico com a pessoa que está ao seu lado.

 

 

Temos dois personagens principais nesta história: Hotaru Takegawa e Gin. Vou apresentar ambos.

Começando por Gin. Ele é um rapaz que aparenta ter cerca de 16 anos, entretanto, segundo podemos entender pelas palavras de Hotaru, o envelhecimento do jovem se desenvolve em um ritmo completamente singular ao normal. Qual a real idade de Gin? Não sabemos. Qual suponho que ele tenha realmente? Chuto que, pelo menos, algumas décadas. Gin foi abandonado, quando ainda era um bebê, em uma floresta do deus da montanha, um local habitado por youkais e entidades espirituais. Fadado a própria sorte, o seu destino era certo: ele morreria.

 

 

O deus da montanha, uma entidade compassiva, gentil e possuidor de poderes misteriosos, resolveu intervir na situação. O mundo humano, a matéria, não poderia suprir as necessidades de Gin, já que ele estava desamparado e era um bebê; os youkais não podiam também, já que ele não fazia parte do mundo espiritual. A resposta que o deus da montanha encontrou para salvar a vida de tão frágil criatura foi encantá-lo, enfeitiçá-lo, ou mesmo, em certo sentido, amaldiçoá-lo. Gin foi despido de sua humanidade, mas, ao mesmo tempo, ele não foi provido de outra natureza que pudesse substituir a sua essência original, ele foi condenado a uma espécie de limbo fronteiriço, um lugar onde poderia existir entre os dois mundos.

 

 

O preço pago para sobreviver foi o não pertencimento a nenhum mundo, a nenhum lugar. Gin é um fantasma, um ser que, para o mundo humano, não existe, mesmo que possa ser percebido pelos sentidos dos humanos. Sua constituição de existência está tão a flor da pele que o menor contato que efetive junto a uma força viva semelhante, ou seja, junto a um humano, lhe condenaria ao desaparecimento. Tocar em um humano é o mesmo que obliterar a sua tênue forma transitória.

 

 

No entanto, por sua forma energética ter maior proximidade com a propagada pelos youkais, seres espirituais normalmente invisíveis aos humanos, Gin pode ter contato “físico” com eles, e esse provavelmente é um dos motivos do porquê ele conseguiu sobreviver, conviver e prosperar ao lado dos habitantes da floresta. Na prática, Gin cresceu e amadureceu por muito muito tempo em companhia dos espíritos, mas nunca realmente se sentiu como um deles.

 

 

Sua solidão, carência e simpatia com os humanos preenchem o desejo íntimo e secreto que possui de ser tocado, mesmo que isso signifique a sua morte. Os youkais, que literalmente o criaram desde pequeno, sabem muito bem disso, conhecem o vazio do rapaz e sua trajetória de sofrimento e incompletude, um humano que nunca poderia viver entre humanos, e que nunca mais poderia ser plenamente e de fato um humano.

 

 

Agora vamos nos debruçar sobre Hotaru. Ela é uma criança de 6 anos de idade que durante o verão ruma para o interior visitar a sua tia e o seu avô. Ela, como toda boa criança, vai explorar a floresta do deus da montanha, e se perde. Florestas espirituais são labirintos para pessoas com abertura sensível em relação ao mundo místico. Hotaru é encontrada por Gin, que habita o local, e ele a guia para a segurança novamente. Entretanto, antes de se despedirem, ela se afeiçoa pelo enigmático rapaz, e volta para visitá-lo no dia seguinte, e no seguinte e assim por diante até o final do verão.

 

 

Ambos criam um laço, uma relação de carinho e afeto, se tornam amigos, e até mesmo o interesse romântico um do outro. Bem, não imediatamente, Hotaru volta à casa do avô todos os verões, e devido a isso, passa esse tempo especial junto a Gin na floresta. A cada ano, Hotaru envelhece, mas Gin permanece o mesmo, até o momento em que ela já possui idade suficiente para ser vista como uma jovem mulher, mesmo que ainda no colegial, idade na qual o sentimento de amor entre ambos atinge o seu auge e maior intensidade. Hotaru e Gin estão completamente apaixonados um pelo outro, ambos esperam ansiosos e melancólicos pelo próximo momento em que se encontrarão, ou seja, o verão.

 

 

Hotaru planeja o futuro, deseja se mudar para a cidade do avô após se formar para que possa estar sempre junto a Gin. Já ele, por sua vez, sente-se culpado por saber que está prendendo a garota a uma relação impossível. Não existe resposta, não existe esperança, não existe possibilidade de futuro para ambos. Gin não está à mercê do tempo humano, Hotaru não possui a mesma sincronia espiritual que os youkais para que possa tocar o jovem. Ambos estão separados por um abismo intransponível.

 

 

O instante máximo de afeto, o amor em seu plasma mais puro, infinito e efêmero; o clímax dessa história, o desejo final de Gin, o abraço em direção ao eterno vazio; a despedida final, o desamparo e a tristeza; a resignação de Hotaru. Hotarubi no Mori E é uma obra indescritível.

E como sempre, complemento um pouco o texto e o debate junto ao vídeo do hiperlink!!!

 

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