A história da morte é a história da vida. Sakura, assim como a flor de Sakura, é efêmera, frágil e bela. Uma pessoa no limiar de seus sentimentos que pode morrer a qualquer instante.

Kimi no Suizou Wo Tabetai é um típico filme trágico afetivo que apenas os japoneses conseguem fazer; delicado e melancólico, engraçado e agridoce.
A protagonista sofre de uma doença crônica em seu pâncreas, órgão quase nunca lembrado a menos que de problema, e tem que enfrentar a dura realidade de seu fim. Sua morte é uma certeza, assim como para todos nós, a diferença é que ela sabe disso e sente isso na pele.

 

 

Sua vontade de viver é equivalente à sua aflição, ao medo constante que beira o desespero. Ao presenciar o modo como sua família e pais a tratam, temendo por ela e a olhando com olhos receosos, Sakura toma a decisão de esconder a sua condição, de não contar para ninguém que está doente, pois não quer que a vejam como alguém diferente, que a tratem com delicadeza e explodam a normalidade de sua vida. Ela decide passar por tudo isso sozinha, e deseja manter as aparências até o fim.

Contrariada pela sua própria determinação, a sua escolha começa a consumir sua felicidade, forçando-a a fingir que está tudo bem. Mas por sorte e junto a isso, ela conhece, ou melhor, redescobre, Haruki, um de seus colegas de classe, ele é solitário, discreto e antissocial ao ponto de chamar a sua atenção. Quem é esse menino que gosta tanto de livros? É o que passa por sua cabeça.

 

 

Assim nasce o plano de Sakura em conhecer Haruki! Descobrir quem ele é. Não vou descrever detalhadamente as ações da garota ao perseguir o gélido garoto, mas chamo a atenção para o fato de que a sua indiferença para com ela é exatamente o que ela precisava para se sentir bem e segura, até mesmo feliz, em relação a si mesma e a sua vida.

Ao contar para ele sobre a sua doença e revelar que em breve morrerá, a reação de Haruki beira o descaso. Uma pessoa que a trata normalmente mesmo sabendo de sua condição. Era exatamente isso o que Sakura desejava e precisava. Ela investe pesadamente em manter uma relação com o rapaz, sendo no mínimo invasiva e inconveniente, mas, ao mesmo tempo, quebrando, aos poucos, as defesas de seu frio coração, aquecendo e consolando com sua presença e petulância, para que ele a deseje como amiga, como mulher, como existência.

 

 

O objetivo de Sakura era existir, continuar a existir no coração de alguém, e mesmo que ela soubesse que continuaria a existir no coração de suas amigas e familiares, ela ainda assim almejava ser amada, não no sentido sexual, mas sim no sentido afetivo próprio que apenas um casal pode desenvolver. Não importa o gênero de cada um nessa relação, o que importa é que uma relação entre duas pessoas ao formal um casal, tem um sentido e um significado especial, os quais Sakura ambiciona sentir.

Haruki, por sua vez, por ser uma pessoa extremamente introvertida e introspectiva, acaba aceitando os caprichos da garota, e até mesmo deixa que ela adentrar no seu cotidiano, não sem algumas consequências devido as pessoas ao redor pensarem que ele a está perseguindo, e não o contrário, e com o passar o tempo a relação de ambos de fato se torna incrivelmente bonita. Ele auxilia Sakura a fazer as coisas que deseja fazer antes de morrer, a apoia e a trata com naturalidade, como se ela nem estivesse à beira da morte. Bem, ele faz até um certo instante, onde as coisas mudam um pouco. Afetado pelo calor e pela paixão que começa a sentir por ela, o medo, receio e a tristeza nascem em seu coração. O seu sentimento neutro e indiferente muda para um sentimento de apego e prezar.

 

 

O desfecho da história é quase completamente imprevisível, mas as consequências que Sakura tem para Haruki, as marcas que ela deixa, permanecem para o resto de sua vida. A luz a intensidade de vida que a garota esbanjava, contaminam de modo irreversível o pacato adolescente.

 

 

A mensagem final deixada por esse anime, e principalmente pela protagonista Sakura, é de que só podemos existir caso estabeleçamos laços uns com os outros, sejam esses laços do tipo que forem. Para existirmos, temos que sentir os outros, entrar em contato com os outros, reconhecer a existência dos outros. Não importa se odiamos, amamos ou como julgamos os nossos semelhantes, só podemos ser nós mesmos ao estar em contato com eles. Nossa cognição, nossa consciência, nossa capacidade de existirmos como existimos, é devido a todas as outras pessoas que compõem conosco a sociedade. Mesmo que sejamos rejeitados, que tenhamos dificuldade em aceitar ou ser aceito, ainda assim, em sofrimento ou em felicidade, precisamos dos outros.

Haruki é livre para viver, para amar, odiar, ser amado e odiado, mas ele deve existir, ele tem que existir e viver o que Sakura não pode viver, ele tem que existir por ela e por si mesmo, pois só assim o amor de ambos pode ser real.

 

 

  1. Helloooo Peoppleeessss!!! James de novo (enquanto vcs aguentarem….KKKK) na área…
    Bueno, o que dizer desse anime…É o que digo desde conheço a sociedade japa…Eles não tem consultório de analista e nem psicologo (já viu um entrevistado pela NHK? Nem eu…) então o anime nesses casos é um grande auxílio em saúde pública mental!! Principalmente em assuntos espinhosos como doença terminal…. Fica meu abraço para o Youkai M. por resenhar os animes que realmente significam algo!

    • ^^ Boa tarde James… de fato, os japoneses tem uma tendência a não se expressar, ou mesmo a se expressar por outros meios, artísticos, o trabalho e a vida. É bem mais comum no Japão lidar com as coisas por si mesmo, sem recorrer a estranhos. Embora existam sim, é claro, profissionais atuantes no campo da psicologia, ainda assim, de longe da a entender que depender de um outro, para os japoneses, é algo a se evitar. Muitas das aflições pessoais acabam sendo auxiliadas pela empatia e pela relação que eles mantém com o mundo subjetivo, literatura, novelas, animes, etc… Uma marca cultural que é importante para entendermos o como a arte desse povo se desenvolve e se propaga. Anime de fato deve ser um dos modos de se tratar, mesmo que implique, em parte, uma fuga ou uma distorção das ações reais. Não dá pra negar que se os grandes protagonistas dos animes forem seguidos, como exemplos de caráter ou percepção emotiva do mundo, as pessoas poderiam tirar grande proveito disso, sem ter que recorrer a outras áreas que aplicam função equivalente na sociedade. Assuntos delicados é uma especialidade dos animes e da arte em geral, mas é sempre bacana descobrir o quanto isso tem potencial para ajudar quem precisa. E grande abraço James! Até uma próxima resenha com um bom anime que possa nos trazer algo bacana, humano e acolhedor…

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