Major 2nd voltou com tudo, e não escrevo isso só pelo basebol (a partida foi simples, mas bastante divertida, até mesmo emocionante), como também pela progressão da história. A passagem de tempo realmente fez bem a trama e mal posso esperar para ver tantas personagens femininas interessantes sendo desenvolvidas, além, é claro, de não perder de vista a história do receptor Daigo. É hora de Major 2nd no Anime21!

Major 2nd é a continuação “espiritual” da clássica série de mangá/anime Major (a qual você não precisa conhecer para acompanhar a história do filho de Goro Shigeno) e para estar aqui só é necessário que tenha visto a primeira temporada do anime. Se já fez isso, mas não lembra assim tão bem dela sugiro que dê uma linha na minha resenha da série e me acompanhe no comentário que tecerei sobre essa mais que excelente (re)estreia.

Por que pago tanto pau para Major 2nd? É simples, o autor, Takuya Mitsuda, sabe escrever muito bem uma série de esportes e parece ter aprendido com o mangá predecessor (nem preciso ler para ter percebido), pois meio que inverteu a ordem (em Major o receptor é o co-protagonista, em 2nd ele é a estrela) das coisas e, inclusive, adicionou personagens femininas fortes e interessantes a obra que justificam muito bem porque estão ali.

É só lembrarmos da primeira temporada e como a Sakura e a Michiru brilharam nela, mas Major 2nd ainda poderia mais e dessa vez a segunda temporada nos presenteia com uma passagem de tempo que não só mostra ao público um Daigo mais maduro, já jogando ao nível juvenil (e não mais infantil), como também insere novas personagens femininas; Tao, Yayoi e Seira; que integram o clube de basebol em pé de igualdade com os garotos.

Não, o Daigo não tem um harém, com certeza a história vai passar longe de qualquer construção idiota do tipo; as garotas amam basebol e são boas jogando, não à toa a partida que disputaram com o grupo de garotos novatos nesse episódio evidenciou isso e, de maneira muito segura, deixou claro como os integrantes do clube de basebol da Fuurin são maduros; seja em habilidade, experiência ou no amor que têm pelo esporte.

Aliás, a entrada de novos membros no segundo ano de Daigo e das garotas (também tem um senpai do terceiro ano no clube) foi uma jogada de mestre, pois não só mostrou o protagonista em outra fase de sua vida como atleta e pessoa (nem todo ano é super interessante, “pular” um tempo e mostrar que os personagens cresceram enquanto isso é super válido sim), mas reforçou seu desenvolvimento com o choque entre perspectivas.

Os garotos novos só seguiriam quem fosse habilidoso e menosprezaram seus senpais por serem demasiadamente confiantes, enquanto o Daigo agiu como um verdadeiro líder capaz, não se impondo por meio da força e sim do exemplo, da lição de experiência que poderia passar aqueles hierarquicamente abaixo de si. O Daigo molecote teria tido paciência e audácia para lidar com os novatos ao propor o jogo e fazê-los o respeitarem com ele?

Duvido, pois o Daigo mais jovem era muito impaciente, imaturo mesmo, então se ele é presidente do clube da sua escola que mostrasse qualidades que o qualificassem para tal cargo. Foi o que aconteceu, e de uma forma bem divertida, pois anime de esporte com prática de jogo é a melhor coisa que tem (ainda mais quando as partidas são boas). Mas sabe o que é mais legal? Ainda tem muita coisa bacana a comentar sobre essa estreia!

A forte relação que o Daigo parece estar desenvolvendo com a Mutsuko (que, como bem acompanhamos na primeira temporada, está apaixonada pelo amigo) não ficou evidente só pela interação deles na abertura, mas também pela forma como interagiram fora e, principalmente, dentro da quadra. Não à toa os dois presidem o clube e continuam caminhando lado a lado dando vazão a paixão que têm pelo esporte.

Deu para perceber uma carga de cumplicidade e confiança entre os dois que, ao meu ver, continua o trabalho de construção da base para um desenvolvimento romântico mais acentuado no futuro. O que quero dizer com isso? Que é a convivência e o compartilhamento de coisas em comum que constrói e aprofunda a relação dos dois. Consciente mais por parte dela, é verdade, mas uma hora o Daigo deve também acordar para o amor.

E eu acho isso tudo muito bonito, como esse subtexto romântico se faz presente na série e cresce de forma gradativa, sem forçação de barra. O potencial para algo a mais que a amizade entre os dois está todo ali e não foi só a abertura com suas passagens fofas que me fez enxergar isso. O roteiro de Major 2nd não fala mais do que mostra e não mostra mais do que faz, o que a série promete ela entrega com muita competência e diversão.

É tanto que a partida foi bastante divertida, deu para conhecer os pontos fortes dos novos garotos e como enxergam o basebol, assim como ficou evidente a diferença entre experiência que possuem em comparação aos seus senpais. Essa demonstração da cultura do esporte, de que a diferença de idade geralmente está alinhada a uma diferença de desenvolvimento técnico, físico e psicológico para mim foi muito importante.

É nesses inúmeros detalhes que o público compra a ideia que a obra quer passar, sente o apreço e a responsabilidade que quem conta a história tem com um esporte tão valorizado pelo povo japonês. E, por que não, extremamente divertido? Não poderia afirmar outra coisa após ver a forma como a partida foi conduzida e como nela o que se queria apresentar ao público se esparramou entre jogadas e ações dentro do jogo.

Outro ponto relevante foi que com esse jogo deu para percebermos bem que as garotas são trabalhadas na obra de maneira a operar no mesmo patamar que os garotos, elas não foram inseridas em quantidade na trama para promover uma igualdade farsante, elas são sim tão capazes e apaixonadas pelo basebol quanto qualquer outro garoto. Dar esse espaço a personagens femininas não é caridade, mas consciência e diversidade.

Por exemplo, a prévia do próximo episódio deu a entender que a Mutsuko vai ter uma rusga com uma nova integrante e, muito provavelmente, deve formar uma bateria com ela. Percebe como é importante o que um mangá como Major 2nd faz ao mostrar que garotas podem muito bem formar baterias e jogar basebol com os garotos, que é um espaço que também pertence a elas se elas assim quiserem?

A ficção infanto-juvenil é um caminho proeminente para influenciar os jovens a enxergarem o mundo de uma perspectiva mais ampla, que não seja limitada por preconceitos ou determinismos sociais, e sinto que um mangá de esporte tão importante serve muito bem a esse propósito. Personagens femininas não foram inseridas nesse segunda fase da trama apenas em quantidade, mas também em qualidade.

Ponho minha mão no fogo de que elas serão bem desenvolvidas, não só agregando a jornada do Daigo como também proporcionando histórias laterais instigantes, assim como foi com a Michiru na primeira fase da história e continua sendo com a Mutsuko. Se tem algo em que Major 2nd é bom é em dar espaço para aos personagens, desenvolvendo eles e agregando seus problemas e objetivos aos jogos emocionantes e divertidos que disputam.

Percebe como Major 2nd fez tudo mais que certo nessa estreia? E sabe o que é melhor? Tudo isso saindo de um lugar comum sem necessariamente se desprender da construção que se espera de uma série de esportes. Há conflitos, há coisas que só podem ser aprendidas e ensinadas através da prática esportiva e há a expansão de perspectiva com a inserção de personagens de um gênero muitas vezes negligenciado nesse tipo de obra.

Não que seja problema uma obra de esportes focar apenas na prática de um gênero (por exemplo, não há problema em um anime como Tamayomi, que foca em garotas jogando basebol), mas por que não expandir o leque, por que não ser mais criativo e inclusivo? Não é só garoto que lê mangá shonen, não é só garoto que precisa desses bons exemplos através da ficção que atinge um grande público (como é o caso de Major 2nd).

Mal posso esperar para ver como as novas personagens encaixarão no clube e como todos esses jovens se desenvolverão dentro do esporte, sejam homens ou mulheres. O importante é que se reúnam para nos proporcionar uma história que vai além do simples divertimento, também tendo poder de nos fazer refletir sobre questões importantes e reavaliar nossos próprios valores. Como, por exemplo, o lugar da mulher, que é sim em todo lugar!

Não que o simples divertimento não tenha seu valor e não seja importante, mas se um autor de mangá e uma equipe de produção de uma adaptação animada se propõem a mais o esperado é que correspondam a altura e é exatamente isso que Major 2nd faz, e com maestria, como eu espero que o Daigo e seus companheiros possam jogar basebol um dia. O caminho até lá é longo, mas convido você a acompanhá-lo comigo aqui no blog.

Até a próxima!

P.S.: A animação dessa segunda temporada está muito bonita, além disso, os designs foram muito bem atualizados. Como produção técnica vislumbro potencial de melhorar nessa segunda temporada em comparação a primeira, mas, claro, ainda é cedo para afirmar qualquer coisa nesse sentido, só nos resta esperar para tirar a prova nos jogos (que devem se esparramar em no mínimo uns dois cours outra vez).

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