Acho que é perda de tempo tentar definir ou rotular o que é o amor, mas o que é a vida senão uma constante perda de tempo? Esse artigo mesmo não tem necessidade de ser escrito, mas mesmo assim eu insisto e você que lê é uma espécie de combustível. Isso é um sinal de amor, e amor não precisa de razão para ser, inclusive o amor romântico que sei que é o objetivo do questionamento no título.

O episódio respondeu mal ou respondeu bem? Nem uma coisa nem outra, foi exatamente o que eu esperava do anime, do roteiro. A melhor resposta para a pergunta, “o que é o amor?,” me parece pertencer mais ao campo da intuitividade, da ação, que da teoria e da certeza. Sendo assim, insisto em frisar que não estou tentando definir nem rotular, apenas divagar sobre o que acho que é o amor.

Uma coisa que acho bem legal na Haru é como ao mesmo tempo em que ela tenta manter distância, para evitar se machucar com o envolvimento, ela se aproxima, com suas emoções guiando seu corpo e sua boca mais que sua cabeça. No fim, seus esforços falham e é isso que o público podia esperar, a nós instiga acompanhar a trajetória de alguém que está se enganando sem realmente estar.

Porque sua tentativa de se aproximar de alguém que gosta ao mesmo tempo em que mantém a porta aberta para fugir se as coisas não correrem como gostaria é bem isso, pura incoerência, mas justamente essa incoerência é um sinal de amor. Amor não anda de mãos dadas com a razão, não sempre, ainda mais se você é uma jovem adulta com traumas e um amor romântico não correspondido…

Não à toa a Haru diz não criar expectativas, mas cria, é mais forte do que ela. E ela tem consciência de suas mentiras ao brandar sua indiferença, o que pega é ela se “arriscar” ao sofrimento tentando se policiar com a razão. Não faz sentido, e amar tem muito disso, pois ainda que seja querer o bem de quem se ama (o que parece fazer sentido), se olharmos por outro prisma ele pode não fazer sentido.

Afinal, amar também pode ser querer o bem próprio, a satisfação própria, e pode ser ao mesmo tempo as duas coisas. Mas como se arriscar a sofrer é bom para a pessoa? Pensando na “recompensa” afetiva que você pode alcançar no futuro talvez valha a pena, mas percebe como não há certeza alguma ao agir assim, e um mergulho no escuro, é indomável, e amar é ter coragem para fazer esse salto.

Eu mesmo que afirmava não querer definir ou rotular já estou aqui dizendo o que é ou o que não é, veja como amar e falar de amor sempre pode nos fazer cair em contradição. Se aplicado na trama de Utatte o que eu vejo é uma garota que tem medo de amar e tem medo de não ser amada, é forte, e frágil, é corajosa, e covarde, é humana. Haru lembra a mim quando mais novo criando expectativas…

E isso é bom, não consigo mais não me importar com ela, ficar dividido entre devorar o mangá ou esperar pelo episódio seguinte para saber como a história dela progride, o que realmente aconteceu em seu passado e como eu posso ajudá-la. Okay, sei que não posso fazer nada além de mentalizar positivamente um final feliz para uma história que já foi escrita, mas eu faço isso, porque isso é amor.

É uma luta que precisa ser lutada, independentemente de poder ou não ser vencida, mas, claro, o ideal é que seja. Foi isso que a Haru fez nesse episódio, e de maneira um tanto diferente o Rikuo também. Antes de tudo acho que ele só queria retribuir o favor da (ex)amiga, mas inegavelmente negligenciou o encontro com a Haru, porque, por mais que não quisesse furar com ela, seus olhos já estavam focados.

Digo, seus esforços já haviam sido direcionados. E eu acho que ele vacilou, não por maldade e sim falta de jeito. Contudo, também seria leviano culpar só ele pela “briga” com a Haru. Em nenhum momento ele a enganou, foi desonesto com ela ou com os próprios sentimentos, inclusive, isso doeu mais nela do que uma mentirinha branca. O coração não quer verdade, mas o afago, a dor que não dói.

O que os olhos não veem o coração não sente, e o que os ouvidos não ouvem, por tabela. Não queria apelar tanto para frases feitas, mas que culpa tenho se traduzem tão bem um acontecimento desses. Na verdade, os dois erraram (por motivos diferentes, claro) e ela, obviamente, saiu mais machucada. Mas até esse sofrimento, essa “decepção,” fez bem a ela, provou que é mais forte do que pensava.

Não fosse o caso, por que teria tomado coragem para se desnudar um pouco em palavras na frente do Rikuo? Ela usa seu ar misterioso como um colete a prova de balas, mas após ter levado o primeiro tiro percebeu que ainda estava viva, então se permitiu enfraquecer suas defesas. Até porque só assim para algo sair dali. É p comum pensar que qualquer felicidade comporte um risco a ser assumido.

Não que ela tenha pensado nisso, mas não foi com o cérebro que ela gritou parada no sinal nem saiu entregando sua ficha para o Rikuo, foi o coração tomando o controle, assumindo riscos que ela aprendeu na pele que são necessários se quiser viver seu amor. Claramente não foi fácil para a Haru olhar um pouco em frente, plantar para o amanhã, mas ela conseguiu, a dor a está fazendo amadurecer.

Artigo passado escrevi que a dor não necessariamente nos faz amadurecer e que temia ser esse o caso dela, não tenho certeza se é, mas se for isso diz muito mais respeito a seu passado que a seu presente e futuro, pois não é como se a Haru sofrer no enrosco amoroso em que está seja só perda, só algo ruim. Aliás, ao perder coisas ela ganha outras, e esse processo é importante para libertá-la do que a “prende.”

Ela ainda está presa a uma mágoa do passado, algo ruim que prejudicou sua vida escolar, a faz manter distância da mãe (pelo que me pareceu aquela mulher que apresentava o novo namorado a Haru é sua mãe e seu pai, do qual ela usa o nome, já se foi) e não a permite ser sincera ao ponto de deixar transparecer fragilidade, a escondendo com brincadeiras e simpatia.

A saída da escola e o trabalho que preenche grande parte do seu dia são apenas reflexos disso, não causas, mas consequências. Não que trabalhar para ela seja ruim, mas seria mais indicado que concluísse o colegial, não acha? Toda a sua autonomia em tão tenra idade me parece um sinal de que ela não quer mais contar com ninguém na vida, ou deseja contar o mínimo possível, que ela se sente só.

Talvez a perda do pai a tenha levado por esse caminho, mas penso que não foi só isso, que há agravantes. Não ser ríspida com a mãe não significa que elas se deem bem, às vezes relações familiares amistosas são só uma máscara que evidencia o distanciamento. Além disso, se o colégio e o trabalho não apresentam elementos disfuncionais para a garota, só nos resta voltar o olhar para a família dela.

Talvez o problema nem seja com o pai, mas com o avô, ou com os dois, não sei, mas se ela chama seus padastros (parece ter tido mais de um até ali) de “personagens,” tenho a impressão que o problema gira em torno da figura paterna. Não parece ser algo que atrapalha diretamente sua vida no auge da mocidade, mas deixou um rastro de destruição até ali, inclusive em sua forma de amar.

Ao menos em uma delas, afinal, não dizem que o amor tem várias formas, assim como várias explicações? No fim, buscar a exatidão é perda de tempo, mas divagar talvez nem tanto, visto que há muito significado nas vidas, assim como nos amores, dos personagens. Há razão para que ajam como agem e transpareçam o que transparecem, ao menos se você consegue enxergar isso sob uma ótica “emocional.”

Ademais, o episódio foi menos pungente que os anteriores, me tragou menos para dentro de sua narrativa e dos sentimentos dos personagens, mas também foi ótimo a sua forma, tanto que trouxe o questionamento que melhor encaixou com esse momento pós-exposição das idas e vindas, dos sentimentos de amor (e todos não correspondidos) dos quatro personagens principais desse ótimo anime.

Por fim, ainda não sei ao certo o que é o amor, no máximo acredito que o amor seja explicável em palavras só até um certo ponto, e que este ainda esteja distante de toda a magnitude desse sentimento. Ir além de palavras, conseguindo passar a ideia de que se ama porque se ama, que não há muito o que explicar ou como, foi o que o anime fez e nisso a obra foi muito feliz. Como espero que a Haru seja…

E não só ela, isso vale para os quatro. Não foi necessário a Haru ter “trombado” com o Rou, mas imagino que esse cena facilite com que os caminhos dos dois se cruzem mais a frente, e que com isso ele também passe a ser mais aproveitado na trama. Mal posso esperar para ver como esses encontros e desencontros de amor vão se desenrolar, como esses personagens vão conseguir se desapegar do ontem e com isso viver melhor o hoje.

Até a próxima!

Comentários