Eu não disse que a Veronica era uma personagem interessante? Este episódio sem dúvidas foi o melhor até aqui e isso se deve a química entre ela e a protagonista. Ao interagirem diretamente, os ideais de cada uma se entrelaçam e geram reflexões muito interessantes sobre o papel da mulher, mas principalmente sobre a determinação de cada pessoa em relação aos seus objetivos de vida.

Ao conhecer a cortesã, tive uma forte impressão de que ela seria fundamental para que a Arte crescesse como ser humano e não me enganei. Afinal quem melhor que uma mulher vivida para ensinar outra? Como extra ainda vale o fato de que apesar de experiente, o Leo não tem lá muito tato ou vocação para exercer esse papel na vida da menina – ao menos não ainda.

O artesão recebe de sua amiga e patrona a missão de pintar um retrato e ao encontrá-la, Arte se encanta pela moça e o seu esforço para ser independente e realizar seus sonhos – assim como ela pela menina. Veronica representa naquele momento o modelo perfeito de sucesso a seguir, embora ela dê indiretas do contrário por fazer o que faz.

Assim como eu citei no artigo anterior, o trabalho de uma cortesã ia além do mero fator sexual, elas desempenhavam um papel mais amplo, que muitas vezes exigia um domínio cultural avançado. Naquele período não bastava apenas ser sedutora, elegante e bela, mas se era necessário ser inteligente, versada na literatura, hábil na comunicação e se possível talentosa em alguma arte também. Apesar disso tudo, exercer essa profissão não deixa de ser algo moralmente criticável e é o que a personagem coloca em jogo.

Veronica é gentil e dona de um vasto conhecimento, qualidades essas que são mais do que bem vindas. Com todo esse processo da protagonista descobrir o que sente em relação ao seu mestre, ela surge como uma conselheira e guia nessa fase de transição, para que a mais nova aprenda a canalizar suas forças no seu sonho e não no resto.

Achei bem legal a conversa que as duas tem acerca do amor, porque é um ponto no qual eu acredito. O que a cortesã coloca é algo real e nem me refiro ao gênero em específico – até porque existem problemas em ambos os casos -, mas ao fato da paixão cegar uma pessoa comum.

A outra prostituta que é apresentada em petição de miséria absoluta, clarifica para Arte o que acontece com aqueles que se perdem no amor. Se o sentimento te descontrola e te anula, obviamente ele não será benéfico em campo nenhum da sua vida, principalmente no profissional e é isso que a Veronica tenta mostrar.

A menina almeja mais, quer ser reconhecida pelo seu trabalho, mas será que vale a pena misturar tudo, se atirando e doando a esse sentimento agora, justamente quando está subindo os degraus do sucesso? Não que não possa amar, mas será que para o momento atual é o ideal? Ela mal consegue lidar com o seu chefe e isso já está começando a afetá-la, então fica o pensamento.

Para uma mulher já estava muito difícil ser respeitada enquanto um indivíduo ativo e trabalhador, então com pouca determinação e foco, pior seria para a aprendiz e ela entende essa mensagem. Na contramão disso, ainda que estivesse completamente fascinada, Arte acaba presenciando um outro lado desagradvável da sua nova amiga e que a faz repensar como trilhar o caminho correto, sem mexer com o sentimento dos outros.

Veronica lida com muitos homens, no entanto não se liga a nenhum deles e mesmo assim precisa mantê-los aos seus pés, não medindo esforços para tal, passando por cima de qualquer resquício de decência que ela possa ter e isso surpreende a protagonista ingênua e inexperiente.

De certo modo, apesar de compreender as razões da cortesã – e entender que também não é uma culpa exclusiva dela -, não consegui deixar de concordar com o questionamento da Arte, pois brincar com as pessoas não é algo legal, independente da situação. Fiquei até um pouco incomodado – e com pena – nas cenas do cliente dela, porque ele já está num estado de perturbação que angustia e para ele fazer uma besteira falta pouco.

Como consequência, isso afastou a menina e começou a prejudicar o seu trabalho, por ela não dissociar seu pessoal do profissional. Esse tópico é algo importante porque é recorrente no dia a dia, afinal quantos de nós “engolimos sapos” ou lançamos mão de algo em nome do profissionalismo? Essa lição era o que ela como iniciante precisava assimilar, afinal a sua determinação precisava estar acima dos problemas.

Esse evento permitiu que a aprendiz crescesse, já que a própria minutos depois, passa por uma reflexão com a humilhação sofrida pelo padeiro e a postura dele diante do ocorrido. Ela valoriza o empenho e a dedicação que o homem coloca em sua função, logo, ver o orgulho que ele demonstra mesmo com as circunstâncias, muda a impressão que tem. Do mesmo modo que acontece com ele, funciona com sua amiga, essa é a determinação e o orgulho de ambos no que fazem.

Ao final do episódio a Arte felizmente consegue não só finalizar seu trabalho com louvor, como ainda consegue mais uma companheira e uma nova determinação – englobando as novidades que está descobrindo sobre o Leo. A garota sabe dos defeitos da Veronica e não os aceita, mas também admira as suas qualidades e a sua força perante o mundo e as dificuldades, sendo inspirada por ela no que tem de melhor.

Gosto bastante da personagem complexa que é a cortesã e a sua chegada veio em ótima hora, tanto pela sua personalidade, quanto por sua função de guia na história. Fico curioso para saber qual será sua próxima façanha em meio ao desenvolvimento da protagonista, mas espero que logo apareça novamente.

Agradeço a quem leu, torçamos para que o anime continue e até o próximo artigo!

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