Esse episódio serviu para muitas coisas, indo da apresentação de novos personagens, até a introdução de um outro arco para a protagonista, focando no convite para trabalhar como uma artesã independente em Veneza. A expectativa para essa mudança é grande, mas antes dela chegar, tratemos de como isso se concretizou e as impressões deixadas com essa história que ainda está mal contada.

Continuando do gancho com o Yuri, resumidamente ele é um nobre veneziano de uma família conhecidíssima e influente em vários setores, item esse que ele parece usar muito para conseguir o que quer.

Pessoalmente algo no jeito dele me incomoda, não sei dizer se é o jeito meio malandro e a lábia que ele demonstra, mas não me senti completamente convencido pelo argumento da sobrinha difícil que precisa de um tutor – muito embora a menina de fato esteja na abertura e pareça ter uma importância considerável na história.

A coisa de se transferir para uma outra cidade sozinha e o trabalho exigente, mesmo sendo uma garantia de que agora ela não seria uma aprendiz qualquer, acaba tendo o seu peso, uma vez que demanda dela muitas mudanças as quais pode não estar preparada para arcar – fora que seu patrono não é confiável.

Achei bacana da parte do Leo não interferir na escolha da menina e apresentar mesmo que superficialmente – e talvez contrariado -, o lado positivo da oferta, principalmente porque ele reconhece o talento que ela vem desenvolvendo, então seria até maldoso da sua parte não fazer com que ela enxergasse a oportunidade.

A Arte ter recusado a oferta inicialmente foi algo que fez sentido para mim, pois a forma como o próprio Yuri coloca as condições pelas quais a escolheu, soam como uma conveniência e acredito que de um certo modo, isso acaba desmerecendo o respeito que a aprendiz vem construindo a duras penas.

No meio dessa questão trabalhista, a menina tem como suporte a Veronica – maravilhosa e útil como sempre -, além da Darcia uma das moradoras vizinhas e sua amiga. Essa última me intrigou porque sua estreia foi bem confusa, ela simplesmente é jogada como se já estivesse na história a mais tempo, dando a impressão de que pulamos algum episódio em que ela era de fato introduzida. Mesmo com esse porém, achei a moça bem simpática e seus momentos de alívio cômico bem vindos.

A presença dela também tem um diferencial nesse momento, porque embora eu tenha afirmado a importância da Veronica – enquanto mulher e uma espécie de irmã mais velha/mentora -, ela tem um outro valor igualmente importante, que é o de ser alguém próxima da idade da aprendiz, com a qual ela pode dividir diretamente experiências comuns, além do Ângelo.

A outra personagem nova que surgiu na bagunça, a Ruthanna, acaba vindo como um ponto de quebra para a menina, porque ela não tinha nada a ver com a história em trâmite e no final foi a responsável pela decisão que muda o rumo de toda a coisa.

Curioso que a apresentação da personagem teve um momento bizarro, já que o comentário da Arte me deixou na dúvida se era uma brincadeira ou se a menina era ignorante. Tá certo que ela sempre foi uma isolada que só pensa em arte, mas daí a pensar que uma mulher grávida é alguém com um estômago grande, nossa é o cúmulo do absurdo – embora a reação dela em si, tenha sido bem engraçada.

O background da amiga do Leo é bem tenso e serve para mostrar como o ser humano pode ser pior do que se pensa. A mulher estava perto de dar a luz, viúva, passando por dificuldades e mesmo assim a família de seu marido não a abraça como parte deles? Isso é simplesmente desumano.

Confesso que toda a questão envolvendo o dote foi novidade para mim, já que eu não sabia que existia esse precedente na viuvez e fiquei mais chocado ao ver que esse acordo de “contradote”, embora permitido e amparado pela lei, parecia ter ser mais rigoroso no que tangia a famílias nobres apenas – por conta das suas variadas formas de execução.

No caso da Ruthanna, me pergunto se ela teve o apoio legal ou se foi um acordo de boca, pois como é visível, naquela época uma mulher não tinha voz e se fosse uma sozinha, pior as coisas ficavam quando se tratava de exigir direitos numa sociedade patriarcal, como a da era medieval.

A viúva era filha do mestre que ensinou ao Leo e inclusive os dois tem uma relação de irmandade bem legal, já que praticamente cresceram juntos e se apoiando – sendo esse o maior catalisador para o desenlace da Arte e sua oferta de emprego.

Como descendia de um artesão famoso, ela tinha uma boa condição de vida e apesar de aceita como nora, nunca foi devidamente acolhida pela outra família, resultando no seu abandono.

Ao ver o sofrimento de uma nova amiga e que é tão importante para seu mestre, a protagonista percebe que só poderia combater fogo com fogo e recorre a única fonte que lhe seria útil: o Yuri – uma ação boa porque mostra que ela está aprendendo bem a lidar com as adversidades da vida.

Ele por sua vez ainda teve mais umas cenas desagradáveis com sua insistência e me incomodou a sua metodologia opressora em cima do Leo, o que me fez questionar mais uma vez qual a real intenção por trás desse convite.

A sorte dele é que a Arte tinha planos de ajudar a Ruthanna e por isso aceitou, mas sinceramente ele continua me parecendo perigoso. Bem verdade que a garota ditou as regras do “contrato” e estabeleceu seus limites e prazos, mas tem algo que não cheira bem – e tenho para mim que ele vai tentar alguma gracinha.

Bom, de todo modo foi bom ver como a aprendiz resolveu toda a situação triste da viúva, assegurando uma porta que deve lhe garantir muita coisa boa e também como ela leva em consideração a importância da relação entre ela e seu mestre, independente do que é esse laço.

Enfim, Veneza está as portas e fico temeroso pelo que esse novo arco trará, só espero que a mudança de ares não tire o brilho da obra, afinal serão novas peças dando andamento a história e pode ser que elas não sejam tão agradáveis de se ver até o fim.

Agradeço a quem leu este artigo e até a próxima pessoal!

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