Oshi ga Budoukan Ittekuretara Shinu é originalmente um mangá adaptado para anime de 12 episódios na temporada de inverno de 2020. Na história acompanhamos Eripiyo, fã hardcore (o chamado “wota”) de uma idol underground (a Maina do grupo Cham Jam) que faz de tudo por sua idol favorita, a apoiando rumo a seu objetivo, conseguir se apresentar no Budoukan. Falou em idol, falou em Kakeru17 e aqui vamos nós!

Eripiyo é uma personagem super divertida e até mesmo inusitada, afinal, é menos comum ver fãs de idols do sexo feminino na ficção, o que em nada atrapalha a personagem em seu caminho de zoar ainda mais a já mal vista imagem dos fãs hardcore. Não que a Eripiyo seja uma tarada, ao menos não no sentido sexual, mas ela é extremamente obcecada pela Maina, a idol mais tímida e menos popular de um grupo que já não é muio conhecido.

A Eripiyo compra todos os cd’s com a sua favorita na capa, aperta a mão dela quantas vezes for possível e cria várias contas em redes sociais para dar a entender que a Maina tem fãs (quando ela parece ser a única). O que é tudo isso? É amor. Um amor diferente do que se tem por alguém da família, por um(a) companheiro(a), por um(a) amigo(a); um amor que se conserva por alguém que se admira, cujas ambições se tornam também suas.

Maina é isso para Eripiyo, uma luz que a guia, quase como uma deusa, mas cujo culto é bem particular, e é assim mesmo em relações de fã e ídolo, ao menos naquelas em que o fã é literalmente um fanático. Por sorte dos wotas apresentados na série as idols costumam corresponder a esse apreço e não é diferente com a Maina, o problema e sua inabilidade para expressar tal gratidão, tal apreço, o que, aliás, dá pano para manga na história.

Explorar esse ruído de comunicação pode parecer forçado em alguns momentos, mas na maior parte do tempo se mostra o melhor caminho para desenvolver a trama, aprofundar a peculiar relação entre as duas e evidenciar o desenvolvimento que sofrem enquanto personagens. Seja com Eripiyo que entre erros e acertos aprende a pensar sempre no que é melhor para sua favorita, seja com Maina que amadurece como idol em vários aspectos.

Abordar o amor por uma idol pouco ou nada conhecida como a Maina é interessante, porque mostra a diferença que um único fã pode fazer na vida de uma idol e como essa dedicação (não só financeira) toma grande parte da vida dessa pessoa. É como um hobby em tempo integral que acaba se tornando uma vocação. Maina preenche todos os aspectos da vida de Eripiyo e o que Eripiyo faz por ela tem papel crucial em seu trabalho como idol.

Sem ao menos o apoio, a dedicação, o carinho de uma pessoa. como é que a Maina suportaria as dificuldades que enfrenta? Se não dentro do próprio grupo, quanto a sua auto-estima e orgulho próprio, afinal, seria anormal alguém se contentar em ser a última em qualquer coisa que fizesse, mesmo não sendo exatamente uma competição. É normal querer ter fãs, se destacar, ganhar um centro (a principal posição da formação) em uma música.

Para enfrentar todas essas dificuldades a Maina precisa ir amadurecendo, enfrentando sua insegurança e confiando em seu trabalho duro; coisas que ela só consegue fazer por ter a Eripiyo ao seu lado, que se anima por apoiar essa pessoal especial que entrou na sua vida por acaso e pela qual desenvolveu um sentimento espontâneo, portanto, indubitavelmente honesto. Como demonizar algo que faz bem, ainda que de forma incomum?

Não gosto de fazer isso, sou fã de várias coisas e pessoas, verdadeiramente fanático por várias coisas e pessoas, e por isso sei que esse tipo de sentimento não faz mal a pessoa, o que pode fazer mal é a forma como ela lida com isso e apesar de eu achar que a Eripiyo passa longe de ser o melhor exemplo, é inegável o quanto gosta de ser uma wota e apoiar a Maina. Arrancar isso dela seria como arrancar tudo o que faz a personagem tão legal.

Aliás, não só ela, isso também vale para seus amigos mais próximos nessa vida de wota, o Kumasa e o Motoi, dois personagens bem divertidos e que têm relações um pouco diferentes da que a Eripiyo tem com a Maina, mas ambas bem interessantes de se observar; seja pelo tempo e dedicação que depositam nessa relação, seja pela forma (até mesmo questionável) como lidam com a reciprocidade desse sentimento.

Ademais, há as companheiras de Maina (Reo, Sorane, Maki, Yumeri, Yuka e Aya), todas com personalidades bem definidas, uma boa relação com os fãs e entre si no grupo, além de alguns subplots bem interessantes, mesmo aqueles que dialogam menos com as experiências da protagonista. Talvez seja difícil de imaginar um grupo tão harmonioso, mas se pensarmos que elas são pequenas faz sentido que pensem primeiro em crescer juntas.

Vaidades são inerentes ao showbusiness, mas além de Budoukan ser um anime (e em mangás e animes é comum deturpar esse realismo na caracterização), não há motivos para que uma tente puxar o tapete da outra de toda forma. Ainda assim, questões como o complexo de inferioridade e a competitividade são trabalhadas mais de uma vez na série, passando a ideia de que há várias dificuldades nesse mundo, talvez até mais baixos do que altos.

Ao menos até um ponto em que se consiga tocar no Budoukan (objetivo abraçado por todas no grupo), que é o sinal de que você chegou ao estágio mais alto da sua carreira (ao menos no Japão). Budoukan segue com sua história no mangá e obviamente termina sem final no anime, mas em um ótimo ponto para reforçar a convicção do Cham Jam em seu objetivo, assim como a certeza de que os wotas da obra estão as apoiando nisso.

A Eripiyo é a epítome desse sentimento de admirar e querer o sucesso de alguém de forma a tornar isso parte de sua própria vida, uma bela representação de um amor para lá de diferente, mas nem por isso menos forte ou bonito. Enfim, se espera uma crítica a indústria de idols não vai encontrar isso nesse anime de comédia, no máximo uma abordagem consciente de inúmeros pontos questionáveis desse universo tão controverso.

Contudo, sem o teor crítico que não combinaria mesmo com um anime que exalta o amor pelas idols. No máximo, há a consciência de que muitas coisas que os wotas fazem são mal vistas pela sociedade, mas essas mesmas coisas são abordadas de forma cômica e às vezes dramática, sempre a favorecer a perspectiva do fã e da idol, as partes mais envolvidas nesse meio. Se tem aversão por idols Oshibudo não é um anime para você.

Se gosta ou não desgosta creio que deva se divertir com as trapalhadas da Eripiyo, seus amigos sem noção e as garotas do Cham Jam; grupo com músicas bem legais (e que foram coreografadas com muito esmero nas apresentações). Budoukan passa uma imagem bacana (na medida do possível) do universo das idols que eu espero que roube sorridos do público, porque de mim não roubou só sorrisos, mas também meu coração!

Até a próxima!

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