Há um bom tempo venho enveredando nos caminhos dos animes chineses e apesar de toda a questão com o idioma – pois o som é bem complicado de se ouvir e compreender -, existem algumas pérolas que merecem mais amor da comunidade otaku. Considerando que poucos conhecem dessa vertente, venho aqui defender essa divertida adaptação, sendo ela a primeira de muitas da leva que pretendo trazer aqui.

Start to Be a Star Today ou Jintian Kaishi Zuo Mingxing – caso prefiram o nome mais difícil -, deriva de um mangá e brotou no final da temporada de outono em 2019, apresentando um enredo que não é necessariamente original enquanto história, porém uma agradável surpresa em sua execução.

O anime conta as peripécias de um casal de gêmeos que vive trocando de vida daí a usurpação e se metendo em confusões, graças a semelhança física que ambos tem, mesmo com a diferença no gênero – o que é meio bizarro, mas a gente acaba comprando. Lendo assim, ele parece com os filmes de gêmeos da sessão da tarde onde nada acontece, mas não é, os personagens tem objetivos, problemas, vão se virando com as novas experiências e fazem a obra girar com isso.

Qin Ya é uma cantora famosa e aspirante a atriz, cujo excesso de trabalho pega na base da coação o seu irmão Qin Ze, que diferente dela tenta viver escondido como um adolescente comum e obviamente acaba não conseguindo, graças a interferência recorrente da menina.

Ainda que continue parecendo superficial, essa pequena fatia da vida deles tem um fundo interessante, quando vai se revelando a verdadeira natureza dos irmãos, em especial a dele, que carrega tanto talentos, como traumas da infância. Toda a história gira em torno da relação sinérgica dos dois e como ambos gerenciam sua vida dupla enquanto tem que lidar com seus problemas pessoais e outros extras.

Particularmente eu gosto muito dos dois protagonistas, embora a Qin Ya tenha ganhado fácil minha atenção. Ela tem uma personalidade forte, se impõe e encara qualquer negócio pelo seu sonho e o bem estar dos dois.

No começo é até difícil entender quem é de verdade a jovem, por ela parecer meio exploradora e debochada, mas com o tempo ficam claras as razões por trás do seu jeito mais “troll” e ela também mostra suas outras boas camadas, conforme o tempo passa – ainda que mantenha essa sua essência peculiar, o que também é bom.

O Qin Ze é mais reservado e tem seus medos, mas seu coração de ouro por vezes o faz ganhar determinação quando preciso, sendo esse elemento o que molda cada acontecimento importante da obra. Não tem como não se compadecer de sua fragilidade e ao mesmo tempo rir dos sufocos que ele passa por causa da própria passividade e sua proativa irmã.

Além desse dueto a obra conta com um elenco de suporte bacana, no qual se sobressai a fofa Ji Mi, que vai se envolvendo aos poucos com o rapaz, enquanto o ajuda a superar seu passado. O que é legal nessa personagem é que embora não seja muito trabalhada, ela não fica exclusivamente presa a coisa do par romântico, tendo uma função a mais no enredo e o romance vindo como complemento a isso – se ele não estivesse ali, nada se perderia, já que o restante tinha uma amarração própria.

E como todo bom entretenimento precisa de um vilão de peso, a Ling Wei surge aqui sendo um show a parte, porque ela te transmite uma sensação de ameaça constante e de fato é uma. A personagem se faz odiável a cada cena que entra e ainda que o seu papel seja teoricamente o de vilã cômica, o que gosto nela é que sua inveja e maldade não veem limites.

A ideia central do anime é a comédia e isso não se perde com o andar da carruagem, porém a Ling coloca constantemente a tensão nas alturas, usando de sua astúcia e todos os meios possíveis para destruir a carreira da Qin Ya, afundando seu irmão junto no processo – numa obstinação até justificável se entendemos como funciona essa indústria artística.

Um ponto extra que adiciono dentro disso aos positivos, é a forma mais prática – ainda que pouco aprofundada – com a qual apontam em alguns momentos a realidade do mundo profissional do showbiz. As maracutaias, a mídia ofensiva, disputas de poder e as dificuldades de quem não tem patrocínio, apoio ou contratos decentes, aparecem trazendo uma base mais consistente para os desafios apresentados.

Toda essa estrutura nos entrega um resultado bem divertido e leve, que ao mesmo tempo em que é simples, não deixa de ter um a mais que te prende a tela para além do riso. A jornada dos gêmeos vale a pena e apesar de sentir que em algumas partes o pacing foi meio acelerado, a história se fecha de um jeito bom, concluindo os problemas mais urgentes e mantendo no ar o que ficaria para uma segunda temporada – que por sinal já foi anunciada.

Tecnicamente, do lado sonoro eu tenho que dizer que gosto bastante da melodia das músicas tocadas ao longo da série – mesmo não entendendo um “A” – e a dublagem no geral é boa. Já no quesito animação saí satisfeito com o esforço do ASK Studio, primeiramente porque não se trata daquele 3D pobre que é costumeiro nas produções chinesas.

A arte é bonitinha e tenta se manter consistente a maior parte do tempo, mesmo que a fluidez não seja um forte aqui. De todo modo acredito que ela cumpre bem o seu papel e não fica devendo no conjunto geral, considerando também que as produções chinesas estão crescendo aos poucos e nem todas recebem um tratamento “VIP”.

Só posso dizer que quem procurar por esse anime não vai se arrepender de gastar um minuto sequer, porque ele cumpre o que promete e faz bonito, apresentando um bom enredo e um elenco carismático que funciona. Para quem quiser se jogar mais a fundo no universo dos donghuas e conhecer novidades, eis um candidato.

Até breve dupla dinâmica!

Agradeço a quem leu e até o próximo artigo!

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