Breakers aborda a formação de atletas paralímpicos com a ajuda de um mentor peculiar, provendo uma visão bacana sobre a deficiência e os esportes, ainda que não completa ou complexa. O anime teve 16 episódios de oito minutos e foi exibido em um bloco da emissora NHK, financiadora da obra. Infelizmente, as Paralimpíadas tiveram que ser adiadas devido a pandemia de covid-19, mas, mesmo assim, Breakers cumpriu seu propósito.

É de se esperar que um anime que aborda as experiências de deficientes físicos no esporte em ano de Paralimpíadas no Japão tenha um papel social relevante e acredito que Breakers foi satisfatório nesse sentido, porque, ainda que não seja o melhor exemplo de verossimilhança, consegue dar uma boa amostra das dificuldades com as quais o atleta precisará lidar e as recompensas que pode obter caso decida se dedicar a prática esportiva.

Por motivo de força maior os Jogos Olímpicos e Paralímpicos foram adiados em um ano, mas a relevância do anime não se perde, afinal, ele visa atrair o interesse de praticantes em potencial para futuras edições, já que a idade dos personagens e o ponto de formação em que se encontram dá a entender que ainda precisam de mais tempo para maturar a fim de disputar medalhas olímpicas. Breakers vai na base, é a introdução no esporte.

Na realidade, no terceiro arco o protagonista já praticava o nado, mas não competitivamente e nem com outros deficientes. Inclusive, um ponto bacana do anime é que o desenvolvimento dos arcos é sempre o mesmo, o professor maluco Narita Ren assedia um jovem para que pratique um esporte, ele recusa ou sofre com algumas dificuldades que abrem espaço para a atuação de Narita, principalmente como incentivador, mas não coach.

Ele dá orientações baseadas em análises científicas, provê equipamentos sofisticados quando preciso e dá conselhos para ajudar os jovens com seus problemas pessoais. A figura do mentor é constantemente explorada e indiscutivelmente benéfica, afinal, suas atitudes ajudam os atletas em potencial a ganharem confiança para desenvolver seus talentos. É um trabalho único que sintetiza a atuação de vários profissionais de inúmeras áreas.

Não é realista pensar que alguém vai “apoiar” um garoto ou uma garota e dar essa ajuda, é algo que precisa ser incentivado e possibilitado pela família, pelo governo, etc. Mas abordar a questão dessa maneira não é um problema, ao menos não se o público alvo for o infanto-juvenil. Tanto é que temas como o bullying e a depressão não foram pincelados, mas não dá para dizer que faltaram adversidades nos caminhos dos protagonistas.

Além disso, não sei como a sociedade japonesa trata os deficientes, mas dificilmente haveria uma crítica elaborada em um anime produzido por uma emissora tradicional de TV, ainda mais no contexto de preparação para a Paralimpíadas, adiada já com o anime em andamento. Não que os ocidentais tenham visto o anime em peso, ele sequer saiu em canal de streaming aqui no ocidente, mas quiseram passar uma boa imagem mesmo assim.

Um detalhe importante é que as histórias dos personagens principais de cada arco são baseadas em atletas reais, em paratletas. A abordagem não é exatamente realista, mas os personagens têm dificuldades reais e isso é importante se a ideia é formar atletas, afinal, com o anime eles podem ter uma ideia de ao menos parte dos percalços que terão que enfrentar, mas também das coisas boas que podem colher se se dedicarem ao esporte.

Cada arco aborda um esporte diferente (basquete em cadeira de rodas, salto com vara, golbol e natação) e apresenta diferenças básicas entre si (resposta do protagonista a proposta do Narita, como se deu a deficiência, quem está ao seu lado, dificuldades enfrentadas, ponto em que o arco acaba, etc), mas no geral a ideia passada é sempre a mesma, praticar esporte é edificante e pode ser feito mesmo que a pessoa tenha uma limitação.

Não acho que a repercussão do anime tenha sido grande mesmo no Japão, mas se Breakers tiver alcançado o público-alvo (e não me refiro apenas aos jovens deficientes, mas também aos jovens em geral, que podem se motivar ao verem que mesmo alguém com mais impedimentos também é capaz) já está ótimo. A mensagem é bonita, o anime é legal de assistir; mas infantil, não esqueça; e se esforça para cumprir o propósito de germinar uma sementinha.

Até a próxima!

Comentários