Moriarty é a grande pedra no sapato do detetive Sherlock Holmes, o icônico personagem que atravessa gerações sendo a maior figura dos romances detetivescos. Então Moriarty: O Patriota (título oficial do mangá lançado no Brasil pela Panini), anime do estúdio Production I.G da temporada de outono de 2020, conta a história do vilão? De certa forma sim, mas é pobre encarar as coisas desse jeito e vamos ver agora o porquê.

A parte técnica do anime é toda bem consistente, seja os designs dos personagens ou a animação, o que era de se esperar dado o nível do estúdio. Ainda assim, gostaria de elogiar alguns detalhes bem bacanas da produção, como o destaque dado as estátuas mórbidas nos momentos de tensão e a cor dos olhos (azuis no pai da vítima, vermelhos no Moriarty) indicando emoções diferentes defronte a uma situação horripilante.

Inclusive, o que vi no Moriarty naquela hora era malícia, diferente da cólera que acometia o pai, e ele é esse tipo de personagem extremamente sagaz e inteligente que trata como corriqueiro algo que faria qualquer um embrulhar o estômago. Sua frieza só se equipara a sua capacidade de dedução e até mesmo ousadia, afinal, não mede esforços quando se trata de apostar em sua capacidade de ler e esmiuçar a mente humana.

“As pessoas querem o que elas veem”, essa pode ser uma forma simplista de enxergar o caso, mas fazia sentido dentro da linha de raciocínio que o “detetive do crime” Moriarty montou e condiz até com a soberba que deve cometer um nobre capaz de vitimar famílias de pessoas que trabalham para ele em sua maioria, e em sequência, agindo tal qual a um serial killer. Moriarty é um gênio do crime, portanto, não deve ser difícil entendê-lo.

Ao menos é nas histórias do Sherlock Holmes, porque nesse anime o foco é nele e ele em si não comete o “último crime”, mas faz todos todos os outros com maestria, subvertendo o normal para uma história de detetives, mas a expectativa era essa em todo caso. Se você se chocou com aquele final é porque não sabia quem era o personagem, é a única explicação. O ponto é que por mais que o caso fosse simples de investigar…

Ainda assim, para ficar mais previsível só faltava o Albert ser o criminoso e por um momento pensei isso, antes de ser revelado quem ele era. Seria muito previsível revelar o assassino tão rápido no episódio, não que revelar alguns minutos depois tenha sido tão melhor assim, ainda mais com aquele título que já entregava o culpado. Não houveram surpresas reais, apenas a execução infalível das habilidades do “herói”.

Ao não entregar o assassino para a polícia e sim promover a “justiça com as próprias mãos” o Moriarty mostrou qual é a “justiça” em que acredita, isso se essa ideia distorcida de justiça não atender a outros interesses que passam distantes de qualquer preocupação com isso. Pela sinopse do Myanimelist fica claro que Albert e os irmãos que resgatou de um orfanato, o genial Moriarty e o pau para toda obra Louis, tem um ideal.

Mas o que fazer um alfaiate matar o assassino do filho tem a ver com isso? Ou se trata apenas de reparar a justiça que a época não contemplava a todos igualmente. Aliás, quando a justiça um dia fez isso mesmo? Estou esperando, mas nem por isso acho que é justificável usar os talentos de qualquer pessoa para cobrir um crime com outro. Não questiono o que o anime apresenta, tinha que ser isso daí, só o Moriarty em si.

Mas o melhor, na verdade o pior, nem é isso, e sim o Moriarty falar de “crime perfeito”. É sério que ele acha que o crime que cometeu foi perfeito? E as pessoas que ele interrogou? E a possibilidade de ter sido visto agindo (fosse conversando ou fazendo coisa pior)? E o contato que teve com o alfaiate? Esse crime é tudo menos perfeito, pode ser perfeito por não deixar rastros que liguem o clã dele ao desaparecimento do Conde, mas o resto…

É aí que o Sherlock e o Watson devem entrar, eles vão ser personagens do anime e duvido que não incomodem bastante o Moriarty e seus irmãos, o suficiente para passarmos a torcer por ele, que é uma espécie de vilão, e não pelo mocinho? Não, porque não torço pelo Moriarty exatamente, no máximo sei que ele sempre deve se dar bem, então é inútil esperar que seja pego, se passar sufoco e mostrar mais inteligência já vou achar bom.

Porque, sejamos honestos, ele foi brilhante nessa estreia, mas se é esse nível aí ele não tem chance contra o Sherlock, ainda mais com essa conversinha fiada de crime perfeito quando houveram muitas (e boas) pontas soltas. Preciso esclarecer que gostei do episódio, me diverti, mas não achei nada demais mesmo, inclusive, vi alguns problemas. Pelo menos o protagonista agiu de forma incomum, mas isso já era meio que o esperado, né.

Tenho curiosidade por saber exatamente quais são os planos dele no quadro geral (parece que existe algum) e vê-lo sendo realmente desafiado, assim como encurralado eventualmente, porque as investidas dele todas deram certo imediatamente. Se tem uma coisa que foi fácil de resolver, para quem é chamado de grande gênio do crime na ficção, foi esse caso do Conde. Moriarty pode mais, assim como esse anime de potencial ainda pouco explorado.

Até a próxima!

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