Eu já havia destacado que a aristocracia é retratada de uma forma extremamente artificial. Nesse episódio não foi diferente. Na verdade, muito devido ao acumulo e a repetição esse defeito ficou ainda mais claro e irritante. De fato a visão social é péssima, mas nada supera a artificialidade dos diálogos e dos personagens. Principalmente dos nobres, mas mesmo os heróis dessa história padecem desse problema.

Não pretendo defender toda essa artificialidade aqui mostrada, até porque é certo que isso estará presente no anime inteiro. Porém, eu acredito que sem isso o episódio seria muito problemático. Não vou dizer que seria menos pior ou mais pior, pois ruim continuaria sendo. Porém é mais fácil para o público geral aceitar esse problema do que o outro que seria criado.

Estou me referindo às cenas finais do anime. Se ele tentasse adentrar o escopo psicológico daquela família aristocrática, de fato os humanizando e não os tratando como bonecos que representam maquinalmente uma ideia já expressada, o anime teria muitas dificuldades para justificar as atrocidades cometidas pelos protagonistas. Pois eles realmente seriam “humanos” assassinados e não os “demônios” que o Moriarty se refere logo no início do episódio.

Contudo o anime mostra diferentes formas de corrupção e de podridão aristocrática. A esposa arde em ciúmes por uma jovem, linda e bondosa mulher que é cobiçada pelo seu esposo. Marido esse que é um hipócrita que faz o oposto daquilo que acredita apenas para ser bem visto aos olhos de outras pessoas, estas cuja sua relação se limita a interesses mesquinhos e autossatisfações egoístas. O filho mais jovem de tal casal por sua vez apresenta um comportamento anormal, com tendências a sociopatia e a psicopatia.

Quando se reflete sobre esses problemas até parece que realmente são pessoas críveis, mas o anime não consegue apresenta-las dessa forma. Como disse acima até teria um bom motivo para não querer. Seja como for, os personagens continuam artificiais e seus diálogos e interações chegam a ser vergonhosos. O autor pensou naquilo que queria passar, mas não se preocupou com a forma como faria isso. O cúmulo é que até o mordomo era um elitista, mesmo sendo apenas um plebeu. Eu consigo ver diversos motivos para ele desmerecer meninos de rua, mas a forma como ele se expressou foi como se fosse um conde, visconde, barão ou coisa que o valha.

Eu acho bastante importante falar sobre o diálogo do início do episódio. Vamos dividir ele em alguns pontos.

1. O sistema de classes é distorcido

2. Esse sistema coloca uma “maldição” sobre as pessoas, que as corrompe

3. Dessa “maldição” se originam “demônios”

4. Logo, se os “demônios” forem embora a “maldição” também irá acabar

De cara o ponto um já é problemático. Pois se a hierarquia social é a origem da “maldição” como seria possível acabar com ela sem modificar o sistema de classes? Não seria, eis a resposta. A menos que seja exatamente isso que o Moriarty esteja pensando. E isso faz todo sentido quando olhamos para o ponto dois.

Essa “maldição” é a própria desigualdade social, o sentimento e tudo que surge dessa distorção. É o olhar daquele que mal tem o que comer enquanto os nobres comem em fartura. Ela contamina o coração das pessoas e os distorce. Guardem esse último fato. Já esses “demônios” nada mais é que a própria nobreza, que estão corrompidos e que sustentam essa maldição por se beneficiarem dela. Até porque foi ela que os criou. E quando se olha nesse sentido, o plano do Moriarty é bem claro.

Primeiro a aristocracia será derrubada, cortar a cabeça da serpente é o primeiro objetivo. Em decorrência disso a desigualdade social irá acabar. Tanto os demônios quanto a maldição deixarão o mundo. Dando assim fim a esse sistema de classes distorcido e criando um novo e maravilhoso mundo.

Não tem como negar a mentalidade revolucionária desse discurso. O alvo dele é o mesmo da revolução francesa, mas sua sociedade dá ares de revolução socialista ao seu ideal. Seja como for ficou claro que o foco da obra não é ser uma história policial ou de mistério. Ainda que deva ter esses elementos. O foco é a tão sonhada revolução. Claro, ainda falta o anime esclarecer como isso se dará na prática. Já sabemos qual seu objetivo mas as formas de alcançá-lo, ou de se aproximar dele ao menos, são diversas.

Enfim, o episódio inteiro rodou ao redor dos questionamentos do Albert. Depois de ouvir o discurso do Moriarty ele já sabia o tipo de mundo que queria ver e viver. Contudo, estaria ele disposto a fazer os sacrifícios necessários para alcançar seu objetivo? Ele demonstrou estar. Matando com suas próprias mãos seu odiável irmão. E coloca odiável nisso, é impossível se importar com um cara daqueles.

Ainda assim acho uma coisa bastante engraçada. O Albert se irrita ao ver sua família desmerecer os garotos, inclusive sua mãe que questionou a conduta moral deles. E o que é que os garotos vão lá e fazem? Matam a família inteira! Se aquela família é um exemplo de corrupção aristocrática então aquelas crianças são exemplos da corrupção plebeia.

E ninguém precisa negar isso. Pois como disse a maldição  “contamina o coração das pessoas”, então o mesmo é valido com a plebe. Porém esses últimos são as vítimas da corrupção, podendo justificar a própria corrupção moral, ainda mais tendo em vista seu objetivo. Para eles suas ações e crimes são justos tal como seu fim.

Agora, sobre as complicações e os perigos dessa forma de pensar eu vou deixar para o próprio anime explorar. Enfim, o episódio foi muito importante para o desenvolvimento da trama. Que por sinal ainda tem muita coisa para esclarecer, pois ainda não sabemos o que esta história será.

No final não fiz nenhum elogio real, mas aqui farei. O episódio também tem suas qualidades, destaco a parte técnica do episódio. A trilha sonora me agradou bastante. E a mudança da paleta de cores para um tom avermelhado próximo do final é algo muito destacável.

É isso, até mais.

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