15 de novembro de 2020

Quem nunca comeu miojo que taque a primeira pedra. Pois bem, após uma épica aventura por Kara no Kyoukai, tiro uma semana para relaxar e apreciar, não o prato macarrônico típico do japonês médio, mas sim o resultado de marketing da empresa mais famosa, ou ao menos mais artística, do pedaço. Cup Noodles. O vídeo aqui resenhado em questão, é uma ambígua produção, explico. Primeiramente temos a efetivação de um projeto de propaganda, comerciais curtos de TV protagonizados por personagens marcantes de diversas obras. Aqui, em destaque, pelos lendários piratas do chapéu de palha. A pegada desses comerciais era realocar os carismáticos protagonistas em releituras de eventos marcantes que representam a obra de Oda, seja no que tange ao mangá ou ao anime. E para efetivar essa homenagem, inserem o logo da marca de macarrão instantâneo como elemento central na interação dos personagens. O interessante desses comerciais, e aqui foco no de One Piece, é que são incrivelmente bem feitos, respeitando e muito a atmosfera e mesmo a trama das obras originais, reinterpretando e oferecendo alma e nostalgia, uma homenagem, em relação ao universo ante ao qual emprestam a vida, e com o qual efetivam uma parceria. Clamo a vocês, quer já tenham assistido ou acompanhem One Piece, ou não, a apreciar o resultado desses comerciais, mas acima de tudo, ao resultado do seguinte vídeo: O vídeo em questão pode ser entendido como um AMV, ou mesmo um clipe musical, já que é indissociável de sua trilha de fundo, que marca emocionalmente os momentos admiráveis da animação. Com a trilha e o ritmo da banda Bump of Chicken, a qual carrega as emoções pela voz e sonoridade, misturadas a miscelânia de cores e momentos, com um traço excepcional e uma animação de tirar o fôlego, imergimos na música, nos sentimentos, nas alegrias e amores que sentimos pela obra original. Quem conhece One Piece, se emociona profundamente, quem não conhece, pode apreciar o ápice de uma obra de arte. Discordam que seja uma obra de arte? O vídeo clipe, ou AMV, é regado de imagens estáticas que são absorvidas pela animação e pela sincronia da balada musical, imagens de uma qualidade artística e expressiva absurdas, que não apenas impressionam pela beleza e pelo delicado design, mas acima de tudo pela capacidade expressiva que se desdobra, captando a essência da personalidade daqueles que reinterpreta. Não bastasse o belo traço e a animação sinérgica, temos uma história sendo contada pela narrativa visual. A história nos apresenta o percurso dos Mugiwaras em seu amadurecimento e transição, sua formatura, a maioridade, o crescimento e o cruzar para a fronteira do mundo. A amizade de todos pulsa intensamente enquanto apreciamos os momentos e as memórias de sua vida estudantil, à qual é lindamente representada por inúmeros momentos retirados da obra principal, releituras que apresentam personagens dos mais diversos do universo de One Piece, que trazem a tona elementos que não apenas enriquecem, mas contribuem plenamente para contar a história de um percurso de vida e de um rito de passagem para a melancólica despedida do ambiente escolar. As fotos de percurso, os momentos da passagem, as imagens estáticas ornadas pelos sentimentos vivenciados, representados pelas cores que carregam, junto a melodia, a melancolia de toda a paleta das emoções humanas. O AMV não se contenta em desenvolver um fio narrativo interno, mas em apenas cinco minutos, dentre os quais bamboleia cores psicodélicas, apresenta individualmente cada personagem dos chapéus de palha, contando a história de cada um em sua privacidade e particularidade de vida. Todos são adequadamente contextualizados e, por mais que os momentos apresentados façam sentido apenas para àqueles que conhecem a obra original, mesmo assim, mesmo que seja apenas um leigo, é possível se perceber uma estrutura que a palavra bem feito e primoroso mal consegue acompanhar, é um deleite de delicadeza em fluxo de competência. É uma obra prima como clipe musical, é um AMV sublime no que tange a essência da palavra, e não apenas isso, é uma ode e uma homenagem ímpar e de generosidade absurdas. Esse pequeno pedaço de animação expressa tudo o que pode e sem tropeçar em momento nenhum, todos os elementos estão interconectados, sejam eles no que tange a história e proposta interna reinterpretativa, seja no âmbito de consideração e utilização do cânone base. Vejam uma, duas, três vezes ou mais, os detalhes e as conexões poéticas, a densa construção de personalidade que cada elemento e que cada um dos protagonistas representa, a condução e a utilização da criatividade para preencher o fluxo que amarra um momento ao outro, uma história a outra, agrupando lentamente a todos e a todos oferecendo um desfecho pessoal e coletivo, um grupo que é apresentado em detalhes através de todas as suas partes, onde os vincos da narrativa dissolvem as fronteiras ao ponto de que é indistinguível a consideração da parte sem o todo. E em destaque, a narrativa do Luffy, é apenas genial. Sei que é um AMV que faz muito mais sentido para aqueles que conhecem a obra base, mas acredito que qualquer pessoa que tenha sensibilidade e estrutura de leitura em relação a animação e fluxo narrativo, não pode deixar de considerar esse pequeno pedaço de vida como uma obra prima. Uma nova jornada se inicia. Curtir isso:Curtir Carregando...

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Dia: 15 de novembro de 2020

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