Gosto do pragmatismo do Nanami porque ele quebra um pouco do clichê da figura mais velha que acaba sendo ajudada pelo protagonista ou se arrisca quando não era exatamente necessário. E não era aqui, não é a função do Nanami enfrentar e tentar derrotar um inimigo com chances reais de ser mais forte que ele, então bastava que desviasse sua atenção e o contivesse para sair de cena em segurança, até porque já estava machucado e ainda era preciso ficar de olho no Junpei, o qual, aliás, teve seu destino praticamente traçado nesse episódio. É hora de Jujutsu Kaisen no Anime21!

Como o Yuuji e o Junpei fazem amizade fácil, né? Aliás, isso vale para praticamente qualquer jovem hoje em dia, basta que tenham um assunto em comum que pode nascer um papo e assim se descobrir uma afinidade. Foi assim que acabei entrando para este blog e realmente curtindo escrever sobre animes, ainda mais um como Jujutsu Kaisen, que penso ter se aproveitado bem do clichês dos personagens secundários que surgem com uma função bem definida na trama. A simpática e mente aberta mãe do Junpei surgiu nesses moldes, assim como o filho, mas ele foi mais “personagem”.

Antes de focar no que acontece com ela, gosto da análise que o Nanami faz do Mahito e de como deixa claro, sem necessariamente dizer com todas as letras, o quão perigoso a maldição já é e ainda pode ser, afinal, é uma existência nova e bastante imprevisível sob o ponto de vista dos feiticeiros. Do outro lado da moeda, temos de referência ao clássico Náufrago a discussão sobre tornar ou não opção tirar uma vida, e posso dizer que curti a maneira objetiva e clara como as cartas foram postas na mesa entre os garotos, que não parecem nada garotos discutindo o peso de uma vida.

Na verdade, o peso de uma morte e o precedente que ela abre para carregar o peso de outras. Gosto muito de protagonistas que mantém um “eu” ideal a base de muito esforço, mas questiono se existe mesmo a opção de não matar nesse tipo de história? E se ela existe, é mesmo crível que seja sustentada? No caso específico de Jujutsu Kaisen eu acho que não, e isso mesmo que os principais inimigos sejam maldições, e não seres humanos, porque não deve ter só o Getou trabalhando ao lado dos vilões, né. Além disso, como descartar a “humanidade” de uma maldição como o Mahito?

Não é nem que eu esteja querendo dizer que ele seja humano, mas não parece demais com um? E quando a maldição com inteligência humana ou o próprio feiticeiro do mal tentar fazer mal a terceiros ou mesmo a outros feiticeiros, existe mesmo a opção de se omitir da ação? E nem se trata de dar valor diferente a uma vida, mas, honestamente, se o peso de tirar uma vida for maior do que a convicção de proteger uma que precisa ser protegida, então não há condição alguma de querer proteger alguém em primeiro lugar. O Yuuji deve entender eventualmente que a pergunta certa é outra.

E depois do que ocorre com a mãe do Junpei, como se omitir? Não que o Yuuji vá matar alguém pela crueldade feita com ela, mas dá mesmo para julgar o Junpei por novamente se deixar manipular em seu momento de maior fragilidade emocional? A única família que o garoto tem é tomada dele e tudo aponta para o envolvimento de maldições com uma prova fake plantada para alimentar a narrativa do Mahito. Não teria como ele não direcionar seu ódio a quem ele pudesse achar que queria seu mal e não teria como ele fazer mais que se deixar guiar por todos esses sentimentos ruins.

Seria esperar demais de um personagem que desde o princípio foi pensado para trazer questionamentos à tona, os quais se afastam de conceitos de bondade ou maldade primários e contextualizam coisas obviamente mais complexas. Junpei não é vítima, ou ao menos não só isso, e nem é só vilão, ou ao menos não só isso. Em parte ele é um, em parte ele é o outro, ao mesmo tempo em que não dá para julgá-lo por partir para a violência quando a mãe é morta, possivelmente tendo sido estuprada, e mantida viva (os sacos de gelo foram para isso, né?) até perder a consciência de uma vez.

Como fica claro após o relato do assassinato, tem o dedo podre do Mahito (não só o dedo podre do Sukuna, que entrou de laranja nessa história) nisso tudo. Como eu bem escrevi no artigo passado, ele só estava usando o Junpei e dessa vez descobrimos o porque, para forçar uma “inversão de papeis” entre o Sukuna e o Yuuji, a qual interessa ao grupinho das maldições, mas também poderia render cenários interessantes para alguém em “fase de testes” como o Mahito. Vamos dizer que o Mahito é extremamente poderoso, mas quer saber onde ele se encaixa na cadeia alimentar, não faz sentido?

Não sei se é bem isso (na verdade, não lembro, pois já li esse arco no mangá), mas parece, né? De toda forma, o plano também foi interessante para o Getou, cujas intenções dá para deduzir facilmente. Por mais que Sukuna possa representar uma ameaça também para as maldições, é claro que é mais provável que tome o partido delas em um eventual conflito direto no qual ele já tenha recobrado melhores condições. Para isso ele vai precisar dos dedos, né, ou de outra forma não terá como recuperar sua forma original, usando o Yuuji como receptáculo até esse grande momento.

Quando ou como isso vai acontecer (aliás, se vai mesmo) é outra história, mas não é difícil entender as intenções dos personagens de acordo com suas personalidades e ações, ao mesmo tempo em que não deixou de ser interessante e consistente a forma como esse arco se desenvolveu até o clímax, que eu imagino que será dividido em dois episódios. Pelo que lembro é muito conteúdo para ser adaptado em apenas um, ainda mais se a ideia for rebuscar bem para fechar com chave de ouro o primeiro cour desse anime, certamente um battle shounen padrão, mas nem tanto, não mesmo…

Houve até a sensibilidade em mudar um pouco o tom do passei juju, que ainda foi cômico, mas apelou mais para referências, ainda por cima a um anime que tem sim bastante comédia, mas na verdade é absurdamente sombrio o tempo todo, nas entrelinhas. EVA marcou o mundo otaku (na verdade, ajudou a defini-lo como é hoje), o que Jujutsu certamente não fará, mas se ao menos for importante o suficiente para ser homenageado assim um dia imagino que Gege Akutami não terá o que lamentar. Esse episódio não precisava mesmo de passeio juju, mas homenageou EVA, o que significa…

Até a próxima!

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