Se antes escrevi que a Nana estava amolecendo, dessa vez ela se desmanchou em frangalhos, mas espero que você não ache que foi do nada, a construção para esse momento foi meticulosa e vem há muitos episódios nos brindando com aspectos mais humanos da assassina a sangue frio.

Não é como se eu estivesse aqui querendo defender a Nana, longe disso, mas certamente não irei crucificá-la, ainda mais quando há todo um contexto por trás de suas ações. Dessa vez a Nana atingiu o verdadeiro fundo do poço, e não por fracassar em seu objetivo, mas sim por questioná-lo por inteiro. É hora de ver a Nana preocupada com alguém no Anime21!

A preocupação disfarçada de conveniência (com a Nana tentando se convencer de que era útil manter a Michiru viva) chegou quase a ser fofa e se foi pouco para redimir a personagem, muito pouco mesmo, certamente foi o suficiente para mostrar o quanto ela tem princípios.

Não que o telespectador mais atento já não tivesse percebido, mas não é dessa episódio que a Nana questiona a natureza de suas vítimas e pensa até em poupá-las, mas sim, foi a primeira vez que ela cuidou de uma, se preocupando com ela ainda que tentasse dizer para si que não era nada disso, quando era amizade.

Aliás, como não ficar amiga da Michiru, hein? Sei que esse clichê da personagem boazinha demais, abnegada ao extremo, às vezes é irritante, mas se depois do que a Michiru revela sobre seu passado (também com uma estrutura bastante clichê) você não se sensibilizou nenhum pouco com ela sim, o prolema não é ela, mas você.

Pensa só no quanto a Michiru não deve ter se culpado por não ter conseguido curar a amiga e usado essa frustração como motivação para seguir em seu caminho quase suicida de ajudar o próximo? Não à toa ela quer tanto ajudar os outros e chateou a Nana por isso.

A cena em que a Nana fica com raiva da amiga porque ela tenta curar seu machucado foi bem emblemática do quanto a Nana já se importava com a Michiru, até o ponto em que não teria mais como machucá-la, mas se faltava uma coisa para ela perceber isso esta era entender o passado dela, quem ela é, o que escondia por trás de tanta gentileza.

Como quase sempre em animes (quase sempre em qualquer história) era tristeza, uma história triste que pode até parecer pré-fabricada, mas nunca perde o efeito. Como não se sensibilizar com a simpatia e inocência da azarada Hitomi, não é mesmo?

Por um momento eu, inocentemente, achei que ela realmente tivesse uma mãe doente e buscasse ajuda para ela, mas não, era para ela mesma e dado tudo que sabíamos da habilidade da Michiru era claro que ela não poderia ajudar e que a amiga falecer seria triste, mas encaixaria bem com o perfil da personagem.

A Michiru é alguém que antes mesmo de conhecer a Hitomi já pensava em ajudar o próximo e o fazia, mas se tornou praticamente obcecada com isso após perdê-la. Aliás, o desmaio e a febre dizem muito sobre isso, não é qualquer um que tiraria o pé de um gato da cova para correr o risco de acabar assim.

A Michiru pode ser uma personagem extremamente clichê, ter um passado triste extremamente clichê e se aproximar da Nana por um motivo extremamente clichê (a Nana tem um perfil tão altivo que não denota certa fragilidade escondida?), mas, mesmo assim, dá para se sensibilizar com a personagem e entender porque a Nana mudou após se aproximar dela.

Por exemplo, quando a Nana pensou em poupar a Yuka já havia virado amiga (mesmo que até ali mais por conveniência) da Michiru, mas não foi só daquela vez, houveram outros momentos em que ela questionava a necessidade de matar ou o perigo que os talentosos representavam.

Com os últimos acontecimentos ela passou a se aproximar ainda mais da Michiru e aí vimos mais do lado humano da Nana e como ela também é uma vítima de toda essa situação. Sim, uma vítima. Dá para ser culpado e vítima, ou você acha que, por exemplo, quem comete racismo não pode sofrer racismo e reclamar disso?

É um exemplo meio estranho, mas se um erro não justifica o outro, também não o dá aval para acontecer. E sim, esse episódio escancarou algo que já estava meio evidente, como a Nana é controlada com algo efêmero, números em uma tela, que para ela parecem uma jóia, mas são no máximo ouro dos tolos.

Como calcular o potencial de mortes que uma pessoa pode causar? Isso sequer fazia sentido? Pensando bem, não (me desculpe se achei que fazia), e a figura do mestre dar as caras agora pode parecer desnecessário se não houver uma segunda temporada (talvez seja anunciada ao final desta), mas certamente deve causar a confusão necessária na personagem para ela não largar o osso de vez.

Mas isso ao mesmo tempo em que questionará aquilo para o qual foi criada, matar por um bem maior. Porque a Nana mata por seu ideal, há certa dignidade em sua forma de pensar, o que pega é que o ideal dela é uma mentira.

É muito provável que nem mesmo aqueles que a fizeram ser assim acreditem na pureza do ato de matar os talentosos para proteger os humanos, o que não desqualifica o perigo que os talentosos podem representar mesmo jovens, mas certamente escancaram o quanto a Nana foi fantoche nas mãos deles.

Foi, mas ainda será? Não sabemos, só do que dá para ter certeza é de que sim, se aproveitaram da fraqueza de uma criança para torná-la um soldado descartável e que ciente dessa realidade (ou ao menos começando a acordar para ela) a Nana deve mudar, ainda que não mude radicalmente de uma vez.

Porque não deve ser fácil lutar contra tudo que ela acreditava ser o certo a se fazer até agora, descartar isso e buscar um meio termo. A Nana me lembra um pouco o Junpei de Jujutsu Kaisen com seu “cúmulo da tolice”, mas o caso dela é ainda mais compreensível dada a idade com a qual perdeu os pais e a lavagem cerebral sofrida.

Só assim mesmo para ela achar que matar pessoas em formação física e psicológica seria justificável por essas pessoas terem habilidades especiais. Não que não haja lógica em matar os talentosos, mas quem seria ela para decidir isso? E como decidir isso para pessoas em formação? Como separar o joio do trigo?

Mesmo que se pense no ato como prevenção de um mal maior, executá-lo não se torna menos cruel por isso. O problema é que a Nana estava cega demais para perceber a inconsistência das instruções que havia recebido, assim como das circunstâncias que envolviam sua missão, além, é claro do objetivo.

Para ela era necessário matar pelo bem maior, mas na verdade isso só atendia as demandas indiscriminadas de quem não pensa no bem maior porcaria nenhuma. Se pensasse mesmo, não enquadraria todos os talentosos como assassinos em massa em potencial quando alguém como a Michiru jamais seria capaz de matar, pelo contrário, é mais fácil dar sua vida para salvar a de alguém.

Espero que isso não aconteça, mas tenho a sensação de que alguma hora, seja no episódio final ou em uma possível segunda temporada, ela pode mesmo fazer isso, e para salvar a vida da Nana, seja se jogando na frente de um tiro que vá na direção da vilã ou sacrificando a própria vida para revivê-la.

Porque se para tirar um gato do penhasco da morte ela ficou super doente, imagina fazer isso com um humano talvez em estado até pior? Seria um desenrolar cruel, mas não inesperado, e que impactaria demais a Nana. Contudo, mesmo sem isso, só a história da Michiru já foi o suficiente para fazê-la perceber o quanto estava sendo tola.

Infelizmente, não sabemos o quanto ela acordou e o quanto ela mudou sua forma de pensar, mas certamente alguma coisa mudou drasticamente nela e devemos ver o resultado disso próximo episódio, assim como espero uma explicação razoável para o aparente esvaziamento dos professores da ilha e a ido do “mestre” da Nana para lá.

Vão tentar erradicar todos os talentosos de vez? Mas como farão isso? Em um episódio só não vai dar para resolver toda essa situação (ainda nem sabemos quem matou o gordinho boa pinta), então isso me dá muitas esperanças de que anunciem logo uma segunda temporada e nela a coisa mude muito de figura.

Pois não vejo como a Nana seguirá matando indiscriminadamente após tudo isso. Não digo nem que ela não matará mais (tem outro assassino no meio dos estudantes), mas duvido muito que mate alguém bonzinho como o Nanao ou a própria Michiru, e caso se entregue ao Kyouya, talvez os dois trabalhem juntos contra quem quer matar os estudantes.

Não seria um desenrolar mais interessante? Repito, os crimes dela não vão ser apagados mesmo se deserdar da organização para a qual trabalha, mas do que vai adiantar mantê-la presa quando a vida de todos parece cada vez mais em risco? O professor de crime dela não vai para a ilha a passeio, né…

Por fim, posso parecer um bobão ao escrever isso, mas não consegui evitar de me comover com a história da Michiru (e nem quero chegar ao ponto de ser tão insensível para não ver nada de bacana nesse tipo de drama), tenho gostado cada vez mais do desenvolvimento da Nana (se ela fosse um garoto não seria xingada de “puta” e coisas do tipo comunidade otaku afora, duvida?) e o anime tem tudo para ter continuação (ou ao menos eu quero acreditar nisso).

Esse episódio foi emocionante e muito positivo para o desenvolvimento da heroína em mais que uma assassina, em mais que uma mera vilã; mas um ser humano suscetível tanto ao pior, quanto ao melhor, da natureza humana.

Até a próxima!

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