Niwatori Fighter (Mangá) – Se ficar o galo enche de porrada, se correr também – Primeiras impressões
Niwatori Fighter é um mangá de Syu Sakuratani lançado na revista Monthly Hero’s. O autor já havia produzido um mangá chamado T-Dragon entre 2015 e 2019, mas dessa vez sua história não tem a ver com dragão e sim com galo, um galo garanhão, brigador e digno; além, e não menos importante, de dotado de super força e outras habilidades especiais. Quem é Saitama perto desse galo bom de briga?
Essas premissas absurdas que claramente brincam com premissas já existentes são um prato cheio para a zoeira e com Niwatori Fighter não poderia ser diferente. O protagonista é um galo migratório mais descolado que protagonista de battle shounen, porque é mais objetivo, não só em sua vida sexual, mas também em sua vida de herói, além de já ser bastante inusitado ver um galo pensando em frases feitas e exalando marra por onde passa.
Não sei se você vai concordar comigo, mas esse mangá não lembra um pouco One Punch Man? Talvez o galo não seja invencível, aparentemente não é, mas os monstros parecem aproveitar figuras do cotidiano, surgem do nada e destroem a cidade espalhafatosamente. Além disso, o herói em si é a piada, aqui não porque derrota os inimigos com um soco, mas porque é um galo. De onde surgiram seus poderes? Treinamento ele não deve ter tido.
O máximo que sabemos de seu passado é que ele quer se vingar de um certo alguém, um monstro com uma marca no pescoço. Aliás, se existem monstros nesse mundo, por que não existiria um galo com poderes especiais? Faz sentido, assim como as piadinhas com frango e a peculiaridade de ver um herói animal tão humanizado. Kokesuke (vamos fingir que o nome dele é esse, pois não dizem) tem personalidade, tem desejos e também valores.
Não é apenas um galo com superpoderes, mas um galo com superpoderes e marra de herói, só que não propriamente um herói da justiça abnegado e sim alguém que age por bondade sim, mas também por desencargo de consciência e interesse próprio, o que não minimiza o heroísmo nas ações do galo, que inclusive salva gente que não gosta, como crianças. Não odeio crianças exatamente, mas sou obrigado a reconhecer que faz todo sentido um animal “indefeso” odiá-las.
Uma menina oferece KFC ao protagonista (sério, o quão sem noção uma criança pode ser?), enquanto outros dois garotos correm atrás do galo para “brincar” com ele. Não teria como ele gostar de crianças, mas por outro lado ele gosta do velho que lhe salva de uma enrascada, lhe dá comida e o conta a sua singela história de velhice. Aliás, se o prota é tão poderoso, por que correu com medo das crianças. Será que a filosofia dele é não bater em humanos?
Deve ser isso. De toda forma, o achei bem gente boa e até irreverente pelas frases feitas e jeito mais durão, como se ele fosse uma paródia dos heróis enlatados de mangás clichês de ação. Não acho que o personagem seja muito mais profundo que isso (li apenas os dois primeiros capítulos e inclusive indico que leia os dois, são a apresentação da obra), mas há uma certa sensibilidade e até comicidade, em suas ações.
Um herói “brucutu” talvez só se retirasse fazendo pose, mas não, ele ajudou a limpar a bagunça antes de sair discretamente. O Koresuke não quer lograr com seus atos de heroísmo, ele apenas usa seus poderes para o bem do próximo enquanto busca satisfazer seu próprio desejo. É um herói mais palpável que muito herói abnegado clichê de battle shounen, até porque a revista é seinen, crianças dificilmente comprariam a ideia.
Pelo menos não em sua plenitude, acho mais fácil um público mais velho e já mais desgastado com os clichês de mangás de ação curtir. Tem até a zoeira com a galinha que o esqueceu no período de um dia, mostrando que o autor está disposto a brincar mesmo com os pontos mais característicos do protagonista, e tudo isso sem necessariamente se vender como um mangá cômico. O absurdo da ideia já é engraçado por si só.
Por fim, acho que esse tipo de obra se sai melhor quando abraça o absurdo, mas mantém um pouco os pés no chão, senão se preocupando em dar explicações lógicas para detalhes interessantes, se apegando a coerência narrativa e a criatividade como grande atrativo. Quem diria que um galo deixaria os heróis de battle shounen no chinelo e que criança sabe distinguir galinha de galo. Esse mundo está uma loucura, não é mesmo?
Até a próxima!