Gangues, intrigas, super poderes e muita desordem, essa é a base de Project Scard e embora pareça interessante, por ter um cenário misterioso que é próprio para despertar o nosso interesse, aqui isso se torna um iminente problema que clareia o quanto esse anime precisa de um salvador – e que com certeza não é o Chapolin Colorado.

Kai e seu irmão vivem na Tokyo Akatsuki Special Ward, um pedaço da cidade que é praticamente um estado independente de seu território, um lugar onde o risco é uma constante e o controle é daquele que detiver o poder.

Essa cidade separada é palco de inúmeras disputas de poder, justamente por não contar com qualquer influência do governo, onde cada um faz as suas regras e segue a sua própria conveniência.

Logo de cara eu gostei dessa divisão, e de toda questão que envolve a guerra política não só interna da região, como também com aqueles que estão do lado de fora desse núcleo, que almejam igualmente ter o controle do que é feito entre os grupos ativos ali – o pano de fundo é bom, mas vamos com calma.

Nesse meio complicado de se viver, o protagonista e o irmão são dois jovens normais e gentis que apenas querem descobrir como seguir em paz. Kai também tem uma personalidade justiceira que eu acredito ser fruto da sua experiência de vida, natureza essa que lhe permite sobreviver e ser útil.

O irmão menor já me parece mais desconectado da realidade do lugar, porém percebo que isso se deve mais a intervenção do outro, por querer protegê-lo demais. Algo também que não foi explicado, mas é mostrado, é que todos os moradores do lugar e de fora, conhecem aqueles que tem os poderes conhecidos como Scard – daí as gangues formadas.

Não se explicou a origem desses poderes exclusivos e nem como funcionam exatamente, mas dentre os vários usuários, o mais famoso é Arashiba Eiji, que atua como um herói local, servindo ao propósito de manter o que mais se aproxima de uma ordem comum – ainda que ele mesmo não busque pensar como tal.

O choque entre essas duas nobres pessoas cria um pequeno vínculo, que é o suficiente para que eles partilhem seus ideais e acabem encontrando uma afinidade na tentativa de serem de fato os protetores dessa cidade anárquica.

Para a infelicidade de quem gostou do jeito descolado de Eiji, o episódio traz em seu clímax um inimigo desconhecido, responsável por obrigar o rapaz a se sacrificar pelo novo amigo, que agora herda seus talentos e a responsabilidade de ser o herói que esse lugar precisa.

A decisão aqui foi corajosa, mas acho que infeliz, pois o personagem foi de longe o mais interessante de todos os que foram apresentados e perder ele tão cedo não é bom, mas como não se confirmou nada ainda, pode ter salvação.

Algo que ficou bem marcado é que todas as gangues parecem ter um certo nível de respeito entre si, ainda que duelem e queiram reinar, sendo comum a todas o desejo de expulsar qualquer forasteiro da outra parte da cidade.

Eiji parecia ter uma boa relação com todos, então a troca pelo Kai me parece bem problemática nesse sentido, quem sabe como farão para dar ao moço o reconhecimento e a esperteza para lidar com todas as questões que envolvem seu lar.

Já comentando um pouco sobre os demais personagens, todos possuem o look bonitão e poderes absurdos, mas nenhum foi devidamente exposto na estreia. Fora os protagonistas quem me chamou atenção foi a Azusa, que parece ser a líder de uma gangue secundária que é mais “amistosa”, assim por dizer, no mais nenhum outro se sobressaiu.

Falei isso tudo, mas até então não apontei onde estão os erros dessa estreia, afinal o que deu errado? Bom, vou começar a destrinchar onde começa a bagaceira.

A animação foi uma das coisas que mais me angustiaram nesse episódio, porque embora eu goste do estilo único do estúdio, dessa vez o 3D estava estranho – horrível mesmo – e infelizmente ele destoa demais do restante, causando uma agonia visual que só piora com as movimentações de câmera e os efeitos. Se algo salva, é a coreografia das lutas, mas sozinha ela não fará milagre.

A direção e o roteiro estão por conta da mesma dupla responsável pelos fracassados Hand Shakers e W’z, não a toa os três são parecidos em tanta coisa além do estúdio, sendo essas semelhanças outro ponto defeituoso. Tenho medo do que esses dois farão com essa nova peça em mãos e o histórico deles não ajuda.

Uma coisa que particularmente me incomoda muito nessas obras recentes da Go Hands produzida por eles – e inclusive acho que sejam “a cruz” dessas adaptações -, é o fato de elas terem até um conceito interessante, mas na prática serem algo completamente desconexo, pela falta de tato na condução do enredo e na organização das ideias.

A impressão que tenho é que embora pudessem trazer algo diferente, até porque conseguem criar uma ambientação que te instiga a curiosidade, esses animes também carregam consigo uma execução lenta e confusa.

Na tentativa de parecerem mais edgy, misteriosos, filosóficos e inteligentes do que de fato são, a narrativa fica prejudicada pela colcha de retalhos feita com esses vários elementos, e acaba passando longe de um bom resultado em qualquer um deles – aqui eu já vejo sinais disso.

Project Scard começa de um jeito complicado, tem pontos que podem ser aproveitados, outros não, mas sinceramente não sei o que dizer, apenas estou sem qualquer expectativa positiva para ele. Por isso, torço para que esse anime encontre um herói que o salve de sua própria confusão.

Agradeço a quem leu e até o próximo artigo!

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