Witch Watch (Mangá) – O match entre um ogro e uma bruxa – Primeiras impressões
Witch Watch é o mais novo mangá de Kenta Shinohara (SKET Dance, Kanata no Astra) lançado no Japão na revista Weekly Shounen Jump e no ocidente no app Manga PLUS da Shueisha.
Na história acompanhamos Morihito e Niko, um ogro e uma bruxa que são amigos de infância, mas passaram alguns anos longe um do outro e acabam se reencontrando em uma situação incomum, os dois vão morar juntos e ele será o familiar da bruxa.
O que de tão fantástico essa comédia misturada com romance nos entregará?
Só conheço SKET Dance de ouvir falar e não vi ou li a obra mais recente, Kanata no Astra, do autor, mas até onde sei Shinohara é conhecido pela comédia e posso dizer que Witch Watch não me decepcionou nesse ponto. Não que tenha achado tão engraçado assim, mas os gêneros da obra deram match sabe?
Tem comédia e tem romance e apesar de algumas ressalvas a fazer, principalmente sobre o segundo, gostei da mistura porque dentro de seus moldes os personagens foram até que bem apresentados e o que foi a trama no piloto dá margem para ambos os elementos. Teve até certa seriedade no final…
Enfim, Morihito (ou Moi, como Niko o chama) é um ogro, um descendente de familiares de bruxas que viraram humanos com o tempo, mas mantiveram certos poderes como a força bruta, que o Morihito se questiona tanto sobre usar ou não, mas acaba aceitando sua natureza na hora H. Como de praxe.
Enquanto isso, Niko passou seis anos treinando no mundo das bruxas, mas volta ao mundo humano para ter Morihito como familiar e viver com ele. A heroína é bem avoada e fofa, mas nesse piloto o que acaba se destacando é sua grande paixão pelo amigo de infância, a qual pelo menos faz “sentido”.
Não que paixão precise fazer sentido em primeiro lugar, mas pelo menos as circunstâncias dos dois dão margem ao interesse amoroso de um pelo outro e ela até enumera algumas qualidades dele.
O que eu acho uma pena é que o sentimento não é claramente mútuo, o mangá cai no clichê da garota ser a primeira e, pelo menos por um bom tempo, a única a se apaixonar. Tudo bem que o protagonista segue o estereótipo de personagem sério, centrado até demais; mas por que sempre precisa ser denso?
E o pior é que ele age como se gostasse dela sabe, é carinhoso e atencioso o suficiente para que o leitor suponha que também a ama, só não percebe o que sente. O autor, um veterano de sucesso, perde a oportunidade de sair um pouco do lugar comum.
Mesmo assim, não é como se essa construção fraca botasse a perder a série, que acaba se destacando nas pequenas tiradas cômicas e na expositividade da paixão que Niko sente por Moi, além, é claro, e mais importante, da situação problema do piloto, a qual é bem apresentada, trabalhada e concluída.
Porque não foi preciso de nada externo para que um problema surgisse e esse problema acesasse a construção de personagem do protagonista, a qual nesse primeiro momento parece muito centrada em sua força, na imagem ruim associada aos ogros que ele queria de evitar, mas não “consegue” e isso por ter a Niko como catalisadora desse sentimento.
É devido a seu desejo de protegê-la que ele decide aprender a controlar sua força e a usá-la na hora em que se faz necessário. Assim que a Niko de papel foi parar no pequeno vão entre os muros eu já esperava que ele destruísse a parede, libertando a garota sem ferimentos. Foi previsível, mas legal porque na simplicidade muita coisa foi trabalhada.
Ele percebeu o equilíbrio que precisa ter no que se refere ao uso da própria força, os dois acabaram se aproximando em meio a uma situação estressante e foi dada abertura para que revelassem a verdade por trás do pacto de familiar decidido para os dois.
Mesmo que o mangá seja de comédia ele virar um animal, ou melhor, uma espécia de quimera, só por recusar fazer um pacto de familiar incomum seria meio exagerado, né? Tinha caroço nesse angu e era a premonição envolvendo a heroína. Felizmente, a mãe dela é aprendiz do Dr. Estranho e descobriu que reaproximar os dois poderia evitar a tragédia.
Esse objetivo final agrega a trama e até mesmo justifica o herói ter aceitado algo que recusara a princípio. Porque revê-la e se reaproximar dela era algo até do gosto dele, óbvio, mas virar familiar só ocorreu por causa das circunstâncias. Ou melhor, foi melhor aceito por causa delas. Para evitar o pior para alguém que você gosta vale um sacrifício, né?
Além de virar o guarda-costas de uma garota para lá de avoadinha ele vai ter que viver sob o mesmo teto que ela e é aí que eu acho que o mangá tem uma ótima oportunidade de explorar o romance e a comédia porque devem surgir situações das mais constrangedoras entre os dois e as personalidades diferentes deles podem potencializar a comicidade.
Isso já ocorreu um pouco nesse piloto pelo menos no aspecto da comédia já que a Niko é desajeitada e o Moi um pouco hesitante demais, o que também pode aumentar pequenos problemas, tornando -os maiores do que eram no começo. Na falta de um grande foco de conflito o dia a dia pode ajudar, né?
Aliás, deve, afinal, os dois vão morar juntos e não são nem namorados, mas ela está apaixonada conscientemente e ele não, só que uma hora ele vai perceber que quer dar match com ela (mesmo se nâo souber que é recíproco), certeza, então até lá devem se amontoar situação constrangedoras e depois que as cartas estiverem na mesa também.
Porque a tendência é uma baita enrolação antes dos dois namorarem, mas o casal vai se formar até o final, isso é certeza, e o poder do amor (ainda que indiretamente) vai salvar a vida da Niko, uma personagem que eu gostei bastante. Me incomoda o amor unilatetal dela, mas ela é muito simpática.
E as personalidades deles se complementam, né, além de formarem um casal fofo juntos, o que também tem ajuda do belo e consistente traço de Shinohara, que se destaca mais pelo timming cômico e a forma consistente como leva a história, mas não pode ser ignorado pela sua arte visual.
Ademais, Witch Watch (O Guarda-Costas da Bruxa em tradução livre) é um mangá com potencial e parte desse potencial se deve certamente a fama do mangaká, mas não é só por isso, o piloto, apesar das ressalvas feitas, tem mais pontos positivos que negativos e se o mundo e os personagens forem desenvolvidos com o propósito de explorar o melhor da comédia e do romance, e uma pitadinha de seriedade que é bom, tem tudo para dar match.
Até a próxima!