Dentre os destroços os tesouros surgem, bem, ao menos essa é a ideia inicial desse sétimo filme de One Piece. O cemitério de uma batalha é o cenário ideal para arrematar tesouros, mesmo que seja um pouco mórbido, nada mais rico do que um cadáver que abandona as suas poses.

 

 

O baú que os Mugiwara encontram, entretanto, abriga uma velha senhora, uma turista de nome Rohba. Ela agradece aos seus salvadores oferecendo uma lenda, a coroa dourada cravejada pelos ancestrais de seu povo.

Sendo bem sincero, a ideia desse sétimo filme é essa mesma, jogar os protagonistas, ou a Nami arrastá-los, para uma aventura completamente descompromissada e aleatória. Receber uma recompensa que nem mesmo a velha sabe onde está. Semelhante ao quarto filme, e não por acaso, esse sétimo é do mesmo diretor que aqui retorna, temos o fluxo de eventos desprendidos de qualquer real densidade.

Luffy e companhia dão carona para Rohba, mas ao chegar em sua ilha de berço, são recebidos por seu filho e amigos, os quais atacam com tudo que tem. Piratas sequestradores, é o que pensam, e até mesmo resgatam a suposta refém.

 

 

Esse começo tranquilo de história, bem humorado e um tanto exagerado no fanservice, digo, literalmente balançando na sua cara sem o menor pudor, também apresenta, e isso surpreende, uma bela animação; sólida, com uma textura de cor e forma que até o momento o baixo orçamento dos demais filmes não permitiu.

É agradável poder admirar o fluxo das cenas, mesmo as distorcidas e mais hachuradas, cedendo espaço para uma viva e intensa luminosidade junto aos detalhes mais pertinentes no traço dos personagens. O filme convence, e isso é bom.

Quanto ao enredo central, é apenas uma linha frágil e um subterfúgio para apresentar uma obra de profundo passatempo. Esse filme é, em todos os sentidos, estético. Adorei as pequenas tartarugas utilizadas aqui e ali para narrar os eventos de construção de cenário, e é realmente interessante partir de um enigma que se desvela lentamente conforme a algazarra do bando se estabelece.

 

 

Cada personagem tem o seu pequeno destaque em interagir com uma situação de tensão zero, onde todos são movidos pelas suas características mais marcantes e rotineiras. A Nami, pela ganância, o Usopp, pela amizade, o Chopper, pela gentileza, a Robin, pela curiosidade, o Sanji, pelo zelo, o Zoro, pelo compromisso, o Luffy, pela aventura. Cada um segue em único tom dentre tantos eventos bem construídos, mas superficiais que o filme apresenta.

O antagonista da vez, o filho de Rohba, Ratchet, é apenas um grande inventor sem noção que pensa que pode conquistar o mundo. Para isso ele não mede esforços, junto aos seus amigos e personagens descartáveis para lutas pontuais, em desvendar o segredo para ligar a lenda, ou melhor, despertar a ilha.

Semelhantemente a Zou, a vila onde habitam, Karakuri, foi construída nas costas de um animal de proporções massivas, no caso, nas costas de uma enorme tartaruga que hiberna por mil anos imóvel como uma montanha flutuante, e, ao acordar, caminha para o seu ciclo de desova e propagação da espécie.

 

 

Ratchet tem por objetivo controlar esse lendário ser vivo, e desenvolveu arduamente mecanismos para esse fim. Durante a inconsequente jornada de Luffy e seu bando, lentamente eles adentram pela verdade da ilha, e através disso, pelo mecanismo que desperta a entidade adormecida.

Não existe real animosidade entre os personagens, apenas uma ambição desmedida por parte de Ratchet, que de inocência multiplica a tolice, é um jovem inteligente e extremamente estúpido, um grande inventor e um completo alienado. Ele obriga a tartailha a seguir suas ordens, ou melhor, a se tornar uma marionete frente aos seus desejos, e é devido a isso que os chapéus de palha acabam colidindo contra os seus interesses.

Não é nada pessoal, Luffy apenas tem que dar um safanão em um sem noção completo, sendo que, esse mesmo Luffy, é um sem noção completo. A promessa do tesouro, a lendária coroa, permanece como uma miragem impossível e nebulosa, mas a sacada final do filme, à qual, aliás, é bem satisfatória, nos revela a verdade sobre esse grandioso tesouro. Como é uma coisa singela, mas agradável, não revelarei aqui, deixo para curiosidade de quem se aventurar por esse filme, mas destaco, essa é apenas a cereja do bolo dessa obra.

 

 

O objetivo principal desse filme, como já mencionei, é desenvolver o cotidiano estético de um evento absurdamente sem sal, ao ponto de não conseguirmos, para além de nos prendermos aos instantes e aos desfechos pontuais que agradam, sequer dar a mínima importância para qualquer coisa ou retirar qualquer intensa mensagem da obra como um todo.

Não podemos menosprezar, é claro, a grande competência com que os personagens e protagonistas desempenham os seus papéis na história, nem mesmo o percurso de suspense e o enigma central que move a todos nesse ambiente adverso; a personalidade narrativa do filme é plena, mas lhe falta alma, lhe falta sentimentos. É uma pena que essa ausência de densidade prejudique um filme que funciona tão bem, e essa é a diferença principal entre esse e o quarto filme da saga, do mesmo diretor, onde no quarto filme temos essas pequenas coisas a mais que engrandecem a casca, a gema e filhote recém-nascido que coroa a obra.

 

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