Todou continuou dando bons conselhos ao Yuuji, mas o que valeu a pena nesses dois episódios mesmo foram os arcos de personagens secundários e as cenas de ação de excelente qualidade, além da trilha sonora sensacional.

É sério, não lembro de ter visto um arco “escolar” tão bom em um battle shounen desde que me entendo por otaku, e não é nem que o esteja achando genial, não é nada disso, é mais pela diversão e as ótimas escolhas narrativas e técnicas que a equipe de produção vem tomando.

Sem mais delongas, é hora de Jujutsu Kaisen no Anime21!

O Mechamaru pode ter uma pessoa por trás controlando a marionete, enquanto o panda é uma criatura artificial, não é controlado por outra pessoa, mas é inegável que dá para traçar um paralelo entre os dois personagens, suas histórias de vida e mesmo habilidades.

O princípio é o mesmo, marionetes (seres artificiais geridos por energia amaldiçoada) têm pelo menos um núcleo e condições para usar suas habilidades, a questão é que ao mesmo tempo em que os personagens se aproximam, eles também contrastam, um até sente inveja do outro.

O feiticeiro que controla o Mechamaru leva uma vida miserável com o próprio corpo e a contrapartida que ganhou foi a de controlar a marionete robótica que usa a uma enorme distância, enquanto o panda ganhou vida pelas mãos do diretor de Tokyo, tendo a vida que o outro queria ter.

O humano é relegado a marionete e o não humano ganha o que o outro não tem ao ser uma. Juntar esses dois personagens e fazê-los lutarem com ótimas coreografia de ação, trilha sonora e estratégias de ambos os lados; além de todo esse pano de fundo de via dupla foi sensacional.

Digo, no mangá esse trecho também é bom, mas se não me engano no anime a luta foi melhor trabalhada e, ainda que de forma simples, deu para ter uma boa dimensão de como são esses personagens e do que o embate significou para eles. Repito, tudo com excelente produção.

Fiquei espantado, pois, por mais que o primeiro cour tenha sido bem animado, esse parece ainda melhor. Talvez seja pela trilha sonora ainda mais azeitada ou pelo roteiro mais agitado, mas a impressão que tenho é essa, que tecnicamente o anime deu um salto e já era bom.

Aliás, impressão nada, visualmente está ainda melhor, as lutas estão empolgando, mesmo as de personagens secundários, tanto que deu para curtir o arco narrativo do Mechamaru e do panda porque ele é bem escrito e a produção extraiu o melhor que poderia dele. Aliás, de todos.

Inclusive do outro arco narrativo abordado mais a fundo no episódio seguinte, o das gêmeas problemáticas Maki e Mai. Enfim, não lembrava que a luta desses dois era tão boa e nem que o panda tem três núcleos e, obviamente, a “irmã” dele foi guardada para uma situação ainda pior, né.

Esse tipo de recurso narrativo é válido em battle shounen, ainda mais quando é usado para resolver a situação de momento, não foi introduzido sem razão, e de uma forma que torne consistente a estratégia do lado do mocinho, mas não torne imbecil a do personagem que o antagoniza.

Inclusive, o Mechamaru dá a entender que é mais forte que o panda (tomando como base a já batida estrutura de classificação de poder para a qual Jujutsu não parece dar tanta bola), o que torna a vitória dele ainda mais bacana, mas nada de tão especial, não teve poder da superação ali.

Enfim, também não tem como não se sensibilizar com a história triste do Mechamaru e as privações pelas quais ele passa devido a condição com a qual nasceu e que praticamente o obriga a ser um feiticeiro, para pelo menos ter algo com o qual se mostrar útil aos outros e até se distrair.

Ao mesmo tempo, não senti pena por parte do panda e nem acho que deveríamos tê-la. A abordagem foi bastante lúcida sobre a situação dura do Mechamaru, mas não se aproveitou disso para justificar suas opções ou ações. Isso, aliás, fica ainda mais claro na luta da Nobara.

Mas antes de comentar ela, não tem como não elogiar o cliffhanger empolgante do episódio 16 e o passeio juju que, mais uma vez, foi bem criativo, se aproveitando do personagem com mais apelo dramático do episódio para explorar outro aspecto até inusitado para ele, a comédia.

Por mais que Mechamaru seja ferrado da vida, isso não significa que não possa interagir normalmente com os colegas, que não tenha nada de “juventude” em sua vida, mesmo sendo sua marionete que interage com as pessoas. Mechamaru tem companheiros com os quais se importa.

E além de se importar, quer caminhar lado a lado com eles, desejo que ele tenta disfarçar com sua atitude mais sisuda e tal, mas é mais fachada, o que também é compreensível, é esperado que uma pessoa como ele erga seus muros ao se relacionar com os outros, para se proteger.

No fim, Mechamaru não é tão diferente assim dos colegas, mas claro, é azarado, mas ao mesmo tempo em que sua condição não o permite viver uma vida normal, é ela que o levou a conviver com os companheiros que tem. Não que não fosse possível ser feiticeiro de outro jeito, mas seria?

Falando agora da Maki e da Mai, a Maki não tem energia amaldiçoada e é justamente por isso que possui habilidades físicas sobre-humanas, foi a contrapartida que recebeu do além, o mesmo caso do Mechamaru, a diferença é que a mazela dele é maior, mas ela tem suas circunstâncias…

A Maki, como a própria Mai fala após a derrota, poderia ser uma pessoa relativamente normal dentro da família, mas claro, seria alguém a parte, não alguém cotada para deter poder ali, e a gente sabe que essas famílias tradicionais no Japão tem toda essa parada de hierarquia e blá blá blá.

Mas o pior para ela nem parece ser isso e sim a sensação de limitação que a condição dela a levaria a sentir se ela não tivesse decidido lutar contra isso, lutar contra o estigma. A Mai foi arrastada para isso por vontade própria e por isso guarda remorso, mas tem como julgar a Maki?

Não tem como porque ela não fez mal direto a irmã em nenhum momento, apenas lutou pelo que queria com as armas que tinha, literalmente armas, afinal, não possui energia amaldiçoada de forma alguma, o que dentro de uma família de feiticeiros deve ser uma condição horrível.

Horrível para dizer o mínimo, vale frisar. Em todo caso, se a Mei Mei é uma diva mesquinha (e uma personagem bem estilosa que ganha mais espaço um pouco mais a frente na trama) e o Gojou um professor superprotetor, onde que esse três grandes clãs entram na história?

Eles ficam meio a margem, mas seus integrantes viram feiticeiros e lutam por reconhecimento, dando ainda mais cores ao que já comentei em artigos anteriores de Jujutsu, que há todo um contexto político no mundo dos feiticeiros que faz seus problemas irem muito além das maldições.

É até por isso que não há consenso sobre a forma de lidar com o Yuuji e feiticeiros se enfrentam de maneira bastante violenta em uma atividade que deveria ser “escolar” e claramente mais amistosa. Menos mal que esses jovens feiticeiros têm bom senso, sabem que não são muitos, né…

Tanto é que a Maki derrota a Miwa sem lhe causar quase nenhum dano e de maneira muito inteligente em uma luta para lá de bem animada e empolgante, ainda que curta. A Maki brilhou demais nesse episódio. Aliás, as mulheres em si porque a Nobara arrasou em cima da bruxinha.

Como ela bem deixou claro, passado triste não é desculpa para ser tóxica e mulheres podem muito bem ser mais que uma coisa, podem ser mais que apenas fofas e mais que apenas fortes. Inclusive, podem ser os dois ao mesmo tempo, ao menos se você expandir o conceito de fofura.

Aliás, dane-se a fofura, feiticeiras são guerreiras da mesma forma que os homens, a bruxinha só falou aquilo por causa da habilidade dela, mais de suporte que de combate direto, pois duvido ver se a Miwa ou a Maki falariam isso, até porque em qualquer missão elas atuam na vanguarda.

A Nobara mostrou que essa mentalidade restritiva relacionada a figura feminina é uma bobagem, e tudo isso arrasando, superando a adversária com muita inteligência e força bruta, mas caindo para outra garota em uma jogada sorrateira, mas coerente, afinal, tudo rolou ao mesmo tempo.

Digo, a ideia de que não existiam adversários pré-determinados e que as lutas poderiam muito bem invadir ou se sobrepor umas as outras foi bem passada, o que, aliás, teve contribuição do domínio do espaço que a direção demonstrou ao usar como quis o modelo em CG da floresta.

Não sei se você percebeu, mas a base toda foi CG, o diferencial foi a animação fluida e mais bem acabada que a média. Isso aliado da mobilidade no uso do espaço proveu cenas de ação bem mais interessantes que o normal, com um sentido de urgência que chegou a empolgar de verdade.

Voltando ao drama das irmãs gêmeas, achei esse arco narrativo compartilhado ainda melhor trabalhado do que foi com o Mechamaru e o panda, pois ao mesmo tempo em que teve um apelo emocional menos pungente com o telespectador, conseguiu aprofundar ainda mais o problema.

Isso, óbvio, foi facilitado pela apresentação das irmãs e do problema delas ter ocorrido antes, ainda que superficialmente. A gente já sabia que a Mai se ressentia com a Maki e que está era uma pária na família, mas o entendimento de que ambas eram tão desprezadas a gente não tinha.

Mesmo que a Mai já tivesse dado a entender que também não teve um caminho fácil para chegar até ali, fico pensando na Maki, que além de também ser mulher (diminuída já por seu gênero), não tinha energia amaldiçoada. Se foi difícil para a Mai, imagina como foi para a Maki?

É por isso que a reação da Mai a resistência da irmã me parece partir mais de egoísmo e infantilidade dela que de algo ruim que a irmã a faz. Aliás, é o contrário, a irmã a motivou a não ser apenas um objeto decorativo em uma casa machista, mas a lutar por seu próprio lugar ao sol.

E como em toda luta para ser reconhecida, mas também se sentir bem consigo mesma, ela teria que sair da estaca zero e é isso, a ação de mudança que carecia das duas se afastarem, que a Mai não perdoa na Maki. Ela queria alguém que a apoiasse na merda, não inspirasse a mais.

Mas a Maki não é assim, ela é uma mulher forte e independente que quer mostrar ao mundo, mas principalmente a si, que ela pode. Acho que ela vai conseguir e espero que no processo a irmã a entenda, e melhor, mude de mentalidade. E que a bruxinha faça o mesmo, convenhamos.

Por fim, após outro passeio juju criativo e até divertido, a prévia do próximo episódio dá a entender que serão explorados os personagens que até agora ficaram de fora e, além deles, maldições. Será que as lutas ficarão ainda melhores? Veremos, eu já estou achando tudo ótimo.

É sério, esse arco está animal em todos os sentidos, estou achando o anime bem melhor do que era no primeiro cour e isso não se deve mais a saudade que sentia dele por ter deixado acumular episódios. Jujutsu Kaisen faz jus ao seu sucesso, é fácil o melhor battle shounen da atualidade.

Até a próxima!

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