O que esperar de uma história sobre uma família misteriosa de sombras, cuja face e expressão são as suas bonecas vivas? Não temos muita certeza, mas esperamos que Shadows House possa clarear como essas relações duvidosas entre seres peculiares, podem render algo muito bom.

O anime já nos chama a atenção pela forma cautelosa como ele introduz a sua trama, sem entregar quase nada e instigando muito o seu psicológico. Toda a estranheza presente nas cenas te induzem a mergulhar no que acontece para dar uma lógica ao que se vê, enquanto vamos descobrindo aos poucos o universo que ronda as duas protagonistas.

Nesse primeiro momento não entendemos ao certo o que são as sombras, como vivem, de onde vem essas bonecas tão perfeitas – e talvez humanas de verdade -, a origem e funcionamento da grande família Shadow, enfim, muita coisa fica em suspenso para que o seu cérebro trabalhe e teorize em cima dos recortes jogados.

A função das bonecas é servir, mas antes disso o propósito maior é serem as faces deles, ou seja, eles devem externalizar o que é projetado neles. Achamos muito curioso como o anime tem um conceito legal nessa inversão de papéis, pois no natural, as sombras são o nosso “reflexo” e aqui as figuras humanas é que são o “reflexo” delas.

Emilyko é uma boneca viva simpática, gentil e positiva que se torna um contraponto ao próprio lugar onde está inserida. É até estranho ver como mesmo diante de uma situação incerta e de um lugar sombrio, ela permanece serena ao desconhecido em sua nova realidade.

Sua mestra Kate já possui uma personalidade mais contida e um tanto séria, porém ainda assim atenciosa a sua serva, justamente por querer entendê-la melhor. O que é bem interessante na forma como se desenvolve a relação entre as duas garotas, é como a oposição que ambas fazem, acaba sendo providencial para que uma complemente a outra e isso as una gradualmente.

A Emilyko demonstra interesse em aprender coisas novas, já a Kate possui muito conhecimento e paciência para ensiná-la com calma. A Kate parece desejar ter por perto alguém que lhe faça bem, pois a Emilyko tem alegria e boa vontade sobrando para fazer isso acontecer.

As duas por serem muito inocentes e estarem aprendendo a conviver uma com a outra, tem suas questões e dúvidas, o que a boneca expressa se contendo para não cometer deslizes graves, enquanto a sombra externaliza sua ansiedade ao expelir a poeira negra de seu corpo.

Os problemas explorados na Kate inclusive, dão um toque a mais na personagem, pois ao passo em que tem curiosidade pela expressividade da garota, ela tem certo incomodo por não conseguir demonstrar nada facialmente, ou mesmo com relação ao olhar que a Emilyko involuntariamente lhe dirige – que parte de um desconforto pela falta de proximidade, algo comum e que a gente se identifica.

É bontinho ver o andamento dessa relação, de modo que o anime não se torna monótono no processo dessa narrativa minimalista. Como seu início é mais lento e focado na construção das duas meninas, era de se esperar que o tédio pudesse vir, porém aqui destacamos a qualidade da direção e a competência do roteiro ao segurar com eficácia o nosso interesse apenas com poucos personagens e um único cenário.

Para quem observou com atenção, todo esse primeiro momento acontece apenas no espaço que corresponde a Kate – inclsuive o título do episódio seguinte é bem sugestivo nesse sentido. O quarto da boneca tem um acesso direto ao dela e ali dentro, a sombra possui um pequeno mundo a sua disposição, o que acreditamos fazer parte dessa ideia que a obra tem, de fazer com que nós desvendemos cada coisa a seu tempo dentro dessa grande e misteriosa mansão, junto as protagonistas – o que também é um ponto positivo.

A animação também merece elogios pela arte limpa, bonita e com tons escuros que evocam a atmosfera de mistério, dúvida, ficando a cor somente a cargo das roupas, evidenciando ainda mais o quão fechado é aquele espaço que mais parece uma prisão disfarçada. A mistura desses elementos somada a aura fofa da Emilyko, vai mantendo o clima leve e inocente, contudo sem se desfazer da “sinistreza” de seu núcleo – que ainda é tão obscuro quanto seu visual.

Shadows House é uma estreia intrigante e que prende pela sua condução, o carisma das protagonistas carismáticas e a ambientação completamente dark e fora do comum, aliás a falta de normalidade se torna o plus dessa história, de modo que ela não poderia passar batida pelos nossos olhos, sendo mais uma que a dupla Flávio e João irá acompanhar por aqui.

Agradecemos a quem leu e nos vemos no próximo artigo!

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