O lorde do crime cada vez ganha mais renome, assim como cada vez mais a sua identidade é envolvida por mistérios. Mas nós sabemos bem o seu nome, ou melhor, os seus nomes: James Moriarty.

Uma coisa que gostaria logo de destacar é sobre o “lorde do crime”. É preciso se situar ao ouvir essa informação pois ainda que nós tenhamos presenciado o nascimento do “lorde do crime” nós não vimos o processo dessa transformação.

Então sim, agora sabemos que o Moriarty não apenas continuou com os seus assassinatos como eles foram grandes o suficiente para torna-lo famoso e dar a ele influência e poder. Não acho um problema o anime ter apressado as coisas, só é conveniente que tenha feito isso logo antes de fazer uso dessa influência.

Mas ainda assim é interessante resumir logo esse processo e focar direto naquilo que o anime quer fazer: sua revolução. Mas calma lá também, o anime ainda tem outras coisas que não pode esquecer. Um bom exemplo disso são os seus personagens.

Os irmãos do Moriarty, por exemplo, até agora são personagens completamente inúteis e descartáveis. Mas aqui nesse episódio o irmão mais velho do Moriarty, o Albert, esteve muito bem colocado e se tiver um maior aprofundamento pode sim se tornar um bom personagem. Um primeiro passo é sempre bom, mas nunca se deve parar nele.

Todo o início do anime com aquela cena do baile me agradou. Foi uma sequência muito criativa e até divertida. De fato o anime despertou o meu interessasse no personagem do Albert Moriarty. A interação dele com a Irene foi muito interessante também.

E aqui destaco uma coisa. A visão dele sobre a nobreza foi bastante esclarecedora. Uma aristocracia que dança e sorri enquanto o cadáver de um dos seus jaz no chão. Uau, isso é forte. E depois ele deixa claro o uso do crime como meio para mudar o mundo. E como já ficou bem claro, fazer uma revolução.

Por sinal eu queria destacar uma coisa bem irônica nesse discurso. Que é o fato dele falar sobre uma sociedade baseada em méritos, ora, o que é isso senão o velho discurso liberal pró capitalista? O porquê disso soar estranho está no fato de que a ideia deles de revolução se aproxima do marxismo.

Principalmente tendo em vista a sua crença de que a queda de uma classe dominante se evidencia na própria estrutura moral da sociedade. Ou seja, estamos falando de um materialismo histórico, tal qual proposto por Karl Marx.

Mas uma vez dito isso, o motivo de soar estranho está na própria sociedade em que o Moriarty e seus irmão estão inseridos. Principalmente aquela idealizada pelo anime, que exagera ainda mais certas características daquela nação.

Então, ainda com essas proximidades com as revoluções socialistas do século XX, a sociedade que eles buscam mudar se parece mais com aquela da França de 1789. E a revolução francesa por sua vez é marcada por ideias liberais e pela ascensão da burguesia. Tendo isso em mente, você tem a sua resposta.

E falando na revolução francesa, tivemos a revelação sobre o conteúdo dos documentos roubados. Confesso que achei bem interessante essa ideia, mesmo com as suas contradições. Quero dizer, hoje em dia não vemos mais a França e a Inglaterra como inimigas. Em especial depois de serem aliadas na primeira e na segunda guerra mundial.

Mas elas foram sim, velhas inimigas. Um dos conflitos que marcam o início da era moderna é a guerra dos cem anos, que foi disputado entre Inglaterra e França. E na revolução americana os franceses ajudaram os americanos que se revoltaram contra “a rainha dos mares”. Revolução essa que ocorreu em 1776, poucos anos antes da francesa. Então sim, o império britânico ter armando algo contra a França é bem interessante.

Agora, uma cena que não posso deixar de falar é aquela da explosão. Essa é a cena de ouro desse episódio, fiquei até maravilhado com o brilhante plano do Sherlock. Ele diz “vamos explodir a casa inteira para descobrir onde ela escondeu os papéis!”, e então meus olhos sangram e ardem de dor.

Tudo bem, diferente da última vez ao menos nessa versão do plano é “crível” que ela seja enganada. O problema é que esse ainda é o mesmo plano sendo usado uma segunda vez. Ele se repete, ele é exagerado e ainda por cima idiota.

Isso para descobrirmos que os documentos estavam no próprio prédio, em uma gaveta qualquer. Eu sei que faz sentido, mas por isso mesmo é um problema. Se o Sherlock já havia deduzido que a Irene estaria com os documentos em um local próximo que pudesse rapidamente alcançar, e se ela agora estava morando junto com ele, então “1 + 1 = 2” e ele sabe onde encontrar os documentos.

Ou seja, para início de conversa ele poderia ter encontrado os documentos sem a necessidade de qualquer plano. Ainda que não, não se justifica um plano tão perigoso e duvidoso como aquele. Aliás, eu lhes pergunto, e se como consequência daquele plano ele não tivesse destruído os próprios documentos que estava procurando? Pense bem, as chances disso acontecer não eram poucas.

Agora, uma coisa alterada e que acho que fez bastante sentido foi a história da Irene Adler. Moriarty: O Patriota é um anime que fala sobre a busca da justiça, e a forma como essa justiça será alcançada é por meio de uma revolução.

Sendo assim, não faz sentido que os seus personagens sejam desconexos com o tema principal da obra. Claro, há o seu espaço para eles, como o Watson e o próprio Holmes. Mas nos outros personagens é natural que tenhamos grandes alterações em suas histórias e mesmo em suas personalidades.

O Mycroft é uma grande incógnita na minha visão, já que ele é o máximo representante (na esfera intelectual) daqueles que no anime são os opressores. E como o anime deixou bem claro, ele está determinado a fazer o que for necessário para alcançar aquilo que busca.

E, note bem, o Mycroft é ainda mais inteligente que o próprio Sherlock, o que significa que de forma alguma ele é alguém que o Moriarty possa enganar impunemente. E aliás, se alguém tem capacidade para ser o grande vilão de Moriarty: O Patriota essa pessoa é o Mycroft Holmes.

Enfim, foi um episódio bem interessante mesmo com os seus diversos problemas. E o motivo dele ser interessante é o fato de quantas possibilidades o anime tem a sua disposição. Ele posicionou cada uma de suas peças num tabuleiro de xadrez, peças essas que estão nas mãos de gênios, o que permite ao anime ter uma gama inumerável de possibilidades para dar sequência à trama.

Pode sair algo muito interessante daí, só acho que o anime deveria ter um pouco mais de pé no chão. Nem sempre algo exagerado e mirabolante é o mais eficiente. Às vezes decidir pelo caminho mais simples é a escolha mais surpreendente. Há uma genialidade em saber quando não ser genial.

Enfim, acho que o anime está mostrando cada vez mais potencial em ser algo realmente interessante, só precisa continuar seguindo por esse caminho. Até mais.

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