“Bola na trave não altera o placar
Bola na área sem ninguém pra cabecear
Bola na rede pra fazer o gol
Quem não sonhou em ser uma jogadora de futebol?”

 

Imagina uma versão para o futebol feminino de “É Uma Partida de Futebol” do Skank? Seria bacana, não? Foi meio que parafraseando a canção que pensei no título deste artigo e se por um lado fiquei frustrado com a anulação do gol antológico da Onda, por outro acabei gostando do “meio-termo” que ela proporcionou. Sem mais delongas, quão emocionante é um anime sobre futebol?

Que plot twist desgraçado foi essa anulação de gol, hein? Nada no episódio anterior dava a entender isso, além de não ter VAR no maldito do amistoso. Beira o crime anular um gol desses, se o jogo tivesse torcida acho que a juíza seria xingada mesmo pelos japoneses, que até onde sei são comportados nos estádios. Como não adianta chorar pelo gol anulado, o que dá para tirar de proveitoso disso?

O Konugi acabou sofrendo uma “derrota moral”, ou se não tanto, sentiu que mesmo com o 21-0 a favor no placar, ainda assim, não controlou a partida como gostaria, sofrendo mais que o esperado com o talento individual das protagonistas. Pelo lado do Warabi, isso deixou as garotas chateadas, algumas possessas, pois tirou o doce da boca delas, o que foi maximizado pela suntuosidade do gol da Onda.

A longo prazo as jogadoras que enfrentaram o Warabi não vão para o banco, mas já se sentiram pressionadas a jogar mais, e devem se sentir ainda mais quando enfrentarem o Warabi de novo. Quanto ao time das heroínas, essa decepção as chateou bastante, até explorando a veia cômica aflorada do anime, mas também as motivou a fazerem alguma coisa para melhorarem, eu só não sei se estão fazendo a coisa certa.

Mas elas são adolescentes, eu entendo tentarem mudar o cenário em que se encontram e não tomarem as melhores decisões para isso. Ainda assim, eu destaco a demonstração de liderança que a Soshizaki dá a cada episódio e deu novamente dessa vez, ela é uma espécie de segunda capitã do time. Quanto a Onda, a frustração que ela expressou foi uma das coisas mais legais de se ver no esporte.

Porque ela não estaria se sentindo tão frustrada se tivesse feito o gol mesmo com a goleada sofrida, afinal, as garotas do Warabi sabem dos seus limites, sabem que ainda não são um time coeso, então a derrota era fato consumado antes mesmo de entrarem em campo, mas estragar a festa das adversárias e com isso dar seu cartão de visita faria bem a elas, funcionaria como combustível. Contudo, o combustível veio do mesmo jeito.

O detalhe é que elas se sentiriam de outra forma com o gol, principalmente a Onda, mas em qualquer cenário acredito que se sentiriam motivadas, a questão é, a vitória (nesse caso menos que isso, um gol) dá margem para pensar em ao menos um ponto positivo e se agarrar a ele, se acomodando, enquanto a derrota impulsiona qualquer um a fazer algo mais, a ações práticas a fim de obter um resultado diferente.

Isso incomoda mais as protagonistas porque elas são aficionadas por futebol e são melhores que o desempenho coletivo do time, tanto é que a capitã acaba é satisfeita por causa da entrada dessas jogadoras diferentes, pelo tanto que agregam e passam a ideia de que o Warabi pode evoluir em seu futebol feminino. No fim, o gol espetacular da Onda talvez tenha tido é mais impacto para quem mais importa, as protagonistas.

Saindo um pouco delas agora e passando pelas outras personagens, a Itou realmente se interessou pela Onda e apesar de sua timidez parece que ela quer se aproximar dela naturalmente e vai, afinal, a gerente/narradora entregou o óbvio. Aliás, também queria falar dela, você gosta de ver uma personagem secundaria narrando a jornada grandiosa de outras personagens sob o seu ponto de vista?

Eu acho bem razoável, ainda mais por três personagens dividirem esse protagonismo, então seria estranho ver a visão de uma sobre as outras duas, além de que a Onda é a principal entre elas, e ela é amiga da gerente, dando a essa personagem secundária um pouco mais de espaço, pois ela traz informações em primeira mão e meio que vai escrevendo a biografia da Onda enquanto fala com a gente.

Enfim, antes de entrar no momento Master Chef de Cramer e tecer minha crítica sensível sobre o anime, acho que devo sim elogiar a conversa da Nomi com seu sensei e como ela expressa de forma bastante razoável qual é o papel de um(a) treinador(a), afinal, fica claro que jogadoras como a Onda são um dos grandes baratos de treinar um time de futebol, mas potencializar atletas e lidar com inúmeras questões o grande desafio.

Mesmo aquilo que parece bom a princípio pode ser uma dificuldade para quem treina um time porque, por exemplo, se a Nomi potencializar as individualidades de suas principais jogadoras, mas não conseguir fazer o mesmo com o coletivo, quais as chances de tudo correr bem em um futebol cada vez mais guiado pela organização e não pelo talento? Inclusive, foi um pouco sobre isso o meu incômodo com esse episódio.

Foi bacana ver a empolgação do trio SOS (Soshizaki – Onda – Sou), mas foi só impressão minha ou ao invés de estar confeccionando camisas ridículas a Nomi não deveria estar pensando em formas de melhorar as jogadoras ruins do time? Vai ser bacana caso ela se toque disso mais para frente e essas questões de campo emergirem na trama, mas a veia cômica nervosinha de Cramer me dá um bocado de medo nesse sentido.

O uniforme novo que ela aprontou é tão ridículo, mas tão ridículo, que me deixou com medo de que o anime se resuma a isso, a essas marmotas que nada acrescentam a problemas reais quando se fala de futebol. Se a Soshizaki admite que o time era um bando, então cabe a treinadora identificar quais jogadoras precisam melhorar, como fazer elas terem um salto de qualidade técnica e, além disso, definir uma forma de jogar.

Essa história de que você nasce craque, que talento não se “aprende”, é um pouco uma balela sim porque, pensa comigo, mesmo que o CR7 (talvez o maior exemplo de que esforço compensa talento) não seja tão talentoso quanto o Messi, ainda assim, é inegável que em várias temporadas ele foi um jogador melhor, mais completo e decisivo, que o argentino, fazendo por onde merecer suas cinco bolas de ouro.

Nenhuma jogadora, talvez nem as protagonistas, do Warabi vai levar o exemplo a esse nível, mas pela clara carência de qualidade em qualquer uma das coadjuvantes me parece bem mais urgente trabalhar essas figuras que aprontar uniformes ridículos ou querer treinar com o time masculino, apesar de que essa última ideia veio do trio e, repito, entendo elas proporem ações sem refletir muito se ajudam.

Por outro lado, gostei da ideia da Sawa porque a nutrição das jogadoras certamente é uma questão mais pertinente que as outras lançadas na segunda parte, o problema é que, novamente, mesmo isso acabou sendo engolido pela veia cômica inquieta do anime, que mandou muito bem dentro de campo nos últimos episódios e deu suas bolas fora nesse. Será que só vai tratar de campo e bola em meio as partidas?

Por fim, o próximo episódio não aponta para nada do que falei que seria bom, mas vai que me surpreendem de novo? Acho que o saldo final ainda é positivo pela ótima primeira parte e a boa ideia da Sawa na segunda, mas a comédia exacerbada e a falta de cuidado com o que é imprescindível para que o Warabi melhore como time (o trabalho de campo, que pede urgência devido a competição à vista) ficam de ressalvas.

Até a próxima!

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