Gostaria de dizer um “Obrigado” a todos os responsáveis por este belo anime que é To Your Eternity após ter assistido mais um excelente episódio. Dessa vez, vimos a pequena evolução do protagonista prometida na prévia do episódio anterior, mas não só isso, um problema foi resolvido e deu origem a outro, assim encaminhando a continuidade da aventura de nosso herói, sempre em busca de algum estímulo. Obrigado a você que está aqui!

Antes de voltar a March e ao nomeado “Fu”, não sei se você concorda comigo, mas aberturas que “entregam” muita coisa do anime costuma ser um problema, porém, em To Your Eternity acho que o efeito é o contrário. As várias cenas que se atropelam, e em alguns momentos até se sobrepõem, trazem ao telespectador uma urgência que faz sentido com a ideia dos estímulos que vão construindo a personalidade de nosso herói.

Somemos a isso a estimulante Pink Blood da Utada Hikaru e temos uma abertura que não é inovadora, mas instigante, grudenta, marcante. É o tipo de abertura que ao final da temporada vou achar a melhor pela carga emocional que ela consegue acessar em mim. Já falei da abertura, mas tem um outro aspecto em que vejo a trama alinhada a seus outros elementos. O mundo em que se passa a trama comporta criaturas como o Oniguma e o Fu.

Mesmo que os comandados pela Hayase tenham se surpreendido com a regeneração do Fu, a aceitação geral das pessoas do mundo de To Your Eternity é bem alta a existências místicas, os quais também podem se confundir com deuses (como o caso do urso branco, que aparentemente é o Oniguma) e, na verdade, em algum grau realmente são deuses, criaturas em um nível existencial distinto, para pessoas mais conectadas a natureza como são as representadas na trama.

O nível tecnológico apresentado até então e as tradições que ainda são preservadas; tanto pelos Yanome, quanto pelos Ninanna; passam essa ideia de conexão com a terra, de que, por mais que seja fantástico ver um ser se regenerando, ainda assim, é algo com o qual dá para lidar, não há uma desconexão com a natureza e o sobrenatural como nós, residentes do século XXI, apresentamos em quase todos os aspectos de nossas vidas.

 

 

Enfim, voltando a March, ela tenta ensinar pequenas coisas ao herói e decide lhe dar um nome, Fu, coisa bem de mãe mesmo, né? Não tem como não gostar da March, é sério, eu que não pretendo ter filhos não consigo deixar de me sensibilizar com ela e querer um mundo em que crianças como ela não precisem encarar algo como a morte ou o rompimento com uma vida natural e feliz. Porque não crescer é tudo menos natural para uma criança saudável como ela.

E então veio o reencontro de nossa heroína com a Hayase, que foi diferente do que eu imaginei que seria (e olha que li isso no mangá). Ela não tinha a intenção de se entregar como eu havia pensado, foi encurralada e aceitou seu destino. Não é assustador imaginar que ela se separou do Fu e seguiu seu caminho se conformando com a ideia de que morreria? Foi bem diferente do que geralmente ocorre na ficção, onde até o fim uma personagem nesse tipo de situação nutre esperanças.

Ela não pareceu nutrir e, de toda forma, é angustiante pensar que ela comeu o alimento com algo para adormecer e se não tivesse sido salva não abriria os olhos nunca mais. A maneira até seca, sem nada muito poético a ilustrar a situação dessa vez, corrobora com esse estado de descaso com a vida humana, de violência com a vida da mulher em específico, afinal, isso é normalizado, não à toa o sacrifício é uma garotinha virgem que não poderá se tornar uma adulta.

Roubar esse futuro é covarde e abominável, e gostei da maneira como o anime tratou a questão, dando peso a situação, mas sem explorar a esmo essa crueldade. Repito, foi algo extremamente pesado o que ocorreu com a March após ela se separar do Fu, mas ao mesmo tempo a noção disso pode muito bem ficar mais nas entrelinhas que ser usada para evidenciar como o ser humano é cruel, como ele pode ser monstruoso, como esse anime é dramático, etc.

A gente já sabe disso e diria mais, a atenção da obra é justamente lançar uma visão mais humana, mais equilibrada, sobre o próprio humano, o que só é possível se conceitualmente for entendido que toda essa crueldade que vimos nesses dois últimos episódios são sim enquadráveis na vasta e mutável definição de humano, como toda a gentileza com a qual o Fu teve contato desde que virou um lobo também se enquadra nisso, humanos são isso, monstruosos ou angelicais, 8 ou 80.

O que não significa necessariamente que o anime vai relativizar monstruosidades, mas que quem escreve e produz a história sabe que o normal é que exista contexto para a maioria das coisas acontecerem. A Hayase mesmo não queria que a March morresse por crueldade, ela agia pela fé de seu povo, a qual acredito que era sua também, afinal, com o Oniguma morto e o novo “estímulo” a sua fé ela optou pelo curso de ação mais lógico.

Mais perto do fim do artigo comento o que achei do fascínio que ela demonstrou quando viu o Fu se regenerar e metamorfosear, antes, posso dizer que gostei de como o Fu e a Parona se conheceram e mesmo assim não se aliaram de imediato, de como a Parona não deveria pedir a ajuda dele até por não saber se seria de valia mesmo. A pequena evolução do Fu foi justamente isso, decidir agir por si próprio, sem ser levado a isso por outra pessoa.

 

 

O garoto/lobo seguiu a Parona ou foi atrás da March? Não sei, não sei se ele fez a ligação de que as duas se conheciam e uma buscava pela outra, não dá para saber o que ele pensa, pois não fala. Mas uma coisa é certa, que o breve tempo que passou ao lado da March o estimulou a agir, que ele pelo menos queria retribuir pelas frutas, assim retornando o carinho que recebeu da criança, criando com ela um laço e um hábito a preservar.

O Fu aprende as coisas por repetição, mas como qualquer criatura com o mínimo de senso se autopreservação, ele acata mais e melhor aos estímulos de gentileza que recebeu daquele que o serviu de forma e daquela que o alimentou. É natural que um ser vivo assim o faça, quer se siga a ideia de que o ser humano nasce com uma natureza pré-determinada ou é produto do meio no qual está inserido. Mas claro, o Fu é “bonzinho” também por ser o protagonista dessa história.

Uma outra orbe poderia ter sido lançada na Terra, ter um desenvolvimento completamente diferente do Fu e mesmo assim acabar se tornando um “alguém” similar a ele, como poderia ter vivido uma vida bastante similar e acabar se tornando um “alguém” distinto. Não é para ser uma fórmula certa, né, e eu imagino que a ideia seja justamente construir esse ser vivo, esse personagem, que será o Fu tendo consciência daqueles que cruzaram seu caminho e o influenciaram.

Enfim, houve a luta contra o tal do Oniguma e nunca pensei que fosse elogiar uma luta em um anime como esse, mas a verdade é que ela foi uma bela demonstração da capacidade de adaptação as adversidades do Fu, de sua capacidade de reação aos estímulos ruins também, afinal, ele não passou a se regenerar mais rápido? Algo que eu acredito ser justificável pela urgência da situação e a alta carga de estímulos que o açoitavam.

Nessas circunstâncias fazia sentido que ele rompesse seus limites e até mesmo reassumisse a forma de bolo por notar que ela seria melhor para o combate. Não digo nem que foi uma demonstração indiscutível de inteligência quando as circunstâncias também eram de sobrevivência para ele, afinal, nós não sabemos e acredito que nem ele saiba até onde pode se regenerar, além de que sim, ele queria fazer algo por alguém que fez algo por ele.

O que ela faz para matar o urso eu entendo como instinto, mas é claro que após a singela e, ainda assim, tensa reunião da March com a Parona, o que ele faz é uma demonstração de inteligência, compreensível dada a capacidade de observação, alguma interpretação e adaptação do Fu, qualidades pertencentes mesmo a um bebê, e ele é um bebê ainda descobrindo o mundo, formando um “eu”, até aprendeu a agradecer nesse episódio.

O mais bacana para mim foi o sentimento de retribuição que veio com esse trechinho final, é claro que nem sempre agir com gentileza e ser sincero como uma criança vai garantir nada na vida de ninguém, mas se há pessoas como a March; que mesmo novinha já demonstra um baita senso de responsabilidade, apreço e respeito ao próximo (como também a si mesma), não é estranho que almas bondosas como a Parona, e o próprio protagonista, não virem as costa para alguém assim.

 

 

E com isso o ciclo de violência foi rompido, por uma existência que fascina humanos tal qual um deus, mas no fim das contas foi cativado pelas ações de uma pequena garotinha com um grande coração. Roubar o futuro das crianças é se perder do que há de mais belo na existência humana e fico feliz que To Your Eternity abrace essa ideia sem deixar de dar vazão as várias nunces feias contidas na personalidade e nas ações humanas.

Por fim, a Hayase mudou de perspectiva e a prévia indicou que ela quer entender o que é o Fu. Não acho que o fascínio dela borrou seu julgamento, afinal, se supostamente Oniguma morreu, do que adiantaria manter o sacrifício? Além disso, não é porque ela se manteve fiel as suas crenças até o último momento que despreze completamente a vida humana, ainda mais a vida de uma criança. Mas fiquemos em alerta, March foi salva de uma morte estúpida, porém, um futuro de dificuldades desconhecidas ainda a aguarda em sua jornada para se tornar uma adulta.

Até a próxima!

 

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