Que a Tsukuda seria a goleira todo mundo já sabia, mas que ela zoaria tanto antes de assumir o posto não. Aliás, para futebol society, ou até mesmo futsal, ter uma goleira com bom passe é imprescindível.

Na verdade, para o futebol de campo essa já é uma realidade, ou você acha que o Hugo do Flamengo perdeu a posição para o terceiro goleiro na ausência do titular, Diego Alves, por quê? Goleiros hoje em dia, ainda mais de times habilidosos, jogam mais passando que defendendo.

Deixando esses aspectos técnicos de lado, Cramer teve o episódio esperado, findando sua transição ofensiva em alta velocidade rumo ao primeiro campeonato, enquanto levantou uma questão “interessante”, no futebol o que se sobrepõe é a raça (a força física) ou a arte (o talento)?

Tenho uma opinião bem definida sobre esse assunto, assim como sobre a comédia do anime, que na maior parte do tempo não me ganha, mas às vezes até consigo curtir. Infelizmente, não foi o caso desse episódio.

Sendo assim, serei curto e breve, acho válida a tentativa de balancear o jogo com a comédia bobinha, mas confesso que me incomoda muito Cramer usar tanto esse recurso quando poderia gastar mais tempo com futebol.

Além disso, toda a tentativa de chantagear o treinador do time masculino não me divertiu em nada, mas, por exemplo, já gostei da comédia no meio do jogo, principalmente por envolver as protagonistas. Acho que ela trouxe mais variações aos momentos que realmente importavam.

Então sim, não sou contrário a veia cômica aflorada de Cramer, só acho que há maneiras mais criativas de explorar esse aspecto, as quais inclusive a gente consegue ver no próprio anime. É como se uma das maiores qualidades do anime fosse também um grande defeito seu.

Enfim, mudando um pouco o foco agora, você entendeu o que são o fixo, o pivô e os alas, né? O fixo é o volante, o meio-campista, o passador que normalmente recebe a bola do goleiro e distribui para iniciar as jogadas.

Já os alas são aqueles que cumprem a função tática dos laterais, só que sem ter as obrigações defensivas destes. Sim, o futebol moderno faz parecer muitas vezes que laterais são do sistema ofensivo, mas a verdade é que são eles que fazem as coberturas na defesa e muito mais.

Por sua vez, o pivô é o atacante central, o centroavante, mas ao mesmo tempo no futebol society ele pode funcionar como o meio-campista central que aciona os alas e parte para o ataque. Na verdade, hoje em dia centroavante que trabalha vindo um pouco mais de trás é comum.

O futebol society tira os “excessos” do futebol de campo, motivados pela quantidade de terreno que um time tem para cobrir, criando um sistema híbrido em que todo mundo que ataca também é obrigado a defender, mas o foco é claramente o ataque mesmo.

Um pouco nessa pegada mais objetiva se desenvolveu a problemática desse episódio, no qual a personagem da Kutani foi apresentada como alguém que enxerga o futebol mais como um esporte de contato físico do que de disposição técnica. Seria ela uma simeonista de carteirinha?

A princípio confesso que a imaginei como atacante, mas pelo número e pela atuação deve ser volante. De toda forma, o digno de nota é sua aversão ao talento da Ito mesmo tendo sido ela a titular no fundamental e a craque de bola a reserva.

Peço que não condene a Kutani por isso, pois mesmo que tenha sido apenas em um trechinho, deu para entender porque ela é tão contrária a ideia do talento ser mais valorizado que o porte físico, a raça, o esforço. Ela é meio perna de pau, mas é obstinada a beça.

Não consigo desgostar de uma personagem assim, apesar de sua intransigência, até porque a falta de discernimento dela de que ambas as características têm lugar em um time de futebol deve partir muito de sua imaturidade e de como vivenciou o futebol quando mais nova.

Ela era treinada por um técnico que priorizava força a técnica e deixava no banco a Ito, que tem um talento absurdo. É como se o Felipe Melo do Palmeiras tomasse a posição do Messi (que loucura!), apesar do Felipe Melo não ser nenhum perna de pau, ele tem um ótimo passe e tudo mais.

É, a analogia foi meio zoada, mas deu para entender que só em time que privilegia o jogo físico que uma meio-campista clássica (ou o mais próximo disso que o futebol moderno permite) daria lugar a uma segundo-volante com sorte, e em um time mais aguerrido que técnico, né.

Eu explicaria que a primeiro volante é a que atua mais próxima a defesa (ou melhor, é a que marca mais) e a segunda quem distribui mais o jogo, mas imagino que não queira saber disso e sim da treta que se desenvolveu entre a Kutani e suas conhecidas, a Tsukuda e principalmente a Ito.

Aliás, não só com elas, afinal, a Onda se empolgou e tomou a dianteira em um embate físico, mas também psicológico, por cada pedacinho do campo. Foi bem legal ver as garotas do time tentando trombar com a Kutani, enquanto ela se desdobrava para compensar a falta de talento.

Sou partidário da ideia de que o talento é imprescindível no futebol, mas não ao ponto de minar o sonho de quem não o tem. Contudo, é certo que essa pessoa terá que correr mais que qualquer outro se quiser competir e, como o desfecho da partida mostrou, até mesmo vencer.

Mesmo no nível mais alto nada garante que o time menos técnico não possa vencer o mais talentoso, depende também do empenho posto na execução dos movimentos do jogo, além, é claro, da confiança e da determinação de quem atua, tudo que a Kutani tinha.

Ela não só acreditou na jogada que deu a vitória para o seu time, como estava determinada a atormentar as talentosas como pudesse e conseguiu. Vamos ver até quando, afinal, é só impressão minha ou o Warabi tem acumulado derrotas para ter o oposto mais para frente?

Típico de anime, né? Assim como a existência de personagens antagônicos ao que fundamentalmente são as personagens principais da trama, nesse caso, jogadoras talentosas que não fazem manha, mas com certeza não exploram o jogo de contato físico constante como a Kutani faz.

Aliás, como ela precisa fazer, é a arma dela, a maneira que encontrou para compensar sua falta de talento e cavar seu lugar em um time de futebol. É um modo válido de encarar o jogo e buscar se destacar, não é porque prezo pelo meio termo que quero invalidar as ideia dela.

Até porque, repito, se há um jeito bacana de fazê-la amadurecer é uma derrota em que ela testa o máximo de seus limites e percebe que dá sim para continuar tentando botar craques no bolso, o detalhe é que ela não precisa levar tanto a questão para o lado pessoal, com tanta rispidez.

Mas isso é o de menos, é melhor eu falar de Baggio, Del Piero e Shunsuke (que me parece ser inspirado no Shunsuke Nakamura, um japonês com a canhota abençoada)? Não sei, só sei que sim, a Kutani gosta de jogadores técnicos, é só que ela não é e brisou um pouco nessa rivalidade.

No fim, a discussão entre futebol ser raça ou arte é vazia, eu sei disso, só quis fazer um clickbaitzinho ali no título, desculpa. Futebol precisa de raça, mas também de arte. Aliás, é melhor quando tem ambos, como acontece em praticamente todo grande time de futebol através das eras.

Voltando ao society, achei o final meio abrupto, mas, honestamente, até foi bacaninha se pensarmos que não é uma derrota na tentativa de juntar uma grana que vai derrubar as protagonistas e que, repito, esse é um recurso narrativo mais manjado que pênalti pro Real Madrid.

Acabou que os fracassos viraram sucessos com um pouco mais de forçação da abordagem cômica que eu não gosto e, apesar de não ter gostado da ideia delas serem enxotadas de onde estavam, talvez mudar de ares não tenha sido ruim, ao menos não antes da chuva…

Se essa chuva é literal ou não (pode ser ambos) deixo por sua conta, a verdade é que entre mortos e feridos até que esse episódio foi bem legalzinho, muito pela forma aberta como terminou uma discussão meio vazia (mas sempre viva), pouco por sua comédia de revirar os olhos.

Aliás, é só impressão minha ou o gosto da Itou pela Onda, e vice-versa, não parece um pouco com o que o Messi tem com o Neymar? É sério, é uma construção de relacionamento que parece coisa de anime, mas na boa, quem vê futebol compra sim essa lance de “almas gêmeas” da bola.

Por outro lado, a Soshizaki é aquela volante que domina o jogo de uma forma que agora só me lembra caras como Kanté ou Toni Kross (talvez um híbrido entre os dois?), enquanto a Suo seria a ponta que fica quase o jogo todo morta, é meio vagalume (Sané tá aí e não me deixa mentir).

Legal que eu reclamo das referências da série serem em sua maioria de figuras masculinas, mas eu mesmo tenho muitas dessas referências. Espero mudar um pouco ao acompanhar mais futebol feminino, um pouco por causa de Cramer também, admito.

Por fim, futebol é raça ou arte? Eu acho que é os dois, e muito mais coisa, claro. Tudo depende do equilíbrio, não à toa mesmo os melhores times do mundo tem que voltar para recompor com todo mundo e os piores acham, em lampejos de talento, uma alternativa para alcançar a vitória.

Até a próxima!

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