Não gosto quando em anime de futebol só falam do jogo depois de acontecer e mostram nada ou muito pouco dele. Entendo que é só a fase de grupos do torneio que o Warabi disputa e que devem dar mais tempo a confrontos mais importantes, mas mesmo assim, acho que com menos comédia o anime teria mais tempo para isso. Pelo menos o drama do c0-treinador me levou a alguns questionamentos pertinentes.

A Onda é craque, mas um imã de confusão, tanto que acaba soando um pouco forçado o rolo dela com a lesão no terceiro jogo. Apesar disso, a influência positiva, mas questionável, do Beckenbauer (um dos três a ganhar Copa do Mundo como jogador e treinador) que ela usa para justificar o risco foi certamente o auge do episódio. A ideia de que uma garota pode fazer tudo que um garoto faz pode ser óbvia, mas é bom sempre afirmar isso, o problema é…

A interferência do treinador. Na verdade, ela faz sentido dado o tema do episódio ser ele e seu trauma no futebol, o que me incomoda é a Nomi ser alçada a técnica, mas o técnico que estava lá não ter saído do time. Aliás, ele tanto não saiu, como tem mais experiência que ela em treinar, me fazendo questionar a necessidade de chamar a Nomi para o Warabi. Talvez dar um safanão no Soneca já não resolvesse?

Eu sei, posso estar parecendo contraditório ao pedir participação feminina ativa na trama, mas questionar a Nomi ter se inserido nela, o problema é que ela tem tanta dificuldade, ainda é tão incompleta como treinadora, que me incomoda ela ser apoiada por essas figuras masculinas. Não que seja infundado o que acontece em Cramer, só acho que a história sempre acabar recorrendo a figuras masculinas não é o melhor.

Mesmo nos exemplos das jogadoras, apesar de que o caso do Beckenbauer foi quase irretocável, ao menos se a proposta for valorizar as jogadoras e o futebol feminino, coisa que eu acho que o anime até consegue fazer nesses momentos. Fora isso, investir tanto na figura do treinador e justificar a apatia dele de antes com esse trauma me soa conveniente demais, até preguiçoso, se pensarmos que o anime nem é tão dramático assim.

E daí surge esse novo elemento, o amigo do Soneca, o Tarado, que traz todo esse passado do co-treinador à tona e tenta limpar bastante a barra dele, ao mesmo tempo em que cai em um estereótipo rasteiro de admiração que dá a entender que ele é gay. Não me incomoda se ele for gay, pelo contrário, mas abordar a sexualidade do personagem dessa maneira indireta me pareceu um pouco bobo demais, se duvidar nem gay ele é.

Se ele falasse abertamente e trouxesse essa questão à tona a fim de abordar o machismo no meio do futebol eu acharia bem mais interessante. Infelizmente, o único momento cool do anime foi com a Onda mesmo, o resto até foi bacana por uns aspectos, mas questionável por outros. Inclusive, é sério que o Soneca queria ganhar a UEFA (imagino que se referia a Champions, não a Europa League), mas desistiu no primeiro fracasso?

Entendo que ele deve ter se queimado bastante ao ter tido a cabeça entregue de bandeja no vestiário (um pouco como o que aconteceu com o Rogério Ceni no Cruzeiro em 2019), mas se ele se desmotivou completamente por isso e regrediu do profissionalismo ao nível estudantil em uma modalidade com bem menos exposição e estrutura, isso significa que sua juventude brilhante era mais falação que qualquer outra coisa, concorda?

Ainda assim, também não acho que possa desmerecer o cara por ter desanimado, até porque no futebol ele já teve a carreira encurtada muito cedo, o que me incomoda é a virada razoável que tem a sua imagem após as revelações do amigo, parece que torna menor o esforço nulo que ele fazia antes da Nomi chegar. Não consigo me livrar da ideia de que ele sozinho poderia ter feito muito mais pelo Warabi feminino.

Mas a Nomi veio e isso trouxe outras questões à trama. Inclusive, para ela não é ruim ser a treinadora oficial e mesmo assim ter uma figura ao seu lado com a qual pode aprender, e ela precisa aprender, afinal, se não consegue sequer conversar com sua jogadora e entender o contexto que a levou a insistir em permanecer em campo mesmo machucada, é sinal de que ainda tem muito no que melhorar. Não só na defesa, mas também no vestiário.

“Vestiário” esse que derrubou o Soneca de seu time profissional. Diante de todas essas questões, o Warabi avança as oitavas por causa do passe sensacional que a Onda tirou da cartola antes de ter que sair, mas também por suas companheiras esforçadas e talentosas, principalmente as outras protagonistas, tendo a Soshizaki a oportunidade de se valer da famosa “lei do ex” no mata-mata. Sério, ela tem que meteli o gol.

Por fim, tenho expectativas bem melhores para o próximo episódio, mas a verdade é que não desgostei completamente desse, ele só me deixou com mais questões agridoces do que eu gostaria de ter, muito por causa do uso das figuras masculinas, mas também pela insistência na comédia (que sim, vem me divertindo cada vez) em contraposição ao campo e bola (que eu prefiro ainda assim).

Até a próxima!

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