Digimon Ghost Game – Do “f” de fantasia para o “f” de fantasmas – Primeiras impressões
Uma semana, repito, apenas uma semana após o fim de um anime da franquia Digimon nós temos um outro para tomar o seu lugar. Tanto que até o dia de seu lançamento semanal será exatamente o mesmo do anime antigo. Mas as coisas parecidas acabam por aqui, pois a alegre fantasia que coloria o anime anterior deu lugar a um cinza e nebuloso terror que se mostra como o foco desse novo anime.
Fiquei em dúvidas sobre o que comentar por primeiro sobre esse anime, pois de fato tivemos uma estreia bastante interessante. Mas depois de muito pensar finalmente decidi pelo que começar. E o escolhido foi… o começo. O anime foi tão preciso em como começou esse episódio que de fato não há outra ordem senão aquela escolhida pelo próprio anime.
Aqui destaco duas coisas, primeira a abertura e depois a primeira cena que veio logo após ela. E o que ambas nos revelam em comum? Simples, revela que isto – seja lá o que for – não é de forma alguma parecido com o anime de Digimon Adventure (2020).
E o resto do episódio deu testemunho desse fato. Mas nos apeguemos aos dois pontos que citei, pois logo neles fica claro qual será o novo foco desse anime: o terror. E antes de querer falar se isso é bom, se é ruim, se é interessante, desinteressante, temos que confessar que pelo menos é diferente. E muito diferente. Não lembro de nenhum anime da franquia que tenha uma proposta parecia com a desse anime.
E dar essa mensagem do que ele pretende ser foi ao meu ver o primeiro grande acerto do anime. Pois viemos de uma temporada de Digimon que se encerrou na semana anterior, o que torna fundamental ao anime acentuar logo de cara que se trata de uma proposta diferente. E convenhamos, completamente diferente. Além disso, o anime deixa bem claro que não será interligado ao anime anterior, ou ao menos que não precisa ser.
O final da temporada passada permite uma conexão entre ambas, é verdade, porém não só o anime não fez menção a algum acontecimento que conecte as temporadas, como nem precisa fazê-lo. Aqui nós temos um mundo humano um pouco do nosso, com uma tecnologia aparentemente bem superior e com uma grande presença de hologramas em meio a vida cotidiana. E não somente esse mundo humano é diferente, como o próprio fato de ser o mundo humano já é algo diferente.
Na temporada passada o digimundo marcou presença total, enquanto o mundo humano foi completamente desprezado. Já aqui ao que parece será justamente o contrário. Tanto que esse episódio deu grande importância ao cenário escolar, coisa que deve estar presente no resto da temporada também.
E com isso o foco vai de crianças interagindo com um mundo fantástico para um tema mais social em um mundo banal. Sim, banal, pois ainda que nele estejam presentes digimons malignos, como visto nesse episódio, não muda o fato de as interações dos personagens ocorrem naquele mundo e, portanto, em sua “banalidade”.
Um exemplo disso são as várias interações do Hiro (nosso protagonista) com o seu colega de escola, onde vemos uma conversa ordinária que ocorre num local corriqueiro. Note que isso era impossível no digimundo, pois lá tudo é fantástico, da menor das flores até a maior das árvores.
Além desses pontos temos o trio de personagens principais que parecem ser bem diferentes dos personagens da temporada passada. Agora, diferente é uma coisa, pior ou melhor é outra. Se eles serão carismáticos como os do anime antigo só os episódios dirão.
Por enquanto não creio que seja o caso, mas é bem possível que eles sejam bem construídos futuramente. E o fato de serem somente três escolhidos contribui com o anime, pois assim ele terá tempo para focar, explorar e desenvolver a personalidade de cada um deles.
Que por sinal estão bem diferentes dos antigos escolhidos até em aparência. E não somente eles, o próprio anime tem uma personalidade visual muito diferente do que era o anterior. Tudo é tão diferente que até os digimons estão completamente diferentes. Visualmente carregam uma aparência muito mais “moderna”, que por sinal confesso detestar.
Mas até na função que ocupam nessa história estão completamente diferentes. E por fim, até mesmo a própria história será completamente diferente. Até porque ela precisará escolher uma abordagem própria na hora de executar a sua ideia enquanto anime de terror. Na minha opinião um clima investigativo com histórias episódicas ficaria muito interessante e quem sabe até divertido.
Ou não, esse anime pode acabar sendo apenas chato. E digo isso pois tenho que ressaltar a última e a maior das diferenças: o gênero. Não me alongarei ao comentar sobre o gênero fantasia do anime antigo, mas basta dizer que de forma alguma a fantasia é algo infantil. Ou ao menos não exclusivamente infantil, pois a verdadeira mensagem que essas histórias carregam só podem ser absorvidas por adultos.
Mas aqui é diferente, temos o terror misturado a uma história leve que tem como alvo o público infantil. Aqui nós temos uma contradição, pois o terror não pode ser o que é de melhor enquanto harmoniza com uma história leve e descontraída.
O resultado é que mesmo que esta história seja de terror, ainda que com muitas aspas nesse “terror”, ela não é de forma alguma mais sério que o anime anterior. Muito pelo contrário, eu diria que esse anime será muito mais infantilizado do que o anterior. E não será apesar de ser um anime de terror, mas justamente por sê-lo. E esse episódio foi uma grande prova disso.
Agora, uma vez feitas as comparações, é necessário esclarecer qual é o sentido delas. Não é de forma alguma comparar com o anime anterior, é somente, e tão somente mostrar que o que aqui temos em mãos é algo completamente diferente e novo.
Algo que manteve para essa temporada somente o fato de ser do mesmo estúdio, a Toei Animation. Tanto que até mesmo o diretor do anime é diferente, embora sobre isso tenha que destacar que gostei muito da direção presente nesse primeiro episódio.
Por fim, não digo e nem pretendo dizer se acho que o anime será bom ou não, isso é algo que apenas o tempo dirá. Mas insisto que esse anime deve ser visto com outros olhos, seja para o bem ou para o mal. É isto, até mais.