Tsuki to Laika to Nosferatu (Irina: The Vampire Cosmonaut) é um anime do estúdio Arvo Animation (Bokutachi wa Benkyou ga Dekinai, Monster Musume no Oisha-san) programado para 12 episódios que adapta a light novel escrita por Keisuke Masano e ilustrada por Karei. Segue a sinopse extraída da Funimation (streaming oficial do anime).

 

“A corrida espacial de duas superpotências dá surgimento a um projeto secreto. Um supervisor humano e uma cobaia vampiro devem alcançar uma missão experimental até as estrelas.”

 

O trecho inicial desse anime é bem brega, mas, convenhamos, falar da corrida espacial sob o ponto de vista soviético na década de 50/60 não poderia ter outra pegada, né?

Uma coisa que me surpreendeu de cara foi a seriedade do enredo para um anime com sinopse e execução quase gritando por um mergulho no absurdo. Botar garota fofa no espaço é algo que só poderia ser superado mesmo por uma garota fofa vampira.

Mas quando vi que a abertura seria do ALI PROJECT (grupo que faz muita OP e ED de anime, principalmente animes mais “góticos”) já me senti desconectado da comédia e essa estreia justificou essa desconfiança.

Nada contra a intenção de falar sério tendo uma sinopse absurda por trás, é que isso se torna um desafio que pode arruinar o anime ou prover uma experiência única. Qual é o caso aqui? Acho impossível de dizer por um episódio.

Ainda assim, é notório que a estreia fez um bom papel no que se refere a apresentação das personagens, das ideias a serem abordadas na trama e de suas dinâmicas narrativas, que podem extrair mais do potencial cômico/absurdo da proposta.

O autor foi sagaz ao não tentar aprofundar a questão da existência dos vampiros e de suas características, focando em contextualizar brevemente a existência no país (obviamente inspirado na URSS da época) e desmistificar os preconceitos alimentados pela arte.

Quanto a isso, não fica claro se a existência de vampiros é algo de exclusividade do país, e se é conhecido por poucas pessoas mesmo lá, o que justificaria melhor essa forte cultura ficcional distorcida da verdade acerca dessa figura.

Em todo caso, esse é um detalhe menor que deve ser minimamente aprofundado ao longo da jornada, na qual precisamos dar nome aos bois, pois se a heroína é a vampira usada como ratinho de laboratório (ou pior), quem é o herói?

Lev é aquele tipo de wannabe cosmonauta (lá se fala cosmonauta, é nos EUA que se fala astronauta, né?) que não tem a mínima chance de ir ao espaço, mas parece tão apaixonado por essa ideia, além de bem preparado, que é compreensível a missão que recebe.

Alguém com uma personalidade mais destacável ou ainda mais apagada poderia gerar um problema para os manda-chuvas, então escolher aquele soldado que parece o mais equilibrado da turma foi uma decisão adequada. Mas até quando durará isso?

Porque é claro que ele vai se envolver com a Irina (N44 para os não íntimos), que deve transgredir uma ou outra regra por ela e que se duvidar também vai fazer de tudo para ir ao espaço junto da vampira.

E por que isso é tão óbvio? Porque explorar a forma como tratam a personagem, tal qual a uma ferramenta, só poderia resultar nisso. Essa estreia teve mais a intenção de apresentar, mas não se limitou a isso e já foi tocando na ferida.

É por isso que o anime é um pouco surpreendente porque a proposta é absurda e a pegada nos primeiros minutos pode até levar alguém mais desavisado a achar que vai ser avacalhado, mas não, no decorrer do episódio fica clara a intenção de incomodar e persuadir.

Incomodar o público pela situação da Irina e persuadi-lo a se encantar com a ideia de ir ao espaço, quem sabe até conquistar a lua. É, no máximo deve ser isso. Vendo a paixão do Lev e o quanto isso deve cativar a Irina (que parece mais seguir o fluxo) posso garantir que comprei a ideia.

Ademais, temos a Anya, que deve ofertar o suporte técnico/médico necessário a dupla, afinal, a Irina não é qualquer cadete aspirante a viagem espacial. Além disso, apostaria nela para trazer uma pegada cômica mais forte ao anime, o que deve ocorrer ainda que esporadicamente.

Porque o Lev realmente parece mais focado em ir para o espaço, apesar de ter demonstrado sensibilidade com sua parceira vampira, tentando protegê-la do que ele achava que a faria mal e aparecendo no quarto dela para pedir desculpas por sua forma de agir.

Com isso dá para esperar que ele passe a se preocupar mais com ela, que a encare como mais do que uma missão passada por um superior. Não que a Irina não saiba se defender, o que vemos muito bem na cena do refeitório ou na discussão que os dois têm depois.

E aí o trecho inicial relatando a experiência do primeiro ser vivo a “conquistar” o espaço se conecta a experiência que tentam prover a ela, um ponto de vista que pode ser mudado em sua convivência com o Lev, mas não deve fazê-la deixar de questionar a crueldade humana.

Aliás, se eu não entendi muito bem a elaborada cena dela comendo no refeitório (só pode ser excentricidade do diretor), a escolha da seiyuu para dar vida a Irina se justificou no primeiro momento em que ela abriu a boca.

Não que a Irina seja kuudere, é que a Megumi Hayashibara (a Rei Ayanami de Neon Genesis Evangelion) não é só muito boa em fazer kuuderes, como em interpretar em um espectro um pouco mais amplo ao fazer personagens de voz fofa, mas que têm uma baita seriedade no tom de voz.

E é respaldado por essa voz antológica, mas também por uma direção que soube não cair na galhofa mesmo tendo saída para isso que Tsuki to Laika to Nosferatu nos entrega uma estreia consistente e promissora, mas que vai precisar entregar ainda mais para não deixar o foguete cair.

Vou cobrir o anime aqui no blog, então nos próximos artigos trago mais de minhas opiniões sobre o esperado pé atrás que a Irina tem com os humanos, a perspectiva do Lev torná-la uma cosmonauta tão capaz quanto ele e o aproveitamento dessa ideia tão inusitada quanto criativa.

Até a próxima!

P.S.: O título é brincadeira. Fica a homenagem ao Yuri Gagarin, que em 12 de abril de 1961, há pouco mais de 60 anos (quando fez 55 começou a novel, o anime saiu devido ao aniversário?), viu a terra e disse que é azul. Eu se fosse a Irina contaria a primeira fake news espacial só de zoeira.

Comentários