Depois de sessenta e sete episódios, do reboot de um anime de vinte anos atrás, nós finalmente podemos ficar satisfeitos com mais um excelente anime dessa franquia maravilhosa. Mas Digimon Adventure (2020) pode ser ainda mais do que tudo isso, pode ser um recomeço para toda a franquia Digimon.

A franquia Digimon se mantém viva mesmo com o passar de décadas, e não apenas na indústria de animes e jogos como também se mantém viva nas recordações de muitas pessoas. Exatamente por esse motivo é que esse reboot era tão aguardado, pois o anime original fez parte da infância de inúmeras pessoas.

E ser capaz de ir atrás dessas pessoas e traze-las para a franquia novamente, mesmo que apenas para dar uma breve olhada, esse é o grande acerto desse reboot. Ele é um recomeço, que sabe respeitar o passado e utilizar dele para possibilitar um novo futuro para essa maravilhosa franquia. E nesse sentido esse reboot foi um sucesso.

De fato, o fator nostalgia foi muito importante para conseguir captar o olhar daqueles que já viravam as costas para a franquia, mas isto é somente o primeiro passo. Sim, nós revimos os personagens que tanto gostávamos, mas nem por isso eles deixaram de ter suas próprias histórias e trilharem jornadas muito pessoais.

Eles estão um pouco diferentes no reboot, sendo um dos maiores exemplos o TK que aqui em nenhum momento foi o TK chorão e medroso do original. Na verdade, todos os personagens estavam muito mais corajosos e dispostos nesse reboot, isso desde o início do anime. Como construção de personagem eu discordo dessa decisão, porém deve ser dito que isso permitiu ao anime fluir melhor desde os primeiros episódios.

De qualquer modo, mesmo que esses personagens fossem exatamente os mesmos, não mudaria o fato de que esta história foi uma coisa completamente nova e diferente. Seria melhor? Então, eu acho que há vários momentos excelentes em ambos os animes. Em especial o começo do anime anterior que é muito bom, enquanto aqui já nem tanto.

Tenho a impressão de que os dois grandes auges que o anime apresenta (visto nos episódios 50 e 67) demonstram um espetáculo épico e emocionante que o anime antigo nunca chegou nem perto de fazer (creio eu). E isso tanto pela limitação da animação vista no anime antigo, como também pelas proporções das batalhas que foram de outro nível.

Mas claro, estou apenas puxando de memória e não lembro de tudo do anime antigo. Uma coisa em especial que não sou capaz de comparar é sobre a construção de mundo. Apresentação de mundo sim o antigo é muito melhor, pois faz isso com perfeição.

Mas construção de mundo é outra coisa, ainda que tenho a impressão que o antigo era muito bom nisso também. Mas aqui eu tenho a certeza, o anime acertou em cheio em sua construção de mundo. Ela não é tão bem-feita em detalhes, mas a imersão funcionou muito bem.

Infelizmente há um grande problema, que é o fato de que o anime demorou muito para conseguir fazer isso. Então o mérito está mais para uma construção de longo prazo que só muitos episódios após o seu início é que foi possível ver a beleza de seu mundo, do que uma construção precoce, igual a vista no anime antigo.

E um dos pontos importante para essa construção são os próprios digimons, seres que são fundamentais para aquele mundo e, portanto, para a construção deste. Sobre eles, eu gostei muito tanto dos digimons que os escolhidos encontraram no caminho, quantos dos inimigos que também foram bem interessantes.

Mas não acho que sejam especialmente bons, em especial os vilões. Esse anime também não apresentou coisas muito importantes para seu tema, como ser capaz de valorizar o tema do sacrifício, algo tão belamente representado no anime antigo. Ainda que quando deu atenção a isso fez muito bem, como visto no episódio do Petaldramon.

Agora, se falo de digimons não posso deixar de falar também dos digimons que acompanham os escolhidos. Em especial das várias formas que eles ganharam em suas linhas evolutivas. E nesse sentido o anime foi espetacular, nos presenteando com diversas cenas de evolução incríveis, contendo formas exclusivas além de formas alternativas.

Tudo bem que houve casos em que a animação prejudicou esses momentos, mas a própria animação é algo que deve ser destacada. E positivamente! Sim, estamos falando da Toei, claro que a sua animação prejudicaria diversos episódios. Não me incomodei poucas vezes enquanto assistia os episódios.

Mas o que quero destacar aqui são as várias animações incríveis que nós tivemos nesse reboot. Não apenas em quantidade, pois tivemos um número bem considerável, como também pela qualidade absurda que alguns episódios conseguiram alcançar (novamente, episódios 50 e 67).

E mesmo nos episódios que a animação não estava lá grandes coisas muitas das cenas foram salvar por um outro recurso. Recurso esse que talvez fosse o que tornasse as cenas do anime antigo tão incríveis, mesmo com aquela animação limitadíssima. Sim, falo da trilha-sonora.

Ela estava maravilhosa, tiro meu chapéu para as trilhas e não somente isso, mas para o excelente uso que fizeram delas. Várias cenas que pareciam perdidas devido a fraca animação foram salvas graças ao bom uso dessa poderosa arma chamada trilha-sonora.

Ufa… acho que dei uma boa pincelada nos principais pontos. Tudo isso apenas para dizer que não, esse reboot não foi apenas nostalgia. Em verdade, houve um momento em que eu nem fazia mais comparações com o anime antigo.

Pois esse reboot é algo vivo, que tem a sua própria voz, que tem a sua própria alma. Fiz todas essas comparações não apenas para evidenciar as diferenças, mas para concluir dizendo que elas não param por aí. Não, esse anime é algo novo, tanto nos acertos quanto nos erros.

Aqui vimos uma aventura emocionante cheia de momentos tensos. Tivemos altos, tivemos baixos, vimos as trevas, vimos as luzes, tivemos muitas batalhas e a maior das lutas foi vencida por todos, assim como toda boa aventura deve ser. Quando fui assistir esse reboot não tinha grandes expectativas, mas nem o meu eu mais confiante teria acertado o quão bom isso foi. Até mais.

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