Shinka no Mi: Shiranai Uchi ni Kachigumi Jinsei (The Fruit of Evolution: Before I Knew It, My Life Had It Made) é um anime do estúdio feel. programado para 12 episódios que adapta a light novel escrita por Miku e ilustrada por U35. Segue a sinopse da Crunchyroll (streaming oficial do anime).

 

“Após comer as Frutas da Evolução, um jovem e um gorila terão suas vidas mudadas para sempre!”

 

Shinka no Mi é um isekai clichê (mas olha, que novidade) que nos apresenta a um protagonista gordinho que sofre bullying, a uma sala (ou várias delas) teletransportada para outro mundo e a óbvia separação entre estes dois elementos a fim de evidenciar desenvolvimentos distintos.

Além disso, é claro, há a ideia base que geralmente precisa ser bem criativa senão o isekai sequer tem chance de ganhar um anime. Transformar uma gorila em uma “waifu” é questionável por si só, mas eu diria que o anime tem questões mais problemáticas.

Por exemplo, por que o protagonista precisa ser um gordinho que sofre bullying e que “evolui” ao mudar de aparência? Isso não é dizer que há a supremacia de uma forma em comparação a outra? Dá mesmo para chamar isso de evolução?

Além disso, precisavam mesmo frisar no fedor dele quando era gordinho? Se a ideia era construir uma personagem zoada conseguiram, e agora, com a viagem para outro mundo, é que deve vir a “vingança”, possibilitada por frutos da “evolução”.

Outro problema com isso é que deixar de ser gorila para virar humana é outra construção antropocêntrica que não me agrada, que parece muito pobre, ou melhor, é. Cai no senso comum mais chulo, como ocorre com o caso do protagonista que vira galãzinho.

O belo é de uma forma, a evolução de outra; não existem alternativas. E eu sei que a última intenção do isekai costuma ser questionar padrões de aparência ou superioridade de raça, mas nem por isso vou me furtar a criticar essas escolhas chulas.

Todos os isekais atuais buscam se distinguir em premissa, em ideia, em “piada”, mas costumam chafurdar na mesma pobreza narrativa na hora da execução. E nem sou daqueles que espera demais de isekai farofa, é que quando é zoado e nem diverte sai de baixo…

Não consegui me divertir muito com esse episódio, além de, repito, ter me incomodado com esses problemas, que podem ser chamados de preconceito, por que não? Não duvido nada que o autor, e parte de seu público, pensei que o protagonista e a heroína realmente “evoluíram”.

Conceitualmente Shinka no Mi se sabota e não consigo deixar de notar isso. Outra coisa que não gostei (e não me chame de zoófilo por isso, por favor) foi da heroína passar de gorila para waifu, mas a OP (ou ED, nem lembro mais) jogá-la para escanteio e dar espaço a outra heroína.

Então ela não vai sequer ser a principal “pretendente” amorosa do protagonista, apenas uma “mascote”, ou uma espécie de adorno que só serve mesmo para se aproveitar da ideia que dá o diferencial da obra? Não vou cravar que é isso, mas se for, bola fora.

Porque se ela é a primeira heroína a aparecer e a “graça” da trama gira em torno dela, é de se esperar que tenha espaço ao lado do herói, quer seja um harém ou não. Aliás, que isekai não é, né? Não seria mais inusitado, e criativo, por exemplo, a gorila virar mulher e ter ela o seu harém?

Ou só seguir como gorila e ter um harém de humanos e/ou humanas? Algo realmente mais radical, incomum. No final não importa as diferenças de premissa, os isekais sempre trabalham com a ideia de explorar fetiches masculinos e usar personagens femininas para isso. Às vezes só isso.

Enfim, poderia falar mais dos acontecimentos da estreia, mas olha, há algo interessante a tratar? Eu diria que a luta, e não só ela, mas a interação da Saria com o Seiichi em sua versão original (apesar da paixonite boba dela) foi melhor do que deve ser a interação dele com ela “waifu”.

Pelo menos a ED é da Poppin’Party (PoPiPa), não que isso tenha algo a ver com a história, no máximo é um detalhe a mais para levar um fã de isekai convicto como eu, mesmo reclamando tanto de tantos isekais, a assistir. Porque, sério, a “história” é a piada, e nem ela deve ser isso tudo.

Não vejo lógica no fruto da evolução, mas se houver, ou se tentarem explicar como ele funciona, estou aberto a saber, talvez até engolir, não que, repito, isso mude minha opinião de que a narrativa, da forma como ela é construída, chafurda em preconceitos tacanhos.

E esses são novos ao isekai na medida em que “evoluir” significa mudar de aparência. Fosse pelo menos upar em nível de poder ou em skills, tenho certeza que a obra me incomodaria menos, mas claro, não seria a mesma história.

E não, não que esse anime faça a pessoa regredir algumas casas só por assisti-lo, exceto se antes de ver essa estreia você se incomodava com os problemas que citei e fechou os olhos para ele porque se divertiu. Dá inclusive para se divertir e achar ruim, né.

Tudo bem, talvez você tenha se divertido assistindo e isso atenue a experiência em seus aspectos negativos (ou no mínimo questionáveis), mas como não foi o meu caso, não é o que posso escrever aqui para você. E essa temporada tem isekais melhores, mesmo que não muito.

Por fim, indico Shinka no Mi? Sim, se você for verminoso de isekai como eu, que gosta de ver mesmo quando faz críticas pesadas aos animes desse subgênero. Não, se você se incomodou com as mesmas coisas que eu (ou outras) e não se sentiu minimamente impelido a continuar.

Até a próxima!