Ryuuou no Oshigoto! – ep 3 – Mestre e Discípula
Esse foi um ótimo episódio e se quiserem saber por que, jogariam shogi comigo para descobrir?
Ryuuou no Oshigoto! tem toda uma gama de aspectos questionáveis sobre os quais a trama foi construída e através dos quais ela é desenvolvida, mas, ainda assim consegue entregar uma história boa e interessante. Grande parte disso se deve justamente a relação entre mestre e discípula, um laço que foi formado nos dois primeiros episódios e é posto à prova nesse, o qual vemos se fortalecer diante da convicção de um mestre em ajudar sua discípula, uma garota que luta pelos seus sonhos!
Impor para a filha de nove anos três vitórias consecutivas diante de quaisquer adversários que viessem a enfrentá-la não foi uma condição nada razoável por parte da mãe da Ai, e é diante dessa aura de “ou vai ou racha” que ela começa as suas partidas, derrotando bem seus dois primeiros oponentes – um deles ser profissional não é algo surreal sendo ela um prodígio… – e tendo uma ótima partida com a toda poderosa “Branca de Neve”, sem, contudo, vencê-la. Esse final junto da aceitação dos pais dela foi muito bom, mas talvez dê para questionar o que a mãe diz em seguida?
Olha, confesso que achei um pouco exagerada a condição dela para permitir que a filha virasse discípula do protagonista e continuasse jogando, mas, será que tudo tem que ser resolvido tão “preto no branco” assim mesmo? A forma como a Ai conseguiu o que queria mesmo sem cumprir a condição imposta pela mãe prova que não e isso me faz acreditar que esse cenário em que o Yaichi tem que torná-la uma profissional vitoriosa cedo ou terá que entrar para a família da garota é muito mais para servir de incentivo aos dois do que algo que tem que acontecer, ou não, de alguma forma.
Seguindo essa linha de pensamento acho que dá para aceitar razoavelmente bem esse desfecho, mas o ponto alto do episódio para mim nem foi esse, mas sim as partidas de shogi da garota, as quais realmente me passaram a sensação de que ela estava concentrada e tensa, de que eram desafios importantes a serem superados por ela e que mesmo sem eu entender praticamente nada do jogo me fizeram crer que ela realmente tem todo o talento e espírito que foi dito que ela tinha. Se for para falar sério de verdade, que o anime faça isso bem feito, se for para fazer o público acreditar no que está sendo dito sobre o que está acontecendo de relevante, que o anime faça isso direito. Dessa vez ele fez isso, ele conseguiu mais uma vez tratar o shogi com respeito e agora causar certo impacto, mostrando que tem potencial para falar sério e falar bem sobre a formação de uma garota prodígio dentro do shogi. Aliás, isso está exatamente ligado a um outro ponto forte desse anime.
Enquanto Sangatsu no Lion versa mais sobre a vida de um jogador profissional e sobre o mundo dos homens que jogam shogi – não entendam isso como uma crítica, pois não é, já que Sangatsu é primoroso dentro daquilo que se propõe –, Ryuuou no Oshigoto! pega um protagonista que já alcançou o topo e agora terá apenas que lutar para se manter nele e passa a responsabilidade de introduzir o shogi e uma jornada de crescimento dentro desse jogo para a Ai, uma criança do sexo feminino. Ela ser criança e começar a jogar faz sentido e é bom, ela ser mulher é melhor ainda, pois isso dá um diferencial ao anime e pode sim retratar de uma forma respeitosa e positiva, mesmo que um tanto quanto inverossímil, o universo do shogi do ponto de vista das mulheres com todas as suas particularidades – o anime dá a entender que é mais difícil para uma mulher virar uma jogadora profissional de shogi e que homens e mulheres seguem caminhos distintos dentro desse universo.
Se for para usar de clichês e traquejos questionáveis para construir a base da história, que ao menos na execução se acerte, que se entregue algo que, apesar de bem simples, consiga cativar o público e fazer ele conseguir tirar algo de bom desse anime. Esse episódio me deixou feliz porque me mostrou que há esse potencial e que se ele for explorado nos momentos certos – o anime não deve falar sério toda hora, e nem tentar ser cômico e bastante questionável toda hora também – pode sair coisa boa daí sim, apesar das escolhas duvidosas feitas para construir o cerne do que conhecemos dessa obra.
Se a “toda poderosa” regra dos três episódios é uma prova de fogo para um anime, eu diria que Ryuuou no Oshigoto! conseguiu passar por ela, e creio que isso se deve muito a esse episódio, pois foi importante deixar de lado a maior parte das características questionáveis que fazem o anime ser o que ele é em prol de fazer o público acreditar nessa trama e ser capaz de levar ela a sério quando ela disser que está se levando a sério também. Espero que o anime só melhore, que vá cada vez menos abusando de fanservice e de clichês, e aproveite o seu potencial para divertir e difundir o shogi, mesmo não sendo lá muito verossímil, quando ser um anime de lolis fazendo cosas que lolis geralmente não fariam é tudo o que se espera dele. Que o shogi esteja com vocês! Até a próxima!
Regileudo Silva
Concordo com tudo o que escrevestes. O potencial narrativo é grande e conduzido de forma correta, balanceando, e não escrachando o fanservice, tem muita possibilidade de ser um ótimo anime…