Bom dia!

A viagem já está garantida. Ou melhor: tão garantida o quanto ainda dependa das garotas. Os recursos continuam escassos e o fantasma do cancelamento ainda não foi exorcizado, mas a equipe de pesquisadores está confiante e, havendo a expedição (e sabemos que haverá, isso é anime), as garotas estão dentro.

Então é hora de informar a escola, os pais, se preparar e treinar.

Um dos melhores momentos do episódio foi a Mari indo avisar sua mãe. Sim, uma adolescente foi “avisar” a mãe de que irá viajar – não irá dormir na casa de uma amiga, não irá para a praia ou outra cidade próxima, mas sim para não mais não menos do que a Antártica. Eu costumava “avisar” minha mãe também ao invés de pedir permissão com antecedência (funciona melhor, né?), mas eu jamais sequer saí da cidade por conta própria antes de ser adulto e independente. Imagine todas as coisas que se passam pela cabeça da mãe. Do ponto de vista de uma adolescente, conversar com a mãe nessa circunstância deve ser mesmo muito aterrorizante, então nada mais adequado do que retratar a cena como se fosse uma de terror!

Bom, tudo deu certo para a Mari, ela só precisa passar em todas as suas provas, mas por que não precisaria passar em tudo em primeiro lugar, não é? Consegue imaginar uma mãe que diga para um filho “ah, você pode reprovar em uma ou duas matérias”? É só um reforço positivo e uma lembrança de quem tem autoridade de fato em casa (a mãe, lógico, o pai fechando a porta e esperando do lado de fora foi hilário). Tudo certo na escola, tudo certo com os pais agora só resta se preparar a viajar, não é? Sim, mais ou menos. A Shirase quer fazer essa viagem desde sempre então era esperado que tivesse a autorização. A Mari apesar de tudo conseguiu a aprovação de sua mãe também. A Yuzuki está viajando porque a mãe mandou em primeiro lugar. E a Hinata? Ainda não sei nada sobre a família dela. Ela não precisa de uma autorização para faltar na escola porque já concluiu o médio, e como trabalha provavelmente tem seu próprio dinheiro – é uma garota precoce. Mas ela tem pais, não tem? O que eles pensam dessa viagem? Já estão sabendo?

E não me esqueci de quem está ficando para trás, só não há o que falar por enquanto – as imagens são muito mais eloquentes do que eu jamais poderia ser

O treino nas montanhas em si parece até fácil demais considerando para onde elas vão. O continente gelado é o lugar mais isolado e mais perigoso do mundo acima do nível do mar afinal. A mãe da Shirase morreu lá, e isso é a força motriz por trás do anime. Bom, não exatamente isso, mas vou chegar lá. De todo modo, não é como se eu esperasse um treinamento rigoroso, de nível militar. Não esperava treinamento nenhum, na verdade, então já estou no lucro. As garotas tiveram uma pequena dose de dificuldade com algo que na Antártica será corriqueiro, se esforçaram e de alguma forma conseguiram, meio que já deu para ter uma ideia. Talvez o anime mostre mais um pouco de treinamento para outras tarefas, mas não deve fugir disso. Porque narrativamente falando o treinamento não importa.

Parece que a Mari é um gênio das bússolas

O fato mais relevante desse episódio foi a mudança de humor da Shirase. Justo a Shirase, sempre a mais ansiosa, sempre a com mais iniciativa (exceto quando fica com vergonha), sempre a mais positiva, sempre a que mais planeja tudo (não que sejam sempre bons planos), dessa vez amuou. Ela já não estava em seu auge quando a pesquisadora veio buscá-las em uma van toda bagunçada, um sinal de como está sendo caótica e difícil a própria organização da expedição. Mas naquele momento talvez ela estivesse apenas escondendo algum nervosismo, ou quem sabe seu medo de que no final não desse certo – motivos para isso ela tinha. Contudo, quando a líder da expedição, Toudou Gin, entrou na sala onde as garotas assistiam uma palestra, Shirase murchou de vez.

Toudou Gin era amiga da mãe da Shirase desde o colégio. Elas foram juntas para a Antártica – provavelmente mais de uma vez. Mas, da última vez, só uma delas voltou. Antes de falar sobre a Shirase, apenas pare dez segundos e tente imaginar como a Toudou se sente a respeito disso tudo – ter perdido provavelmente sua melhor amiga e agora a filha dela ter conseguido de alguma forma forçar a barra e contra todas as chances ir para a Antártica também, junto com ela. Não sabemos muito sobre a Toudou, mas sabemos que não deve ser simples. Agora retornemos à Shirase, para quem é ainda menos simples.

Em primeiro lugar, é preciso lembrar – eu sei que estou soando repetitivo batendo nessa tecla sempre, mas acho necessário – que a Shirase nunca superou a perda da mãe. É por isso que ela quer viajar em primeiro lugar. Ela precisa viajar porque quer acreditar que sua mãe está lá, a esperando. A gente sabe que não está. Todo mundo ao redor da Shirase sabe que não está, mas ninguém vai falar isso pra ela. Não porque queiram que ela continue iludida, mas porque todo mundo sabe (nós também) que, no fundo, a Shirase também sabe disso. Não obstante, ela precisa ir. Ela precisa ir porque deve ser desesperador de tão triste perder sua mãe, sua referência na vida, sua heroína, tão jovem, e sequer ter estado ao lado dela uma última vez. E sequer poder se despedir de um corpo sem vida que seja, mas ainda assim uma despedida. Enterros são para os vivos, não para os mortos. E nem a isso a Shirase teve direito.

A garota está todos esses anos parada na fase de negação do luto. A Toudou com certeza já superou isso (o que não quer dizer que ela talvez não sofra da Culpa do Sobrevivente), então para a Shirase ela representa não só uma pessoa em quem sua mãe confiava e que “a traiu”, “abandonando-a” na Antártica, mas alguém que já aceitou a sua morte e lembra a Shirase disso o tempo todo, apenas por estar ali, na frente dela. Toudou representa tudo o que a garota não está pronta para aceitar agora. Por isso o humor dela azedou. As relações dela com as demais garotas podem se complicar também por causa disso – a Mari quase pulou em cima dela para tentar animá-la, sempre super empática, sempre pronta para absorver a dor dos outros como a sua própria, não tivesse Hinata a impedido. Acontece que a Shirase ainda não está pronta para largar essa dor.

Mari sente a dor da Shirase e quer confortá-la, mas a Shirase ainda precisa dessa dor

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