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Quem nunca se pegou antes imaginando qual seria o resultado de uma luta entre deuses? Ou uma guerra total entre dois panteões diferentes? Acho que boa parte do apelo de Cavaleiros do Zodíaco vem disso. Os cavaleiros lutam por e defendem uma deusa grega (Atena) e enfrentam inimigos em nível crescente de poder entre si mesmos, até que finalmente depois de uma carnificina o santuário da deusa finalmente é unificado sob um único comando. E aí é só o começo para mais guerras absurdas contra outras divindades e seus discípulos. De minha parte, quanto mais referências aos mitos e religiões originais dos quais vagamente se inspiram, melhor. Não é por menos que um dos cavaleiros de ouro que eu mais gosto é o Shaka. Não porque ele é estupidamente poderoso, ou por ele ser como prepotentemente se referem a ele “o mais próximo de deus”, mas porque ele é um caso muito louco de um cavaleiro que luta por um deus grego com o poder de Buda e todos os seus golpes são ricos em referências ao budismo. E esse foi o episódio do Shaka!

Eu fiquei impaciente com quanto tempo ele ficou à toa descansando naquela caverna, então foi com entusiasmo que vi na prévia ao final do episódio anterior que ele finalmente estava indo em direção à Yggdrasil. E ele lutaria contra Balder, que segundo seus companheiros asgardianos é um deus. Na verdade fiquei tão excitado que até dediquei uma boa porção do artigo anterior a falar sobre Baldr, a divindade nórdica que empresta seu nome a Balder. Basicamente ele é um deus que não pode ser ferido por nada nesse mundo, e assim como o deus, Balder possui esse poder, embora com as esperadas licenças poéticas, sendo o fato dele não ser um deus a menor delas. Primeiro, o deus era invulnerável porque sua mãe pediu pessoalmente a todos os seres e objetos do mundo que não o ferissem. O guerreiro deus apenas recebeu esse poder de uma divindade ainda desconhecida que ele na época acreditou ser Odin. Outra diferença, talvez consequência da primeira, é que o poder do guerreiro deus valia realmente para qualquer coisa, até para um poder místico (os golpes de Shaka), o que não faria nenhum sentido se a origem do poder dele fosse da mesma natureza que a do deus Baldr. Sério, apenas tente imaginar alguém pedindo ao Tesouro do Céu que não fira Balder. Como se pede algo a um poder? O poder tem existência própria, independente de quem o usa? Essas perguntas são estúpidas e sem sentido?

Acho que na real essas runas significam "Foi Zeus"

Acho que na real essas runas significam “Foi Zeus”

Grande interesse causam as runas nas mãos de Balder. Pelo menos para mim. Se para você não, leia esse parágrafo mesmo assim porque ele é interessante, prometo. Uma delas lembra um “F” e a outra lembra um “Z”, e para minha sorte não existe só uma runa que preencha esses requisitos. Houveram vários sistemas de alfabetos rúnicos relacionados, e em quase todos eles há mais de uma runa que tenha esses traços aproximados. Começo pelo que acho mais fácil, o “Z”: há duas runas com esse formato básico, a proto-germânica eihaz e algumas versões da sowilo ou sigel, especialmente a usada pelo inglês primitivo. A eihaz é pronunciada como “yew” (mas com sotaque viking, vire cinco litros de cerveja, mate dezessete ingleses, e com a boca ainda cheia de carne tente dizer “yew” – esse é o som original que a eihaz representava no contexto de uma palavra), que é também o nome de uma árvore (em português, o teixo), que é uma das muitas representações que a própria Yggdrasil teve. Assim, eihaz é usada às vezes para se referir à própria árvore do universo, tornando-a a melhor candidata a estar estampada na mão de Balder. Sigel era associada ao sol e, bem mais recentemente, à vitória. Foi usada por exemplo pelas SS nazistas. Quanto à outra runa, eu acredito que seja ansuz, que é outra forma de dizer aesir, o termo genérico que se refere a uma das raças de deuses na religião nórdica – os que viviam em Valhalla. Assim, depois desse enorme parágrafo, deve ter notado que eu não cheguei a nenhuma conclusão útil. Bom, é isso mesmo! Quero dizer, essas runas talvez signifiquem apenas que os japoneses não querem se esforçar demais nas referências, e isso é um tipo de conclusão de alguma forma útil.

Ainda no mesmo episódio o Máscara da Morte pôde bancar o mocinho mais uma vez. E adicionou sua própria referência religiosa: o Yomotsu Hirasaka para onde ele envia seus adversários com o golpe Ondas do Inferno é a ladeira que fica na entrada do Yomi, a terra dos mortos segundo o xintoísmo. Cavaleiros do Zodíaco é uma salada de referências mitológicas e religiosas e é precisamente por isso que o amamos.

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