Araburu Kisetsu no Otome-domo yo – ep 3 – Que está na fantasia dos infelizes
Bom dia!
Uma vez eu demoro dias, na outra publico no dia seguinte. Pois é, ainda não acertei meu ritmo para essa temporada, tá uma bagunça.
Da mesma forma como estão uma bagunça os sentimentos da Onodera.
Ao contrário dos episódios anteriores, em que mesmo a Onodera sendo a personagem principal suas colegas do clube de literatura tiveram boa porção de tempo e desenvolvimento, dessa vez a protagonista avançou sozinha.
Ou talvez seria mais preciso dizer que ela andou em círculos, patinou, andou para os lados, e talvez tenha terminado em um lugar desagradável no final.
A Sudou nem apareceu. Ok, eu sei que ela tecnicamente apareceu, só estou dizendo que ela não fez absolutamente nada, só estava lá. Nos episódios anteriores ela serviu como o suporte da Onodera pelo menos, o que por enquanto tem sido sua única função.
A Sugawara, depois da grande presença no episódio anterior, se resumiu a secretária da Onodera para o Izumi. Ele foi procurar a Sugawara preocupado com o vídeo que ela gravou e ela tornou aquilo em uma conversa sobre garotos e garotas, sexo, e a Onodera.
A circunstância toda pode vir a causar mais problemas para a Sugawara, mas pelo menos serviu para entender um pouco mais o Izumi.
Ele é afinal um garoto popular entre as meninas, e veio puxar conversa com a Sugawara, que é popular entre os meninos. Para piorar, a arrastou para fora da sala, na frente de todo mundo, inclusive a garota que se declarou para ele.
Já correm boatos sobre a Sugawara na escola (e vai saber quais outros não podem haver por aí, fora da escola, como consequência de seus “métodos” para escapar de assédios), e ela com certeza não quer mais um.
A Hongou foi a que teve mais tempo de tela e algum desenvolvimento, mas o resultado final parece ter sido apenas instrumental para manter o clube funcionando.
Ela descobriu por acaso que sua editora, seu editor, recém publicou um livro erótico escrito por uma adolescente – que não é o dela. E ela não estava sabendo disso.
Ao cobrar satisfação do editor, Hongou escutou o que já havia escutado antes: o que ela escreve não é realista. Daí ela toma a decisão absurda de ir e fazer sexo com qualquer um só para “ter experiência”.
O que ela escreve é digno de pornografia. Coisas como “estou molhadinha”, “você já está duro”, e que tais não são inverossímeis, mas não é exatamente alta literatura também. Não que ela esteja escrevendo alta literatura, mas também não é tão baixa. É como seu editor disse: há diferença entre erótico e pornográfico. Ele é um babaca mas ele conhece o mercado em que trabalha.
Enfim, resolvendo todos os problemas de uma vez só, ela marca de encontrar o tal “Milo” com quem ela já vinha fazendo sexo virtual na sala de chat e eis que ele era o Professor Yamagishi, de sua escola. Resumindo, ele acaba chantageado a tornar-se o supervisor do clube de literatura e todos ficam felizes.
Fim do arco da dissolução do clube.
Essa é uma forma de interpretar, claro. Outra é que o próprio arco de dissolução do clube na verdade faz parte do arco de desenvolvimento pessoal da Hongou, o que faria sentido, já que ela, que quer ser escritora, acabou arranjando um professor de literatura para o clube. Isso deve vir a lhe ser útil.
A única das amigas de clube da Onodera que indubitavelmente teve algum avanço pessoal nesse episódio que não serviu a nenhum outro propósito além de desenvolvimento da própria personagem foi a Presidente Sonezaki.
O Amagi disse a ela que se parecia com uma tal modelo que fazia uma tal propaganda, então ela foi procurar essa modelo. Comprou uma revista apenas para isso. Observando a mulher deslumbrante das fotos de estúdio, Sonezaki não conseguiu entender qual seja a suposta semelhança entre as duas.
Ou talvez ela tenha começado a entender? Seus rostos podem ser parecidos, mas a postura, as roupas, as expressões são completamente diferentes. O Amagi que diz que Sonezaki é parecida com a modelo estaria fantasiando com ela vestida daquele jeito, com aquela maquiagem, fazendo aquelas poses e sorrindo daquele jeito? Como a presidente se sente a esse respeito?
Sem experiência, tudo o que essas garotas têm é sua imaginação e suas fantasias.
Hongou não consegue imaginar cenas eróticas realistas.
Sugawara está cansada que homens fantasiem sobre ela e mulheres imaginem boatos.
Sonezaki tem dificuldade para se imaginar como aquela modelo.
Enquanto isso, Onodera está imaginando mil coisas. Antes mesmo de se descobrir apaixonada pelo Izumi no final do episódio anterior, ela já havia compreendido que estava reagindo de forma dura demais por causa de um incidente do qual ela era a única culpada e que havia sido muito mais constrangedor para seu amigo de infância.
É essa Onodera, um pouco mais calma e racional sobre seus sentimentos (e no momento mais preocupada com o futuro do clube), que começa a querer entender mais o Izumi. Que isso era “coisa de garoto” ela já sabia, que o Izumi estava “nessa idade” também, mas do quê exatamente o Izumi gosta? Com o quê ou com quem ele fantasia?
Seria o estado mental ideal para os dois fazerem as pazes se a relação entre eles fosse normal para começo de conversa. Mas não é, e o Izumi sofre com a separação tanto quanto a amiga.
Enquanto conversava com a Sugawara, ele admite que demorou a perceber que a Onodera se afastou dele no primário porque estava sofrendo bullying das demais garotas. Ele se culpa por isso, mas não fez nada a respeito. A Onodera resolveu sozinha, do jeito dela (se afastando), e ele decidiu apenas esperar pelo ensino médio, achando que as coisas melhorariam.
Porém, parece que ele entendeu só metade da história. Se tivesse entendido tudo, saberia que a simples mudança de grau não iria fazer a Onodera se reaproximar – muito pelo contrário.
Sempre esperando, sempre passivo, Izumi permitiu que eles ficassem cada vez mais afastados. E afastados, ele entendeu cada vez menos a Onodera. Mas agora ele decidiu que não vai mais ficar esperando. Ele vai fazer alguma coisa!
Enquanto isso, Onodera está tentando descobrir mais sobre ele. Curiosa ela já estava, e a chance se apresentou quando a mãe do amigo pediu para que ela fosse buscar algo no quarto dele.
Onde estaria a pornografia que ele estava assistindo? Seu quarto provavelmente lhe parecia o mesmo de sempre. Ela não pareceu se sentir deslocada ali dentro para além do estranhamento inicial por causa ainda da fatídica cena no primeiro episódio. Então ela encontrou o hentai do Izumi.
Molestamento sexual em transporte público. Aqui no Brasil chamamos isso de encoxada, lá no Japão chamam de chikan (痴漢). Frequentemente é retratado em trens, porque esse é o transporte público mais utilizado por larga margem. Mas o vídeo que o Izumi tinha curiosamente era chikan em ônibus.
Eu acho mais provável que tenha sido algo apenas aleatório, mas a Onodera quis enxergar pureza nisso. Izumi é fã de trens, um otaku de trens mesmo, do tipo que sequer conseguimos conceber por esses lados, que fica decorando horários de viagem e coisas ainda mais insignificantes. Tem o quarto preenchido pelo seu hobby.
Assim, sabendo que o chikan em trens é muito mais comum no Japão (tanto na vida real quanto na pornografia), Onodera viu no fato de que o hentai do amigo era em ônibus evidência de que ele não quereria conspurcar a imagem daquilo que para ele é realmente importante.
E talvez isso venha a ser a chave para desfazer a crise do final desse episódio.
A crise que se formou com um Izumi tentando ser proativo pela primeira vez em anos e uma Onodera sem nenhuma estrutura emocional para tentar compreender o amigo que ela (secretamente) ama.
Quando veio devolver o disco (ela assistiu?) Onodera foi pega no ato pelo Izumi. E ele aproveitou para explicar tudo. E ele explicou coisa demais.
Como ela havia acusado-o de querer fazer sexo com qualquer uma (“porque se ele não gosta de ninguém então qualquer uma serviria”), ele fez questão de esclarecer isso. Ele não imagina ninguém em particular quando se masturba e nem quer fazer sexo com ninguém. Nem com a garota que se declarou para ele. Nem com a Onodera.
A coitada da Onodera nem se declarou ainda mas já foi rejeitada. Detalhe importante: ele certamente não a rejeitaria. Nem levo a sério o papo dele de que não imagina nem quer fazer sexo com ninguém. Ele falou isso porque achou que era o que tinha que falar. E falou demais. Ela não queria ouvir aquilo.
Ela não quer fazer sexo com ele também (ou ela acredita que não quer), mas ela gosta dele. Então, na cabecinha da Onodera, como assim ele nem sequer pensa nela?
A Onodera não tinha como responder isso. Não dá para se declarar para alguém que para todos os efeitos acaba de te rejeitar. Não dá para ela dizer que quer fazer sexo com ele sem envolver sentimento. Pela terceira vez em três episódios, Onodera sai correndo do Izumi.
Ela cai das escadas e ele cai por cima tentando segurá-la. A cena parece emular o clichê clássico de cenas ecchi de qualquer anime por aí. É quase sempre assim, com o homem caindo por cima da mulher. Frequentemente com a mão ou mesmo o rosto em lugar inadequado – o que felizmente não ocorre em Araburu.
Mas essa não é uma cena ecchi. Não para garotos, pelo menos. O anime dá um close-up generoso no pescoço forte do Izumi, com só o começo do seu peito aparecendo. Onodera viu isso bem de perto. Corou imediatamente. E foi embora.
Até o episódio anterior a Onodera não gostava de ninguém nem muito menos queria saber de sexo. Então ela descobriu que gosta do Izumi, ainda que, “lógico”, “não queira” fazer sexo com ele. Provavelmente ela já estava pensando sobre isso antes, e muito mais depois.
Quanto ela não deve ter pensado nisso nesse episódio enquanto avaliava o hentai do Izumi? E se tiver assistido então? Claro que não estou falando de pensamentos voluntários, lúcidos. Ela não deve ter pensado “nossa, quero dar uma chave de perna no p** dele”, mas o desejo latente provavelmente já estava instalado.
Daí os dois têm uma conversa sobre pornografia, masturbação, e sexo. Bom, não bem conversa, mas o Izumi resolve “esclarecer” as coisas para ela, como já anotado acima. E ele diz com todas as palavras que não quer fazer sexo com ela. Está tudo bem assim, não está? Ela não quer também!
Acontece quê … pois é. Desejos latentes. Coisas que nos fazem rir ou chorar – no caso da Onodera, ela chorou ao ser rejeitada. Segundos depois, no pé da escada, ele estava em cima dela.
Aquele Izumi de quem ela se afastou. Aquele Izumi que havia crescido, ficado forte e bonito. Aquele Izumi que ela ama. Aquele Izumi estava em cima dela, sua pele visível nas beiradas da roupa, sua respiração audível e logo acima de seu próprio rosto, seu cheiro – ele sempre teve aquele cheiro? – penetrando suas narinas.
Onodera nunca desejou conscientemente fazer sexo com Izumi, mas tudo isso com certeza ativou as partes primitivas de seu cérebro e fez seu corpo desejar aquele corpo.
Que já lhe havia sido rejeitado.
A noite da Onodera será longa, aprisionada em sua própria imaginação e no meio de um turbilhão de sentimentos.