[sc:review nota=4]

Concrete Revolutio é uma espécie de anti-One Punch Man. O anime mais popular e engraçado e fácil de acompanhar constrói um mundo claramente dividido entre o bem e o mal, onde ou você é um herói e luta para salvar pessoas ou você é um vilão e considera-as ferramentas para seus objetivos, isso quando seu objetivo não é simplesmente matá-las. Ou preto ou branco. Mesmo no caso dos personagens moralmente questionáveis é possível dizer com precisão em que ponto da escala moral cada uma de suas ações está, e se são boas ou más. Pegue o exemplo do Snek: quando apareceu pela primeira vez, ele confrontou o Saitama apenas para se impôr sobre ele como um veterano universitário valentão se impõe sobre os calouros. Isso é uma atitude sem dúvida nenhuma errada. Noutra ocasião um vilão muito mais poderoso do que ele ameaçava massacrar a população abrigada em um refúgio e ele, podendo usar seu poder para fugir durante a confusão, escolheu ficar e lutar. Quem dirá que ele não foi um verdadeiro herói?

Concrete Revolutio é completamente o contrário disso. Não só ele nunca dá certeza sobre o que é certo ou errado, ou pelo menos mais certo ou mais errado, ele se recusa a admitir a existência de um bem e um mal absolutos. O maior exemplo de heroísmo que já existiu no mundo desse anime dizia claramente de si mesmo que não era um herói, mas sim que queria ser e se esforçava para isso. Inconscientemente ou nem tanto, eu estou aqui torcendo para que o Jirou esteja agindo de forma heroica após ter se separado por razões ainda misteriosas do Escritório de Super-Humanos, mas é prudente manter-me preparado para a hipótese desse não ser o caso. Ou, o mais provável, disso nunca ficar claro mesmo após o fim do anime.

Eu atualizei o artigo da linha do tempo de Concrete Revolutio com os fatos desse episódio. Dê uma lida se ainda não tiver lido, vale a pena! Não só ajuda a entender o que aconteceu no anime ver tudo em ordem cronológica como ajuda a entender as referências usadas (e não são poucas!). Nem digo que sirva para entender todas as referências porque duvido que eu tenha captado todas elas. Se você tiver entendido alguma que eu não entendi, por favor me avise! Para quem já leu, além do acréscimo com o que aconteceu nesse episódio, eu renomeei as três grandes divisões temporais do anime para homenagear as eras históricas das hqs de super-heróis americanas (que afinal são a maior referência de todas quando o tema é super-heróis): Era de Ouro para o período pré-Escritório de Super Humanos, incluindo o período pré-guerra, Era de Prata para o período de funcionamento normal do Escritório de Super-Humanos, e Era Contemporânea para o período após o acontecimento misterioso que ocasionou grandes mudanças no mundo do anime, sendo a mais notável delas a saída do Jirou do Escritório de Super-Humanos. Usarei esses termos nos meus artigos de agora em diante quando necessário também, são concisos e creio que transmitem bem a ideia da passagem do tempo.

Nesse oitavo episódio, além de Jirou são personagens centrais o Cavaleiro Arco-Íris, herói lendário da Era de Ouro que morreu em desgraça, e Daitetsu Maki / Yumihiko Otonashi, o líder do Escritório de Detetives Secretos BL, formado exclusivamente por super-humanos adolescentes. O Cavaleiro Arco-Íris é o herói que mencionei na introdução do artigo, e durante sua época já existiam as leis que censuram assuntos relativos à super-humanos mas elas em geral não eram aplicadas, e a opinião pública era na média mais complacente com os super-humanos do que jamais voltaria a ser depois (salvo talvez pelo período pós-ataques de monstros orquestrados pelo próprio Escritório de Super-Humanos usando a Rádio Japonesa de Monstros Gigantes, mas isso não fica bem claro). O pós-guerra era recente, bem como o uso dos super-humanos na guerra, então era natural que parte da população os visse como ameaça enquanto outra parte os visse como heróis (o Japão deve ter tido seus próprios super-soldados também afinal). A opinião pública era dividida (como o episódio da banda Cavalo da Montanha deixou bem claro), e sempre seria, em alguns momentos pendendo à favor dos super-humanos, noutros contra.

O Escritório de Detetives Secretos BL com seu líder Daitetsu Maki / Yumihiko Otonashi de megafone em mãos

O Escritório de Detetives Secretos BL com seu líder Daitetsu Maki / Yumihiko Otonashi de megafone em mãos

Não se tratava contudo de apenas variações normais de opinião, como ocorre com a moda ou a cultura (comentário: na verdade as variações que ocorrem na moda e na cultura são bem menos naturais do que parecem), há muitos interesses por trás. O Escritório de Super-Humanos tem seus interesses, o governo tem outros, e especificamente a razão dos interesses do governo não estão claras até agora. No geral, sempre aparecem contra os super-humanos: a conspiração por trás dos chocolates que inibem super-poderes era financiada pelo governo, também foi provavelmente o governo através do Uchihata e do Shimazu, da mesma espécie alienígena que o Akita, que pressionou para que o Escritório de Super-Humanos recuasse em seu plano para usar monstros gigantes para tornar os super-humanos mais populares. Nessa ocasião a Touzaki da Imperial Publicidade especula que isso seja do interesse americano, afinal eles começaram a empregar monstros gigantes como armas e não querem manchar a imagem deles. E nesse episódio o caso do Cavaleiro Arco-Íris também ficou bastante suspeito e, provavelmente, terminou com o envolvimento do governo.

Shimazu ajudou Akita nesse episódio e pediu que o Escritório de Super-Humanos pare de se opôr à entrada do Japão na Força de Defesa da Terra

Shimazu ajudou Akita nesse episódio e pediu que o Escritório de Super-Humanos pare de se opôr à entrada do Japão na Força de Defesa da Terra

Tendo sido sempre um herói, eis que um dia o Cavaleiro sequestra crianças. A opinião pública se voltou imediatamente contra ele, e ele acabou morto no final do incidente. Não está claro se foi morto ou se suicidou-se. De todo modo, foi uma mudança muito brusca e por isso há muita gente que acredita que essa foi uma conspiração do governo, que forjou tudo apenas para matar o herói. A coisa parece ter sido mesmo uma armação, mas de outra forma. Ele realmente capturou todas as crianças, mas parecia estar tentando protegê-las de alguma coisa. Não pode ser à toa que todas elas tivessem super-poderes e que, nas palavras do Daitetsu Maki, frequentassem um “laboratório” para desenvolver melhor seus poderes. O Daitetsu, bem como Jirou que também se envolveu diretamente no caso no que me parece foi o estopim para ele mais tarde entrar para o Escritório de Super-Humanos, ficaram para sempre confusos e em dúvida sobre o herói que eles tinham por ídolo. Esse fato ajudou a moldar a noção que cada um deles tem de justiça.

Outros tantos fatos mais tarde, já na Era Contemporânea, Daitetsu e Jirou estão em lados opostos. O não mais garoto parece ter entrado para o Escritório de Super-Humanos porque aparece em cena junto com o Yoshimura, e a Earth-chan foi resgatada com sucesso pelo Jirou mas está mais uma vez em apuros, capturada por um gigantesco braço metálico manipulado pelo Daitetsu. Como de praxe, o anime termina sem concluir essa cena. Achei o comportamento do Yoshimura bastante agressivo, e preciso contrastar isso com o comportamento dele no episódio do Cavalo da Montanha. Tanto ele quanto o Fuurouta pareceram muito mais calmos ao lidar com o Jirou naquela ocasião no ano 44, e os dois são muito mais agressivos anos mais tarde. O Fuurouta exibe isso já em 46, quando ele e Kikko perseguem Jirou no trem, e agora Yoshimura mostra o mesmo no ano 47. Como comentário final, estou escrevendo esse artigo de olho na linha do tempo o tempo inteiro, hehe, realmente ajuda a pensar sobre o que está acontecendo. E deve ajudar a entender do que eu estou falando também!

A volta da Earth-chan na Era Contemporânea!

A volta da Earth-chan na Era Contemporânea!

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