Psycho-Pass 3 – ep 3 – Arata, Kei, e a Akane é uma assassina?
Bom dia!
A primeira temporada foi fácil de entender a motivação do vilão: o Shougo Makishima era louco. Na segunda temporada foi igualmente fácil entender a motivação do vilão: Kirito Kamui era outro louco.
No filme e no Sinners of the System não tinha mais loucos, mas continuava mais ou menos fácil entender as maquinações políticas, econômicas, os interesses em jogo e objetivos dos vilões.
Mas sinto que a minha matiz está nublando conforme eu tento entender a Bifrost dessa terceira temporada…
A primeira e a segunda temporadas, e mesmo todos os filmes, tiveram uma pegada mais introspectiva, usaram livremente citações filosóficas e conceitos de psicologia para contar a história. Acabaram sendo, pois, formas brutais de disputas de ideias.
Nos filmes o mundo real começou a se fazer mais presente, e todos os questionamentos levantados nas duas séries para televisão começaram a se materializar em conflitos reais, alguns deles de larga escala. Algumas perguntas foram respondidas, e como esperado de uma distopia, as respostas não foram agradáveis.
E no entanto Sibyla continuou intocável.
Na terceira temporada sai a filosofia de citação e a psicologia superficial e entra o mundo duro, real, complexo. O resultado imediato é que todos os personagens parecem mais vivos, porque não são mais apenas ideais, mas gente de carne e osso.
Não me entenda mal, isso não é de forma alguma uma crítica a tudo o que Psycho-Pass fez antes. A Akane e o Kougami continuam sendo personagens que representam ideais e eles são ótimos assim. Mas se uma segunda temporada nos mesmos moldes da primeira já se mostrou insatisfatória, acredito que uma terceira seria pura frustração.
Todos os conceitos já foram explicados. Já conhecemos as grandes ideias em jogo em Psycho-Pass. Só resta mesmo ver como seu mundo real irá se comportar.
Sai de cena a infalível e incorruptível Akane, que nunca erra seu julgamento e não se afeta mesmo diante de situações traumáticas, e entram Arata e Kei, dois sobreviventes, pessoas que carregam cicatrizes profundas e têm defeitos e fraquezas que podem a qualquer momento por tudo a perder.
Os dois estão implicados em um mesmo incidente, no qual oficialmente o pai de Arata matou o irmão de Kei e em seguida cometeu suicídio. Não está claro se foi mesmo isso o que aconteceu, mas seus entes queridos estão mortos e eles vivos. E juntos. E buscando a verdade sobre tais eventos.
Akane parece estar implicada nessa história também. O nome dela não surgiu em momento algum no passado deles, mas o pai de Arata era um oficial do Departamento de Segurança Pública do Ministério de Bem-Estar, ao qual os inspetores estão subordinados em primeiro lugar.
Mais do que isso, uma foto dela aparece no notebook de Arata, no que parecia ser uma colagem da pesquisa que ele está fazendo pessoalmente sobre o incidente que tomou a vida de seu pai.
Saber que foi a própria Akane quem indicou Arata para o cargo de inspetor só dá mais credibilidade a essa hipótese. E o Kei foi a Shimotsuki quem indicou, o quê, dado seu comportamento, pode muito bem ter sido ação concertada com a Akane e/ou com a Frederica dos Negócios Estrangeiros, que tem sob seu comando dois ex-executores da Shimotsuki, além do Kougami, executor durante a primeira temporada.
Que tudo isso esteja conectado, e conectado com a Bifrost, é mais do que apenas uma possibilidade. No segundo filme do Sinners of the System Frederica disse para o Sugou, então executor e hoje um de seus agentes, que eventos do ano seguinte iriam fazê-lo mudar de ideia – no caso, ela estava então tentando recrutá-lo, e ele se recusou.
O tal ano seguinte à série Sinners é dois anos antes dessa terceira temporada. Akane ainda era inspetora. Foi o ano em que, oficialmente, o pai de Arata matou o irmão de Kei e se suicidou.
Depois disso Akane seria presa por assassinato, Shimotsuki se tornaria chefe, Frederica criaria sua unidade especial com ex-executores, e as duas formariam um acordo informal para que Shimotsuki pudesse “caçar raposas no Japão”. Raposas, como aquelas dos cartões de visita dos membros da Bifrost.
Com um grupo de executores quase totalmente novo, nenhum deles sabe de nada disso, exceto Shou, o único executor que está aqui desde a segunda temporada. Tenma e Kazumichi não fazem ideia de nada. Mao escondeu o cartão de visita do Rick, a vítima no incidente do avião no primeiro episódio.
O que será que a Mao sabe? Ela guardou o cartão para escondê-lo ou para conduzir uma investigação particular? O que a chamou a atenção, o layout da Bifrost ou o nome do sujeito?
Já sabemos um pouco mais sobre Tenma e Kazumichi, graças a esses episódios iniciais, mas a Mao está totalmente por fora de tudo o que está acontecendo. Pelo menos, na hipótese dela ser uma agente infiltrada, o Shou viu que ela guardou para si o cartão, e ele ainda é fiel a Akane. Ou talvez saber disso seja na verdade um risco de vida para ele.
Enfim, há um caso muito grande e muita coisa que aconteceu e que não temos a menor ideia do que possa ser. Mas provavelmente foi algo que seguiu o mesmo formato geral dos casos dessa temporada.
No caso atual, morreu o psicólogo Dr. Tsuchiya, que tinha uma linha de pesquisa sobre comportamento e desempenho de pessoas diante de estímulos afirmativos e negativos e ligado à Karina Komiya, ex-idol e candidata a governadora.
Ele estava em tratamento para clarear a sua matiz, quando saiu pela janela de um quarto de hotel, caiu e morreu. Suicídio?
Essa é só a preparação feita pelo Shizuka, um dos três apostadores de Bifrost, para o próximo jogo no Roundrobin. A eleição para o governo e a investigação são os elementos que se busca manipular nessa aposta.
A grande pergunta é: a troco de quê? Por que três pessoas obviamente podres de ricas estão fazendo apostas com eventos do mundo real? Eu sei que isso metaforicamente existe, por exemplo, na forma de bolsas de valores, entre outras coisas, mas em Bifrost eles estão apostando literalmente.
Estão inclusive apostando em coisas que é difícil imaginar que possam dar mais lucro do que sentar em cima da própria fortuna e esperar ela se multiplicar naturalmente, e com riscos enormes.
Como já escrevi, se fossem loucos como Makishima e Kamui eu entenderia. E não digo que seja impossível que algum deles ali seja louco. Talvez todos eles sejam loucos, cada um a sua maneira. Mas eles fazem parte de uma instituição, a Bifrost, que a loucura sozinha jamais construiria.
Sinto que devo recuperar minha intuição do primeiro episódio e desenvolvê-la: Bifrost não existe apenas para apostar à margem de Sibyla, mas para eventualmente confrontar o sistema mesmo. Por que fariam isso? Bom, Sibyla é quem detém o poder hoje, na prática. Mais do que outros órgãos do governo, políticos ou corporações.
E todo mundo quer poder, não quer? Digo, nem todo mundo, mas juntar um punhado de pessoas podres de ricas que querem poder ilimitado nunca é difícil.
Uma hipótese mais aterradora é que eles queiram mesmo suplantar, controlar ou derrubar Sibyla, não só por causa do poder, mas para evitar o horizonte de eventos da matrix. É uma ideia legal que eu me envergonho de ter demorado a ter, mas explico:
Sibyla é um computador formado por uma rede de cérebros humanos, e seu objetivo é manter a ordem para garantir vidas boas e felicidade a todos sob seus cuidados.
Friamente falando, qual é a forma mais eficaz de garantir isso? Hoje é o Psycho-Pass, que existe para afastar ou eliminar da sociedade pessoas que podem prejudicar a saúde mental de outras. Note que não se trata de cometer crime, mas de simplesmente ser alguém que, através da simples convivência, pode piorar outras pessoas.
O Sistema Sibyla nunca esteve particularmente interessado em caçar criminosos, e até mesmo incluiu alguns em sua rede. Remover criminosos do convívio público é apenas um efeito colateral.
Agora me acompanhe em um exercício mental: se existe tecnologia para extrair cérebros vivos e ligá-los em máquinas preservando a identidade dos indivíduos, se é possível administrar drogas de controle mental e outras formas de tratamento, se a melhor forma de manter as pessoas mentalmente saudáveis é isolá-las de pessoas que as façam mal, qual a resposta definitiva?
Arranca o cérebro de tudo mundo e liga em uma máquina.
Se for necessário, é possível até mesmo oferecer a cada cérebro individual uma realidade simulada criada sob medida para garantir a melhor satisfação.
É uma matrix pior do que a Matrix, porque mesmo que alguém tome a pílula vermelha, não será um macaco pelado plugado em uma máquina. Será um cérebro numa cuba.
O que impede que Sibyla concretize isso hoje? Bom, o resto do mundo. Se apenas o Japão fizesse isso, o país se tornaria vulnerável, a despeito de quão formidável possa ser o poder bélico dos drones de Sibyla, à ataques e invasões de todos os demais países. Mas já há anos que o Japão vem intervindo no resto do mundo, buscando inclusive expandir Sibyla.
Os riquinhos apostadores do Bifrost não parecem particularmente preocupados com o futuro da humanidade, mas eu não descartaria a possibilidade de que querem tomar o poder de Sibyla, independente da minha hipótese acima admitidamente mais insana estar certa ou não.
Mas voltando ao que interessa, deixe-me recapitular o caso atual:
O Dr. Tsuchiya em algum momento, por algum motivo, estava convencido de que Karina Komiya corria risco de vida, e queria entrar em contato com ela para avisá-la. Vimos isso no segundo episódio. Arata, porém, parece confiante de que é a própria Komiya a culpada pelo destino de seu ex-psicólogo.
Para complicar ainda mais as coisas, no andar da investigação Lee Aki, secretário da campanha de Kosuke Yakushiji, o advertário de Komiya, foi morto por homens enviados por Enomiya, que trabalha à serviço de Bifrost.
Como Lee era um estrangeiro e o partido que apoia Komiya é anti-imigração, aconteceu o óbvio e Yakushiji, que vinha em segundo nas intenções de voto, pulou para a frente.
É tudo trabalho de Bifrost, como podemos ver, mas não sabemos suas motivações ao certo nem o que pretendem conseguir com tudo isso. Tampouco sabemos quem mais possa estar envolvido.
E isso somos nós, espectadores, com um ponto de vista privilegiado. Os inspetores sabem ainda menos.
O primeiro caso já envolvia estrangeiros em mais de uma forma: o avião que caiu transportava imigrantes e foi a imigração que permitiu o estabelecimento do esquema de especulação imobiliária que desencadeou tudo.
Nesse caso os imigrantes ocupam um lugar ainda mais central no palco, conforme se tornam o fiel da balança política.
A tensão com relação aos estrangeiros é palpável, haja visto o incidente com o Kei e sua esposa no hospital, onde foram vítimas de flagrante xenofobia. Com os nervos ainda à flor da pele, Kei se descontrolaria mais tarde e socaria um sujeito que merecia mesmo um soco, mas como funcionário público em trabalho oficial ele não poderia ter feito isso. Resultado: suspensão.
Pelo menos o final do episódio clareou minha matiz um pouco ao trazer Yayoi de volta, agora não mais uma criminosa latente 😊