Essa adaptação de Blade é impressionante, não apenas pela qualidade geral que possui, mas principalmente por conseguir manter uma qualidade razoável mesmo ao escolher adaptar um tanko inteiro em apenas um episódio. Diga-se de passagem, o anime em si consegue fazer um bom trabalho, mas a quantidade de detalhes que são obrigados a cortar ou simplificar, me faz ter que sinceramente confessar, o mangá é muito, muito melhor do que o anime.

 

 

Como já disse em uma resenha anterior, sempre primo por analisar a obra em si, e não efetuar uma comparação com a sua contrapartida original que a inspira. Deixo para desabafar sobre os contrastes de cada uma, ou sobre o quanto o anime enxuga o mangá, junto ao vídeo linkado ao fim da resenha, pois agora me concentro em desenvolver uma prosa sobre o episódio em si.

Araya Kawakami é o antagonista da vez. Um homem que deixou para trás a vida de espadachim para se dedicar a criação de seu filho, Rinzo. Ele é artesão de máscaras e objetos de madeira, vivendo de maneira humilde, e fingindo, assim como o produto que comercializa, ter uma face outra que camufle a sua real natureza.

 

 

O ponto central do episódio é o desdobramento das ações da Rin, que está autoconsciente de seu ódio, de sua dor e sua animosidade, ela tenta controlar a si mesma para não aniquilar Araya, um dos membros da Itto-Ryu que mais a machucaram emocionalmente. Araya é o principal responsável pelo brutal estupro de sua mãe, incentivando o ato e até mesmo se divertindo de modo doentio enquanto artisticamente decorava o corpo da mulher, e detalhe, com o sangue de seu próprio marido recém assassinado pelo bando. Mórbido, repulsivo e imperdoável, seus atos levam Rin a “sufocar” de tanta angústia, principalmente por ser incapaz de realizar, sob tais circunstâncias, a sua vingança.

 

 

Rinzo, filho de Araya, está vinculado à vida do pai, ele não sabe de nada sobre o passado criminoso e doentio do mesmo, sendo relegado à ignorância e a ingenuidade. Eles vivem uma vida normal e honesta, e Rinzo se apega fortemente ao único parente que lhe resta. Araya, por sua vez, retribui as necessidades do filho, tornando-se de fato um bom pai, presente, atencioso e gentil para com o menino.

 

 

Sem conseguir segurar os sentimentos de revolta que a preenchem, Rin sai em busca de Araya. Decidida e entender o que se passa na cabeça desse infeliz, confusa por não conseguir apreender de imediato o monstro que ela sabe que ele é, e inconformada devido a situação em que se encontra, pois está incapacitada de agir e em conflito. Como poderia interpelar a sua vingança ante a tais circunstâncias. Rinzo é inocente e não tem qualquer culpa em relação às ações passadas de seu pai, como ela poderia arrastar o menino para o mesmo caminho trágico de sofrimento que trilha?

 

 

Ao conversar com Araya ela imediatamente percebe, ele está escondendo a sua verdadeira natureza de seu filho, não apenas enganando o menino, como também escondendo todo e qualquer vestígio de sua índole sanguinolenta e sádica. Ela o testa, conta a história de como foi obrigada a presenciar a própria mãe ser brutalmente violada diante de seus olhos; mesmo sendo ainda uma criança, assim como Rinzo, vislumbrou a agonia de seus pais junto ao abismo de sua impotência.

 

 

Araya revela completa ausência de empatia e não demonstra qualquer resquício de arrependimento pelo ato. Não satisfeito, resolve dar uma lição de moral em Rin, debochando da resolução desta em requisitar a sua assunção de culpa, ou seja, que ele lhe oferece-se um pedido sincero e formal de desculpas. A intenção de Rin era não repetir o ciclo infinito de derramamento de sangue, mas Araya não se importa com isso, ele a ataca.

 

 

Por sorte Manji estava ciente da aventura impulsiva de Rin em confrontar o artesão pai de família. Após garantir a segurança da jovem, enfrenta a figura para demonstrar que não tem “papas” nas lâminas, e após um combate desengonçado e afobado, consegue subjugar o estuprador imperdoável. Infelizmente, Rinzo presencia a sentença de morte do pai, e em um surto de pânico, ataca Manji.

 

 

Esse episódio é outro de extrema importância para aprofundar a personalidade e os dilemas que Rin está enfrentando. Manji age de modo irresponsável e inconsequente, mas Rin, por vezes, faz o mesmo, e a irresponsabilidade de um gera e propaga a irresponsabilidade de outro, uma bola de neve de problemas que os aproximam e os conectam ainda mais. Ambos se importam muito um com o outro, cumplicidade e carinho que se intensificam a cada dia na jornada que compartilham, e as consequências do ato de cada um, deve ser assumido como responsabilidade de ambos.

 

 

A morte de Araya deixa Rinzo completamente desamparado, e mesmo que acredite ter vingado a morte do pai, ao ser enganado por Rin, ainda assim sua vida foi virada de cabeça para baixo. Não vou adiantar qualquer informação sobre o futuro do jovem, mas uma coisa fica clara, ele entra inevitavelmente no caos da jornada de vingança de Rin, e a partir de agora também compartilha do destino que ela e Manji abraçam, um caminho vazio e sem volta onde o ressentimento e o ódio são as leis que regem e significam a vida.

Hyperlink que direciona ao vídeo onde continuo e aprofundo a análise desse episódio em comparação com o mangá!

 

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