Beastars – ep 5 – Legosi e Haru
Bom dia!
Quem diria, a moral do Louis não é tão elevada quanto eu acreditei que fosse. Não que eu tivesse muito fundamento para isso, apenas acreditei que por ele querer ser exemplo em um mundo com carnívoros e herbívoros vivendo em harmonia isso significava alguma coisa especial.
No final das contas, acho que projetei a minha moral nele.
Em todo caso, de forma alguma o Louis é uma má pessoa, é imoral, hipócrita ou qualquer coisa assim. É só uma pessoa com contradições, como qualquer outra de carne e osso.
Louis efetivamente defende a convivência harmônica, só que ele não está tão preocupado com detalhes do comportamento privado tanto quanto está com as aparências. Suponho que isso faça parte de sua mentalidade de ator, ou seja o que permitiu que ele fosse um grande ator em primeiro lugar.
E as aparências são importantes, não são? Não é por acaso que diz-se que da esposa de César não basta que seja honesta, mas é preciso também que pareça honesta. O poder do exemplo é enorme na construção dos valores de uma sociedade.
É por isso que Louis quer ser o Beastar: quer estar no topo, e, de lá, representar o papel de cidadão modelo. Muitos o admiram hoje, herbívoros e carnívoros. Muitos irão segui-lo.
Mas em privado, longe dos olhos da sociedade, os limites são bem mais largos. O anime não ajuda por não revelar a origem do sangue (banco de sangue? ou foi tomado de um coelho à força?), e esse é um problema que podemos apontar: Beastars é confuso em momentos que não deveria ser. Mas a depender da origem do sangue, tomá-lo não é mesmo diferente de usar qualquer droga para melhorar o desempenho.
Reprovável, mas silenciosamente aceito em nossa própria sociedade em várias áreas, por profissionais ou não. Por que seria diferente na fantasia de Beastars? Louis não se incomoda que Bill queira se dopar.
Da mesma forma, sexo é um tabu, e sexo por entretenimento fora de um relacionamento costuma ser muito mal visto. Mas lá estava o próprio Louis, o candidato a Beastar, na cama da coelha mais mal falada de toda a escola. Secretamente, é claro.
Não me escapa que Louis possa na verdade estar tentando parecer para si mesmo o que ele se esforça tanto para parecer aos outros. Ele quer parecer forte, mesmo sendo fraco. Ele quer parecer estar no controle, mesmo que tenha improvisado para salvar a peça que seus colegas quase destruíram. Ele quer parecer puro, mesmo se deitando com a coelha que a escola toda detesta.
Forte, controlado, incorruptível. Louis quer que as pessoas acreditem que ele é tudo isso, provavelmente porque ele mesmo precisa acreditar ser tudo isso. Suas motivações para tanto permanecem obscuras.
Mas por tudo que aparências sejam importantes, é óbvio que elas têm limitações. Pode o Louis ficar tranquilo com sua consciência sabendo que ele não é tão forte, tão controlado e tão puro quanto acreditam que ele é?
Os seus monólogos, seu sofrimento que não compartilha com ninguém e a “cara de adolescente normal de 18 anos” que o Legosi viu indicam que não. Parece ser difícil para Louis viver com suas contradições.
Isso sem falar no risco de cair a máscara. Jack, o amigo de Legosi, viu o que ninguém mais da plateia viu e percebeu que o lobo não estava atuando: ele estava nervoso de verdade. Com o quê ele não tem como saber, é evidente, mas sabe que seu amigo se descontrolou.
Mizuchi é um exemplo do inverso, de como uma pessoa tão absorvida em si mesma e em seus ideais pode se tornar cega para aqueles ao seu redor, eis que a coelha arlequim não tem a menor ideia sobre o que seu ex-namorado quer ou do que ele gosta. Ela acredita que os dois estão predestinados a estar juntos só porque da mesma espécie.
Haru jogou a verdade na cara dela, mas Mizuchi não percebeu porque estava mais ocupada se apavorando com a aproximação de Legosi. Em todo caso, é questionável se ela teria entendido uma palavra do que Haru disse mesmo sem o lobo por perto.
Haru e Legosi, por sua vez, prestaram bastante atenção em si mesmos e um no outro nesse episódio.
Os dois são solitários. Legosi é bastante introspectivo, e é provável que a Haru também seja, dado que ela é ainda mais solitária do que ele.
Legosi é bastante tímido e se sente melhor guardando seus sentimentos para si. De fato, ele acha que essa é a coisa certa a fazer. Haru, não sabemos porque, foi isolada. Não conta com nenhum amigo, com ninguém ao seu lado – exceto todos os machos que a procuram apenas por sexo. No caso da coelha, a falta de relação séria com qualquer outra pessoa é o seu refúgio. Ela se sente livre.
Mas tudo isso começa a mudar para eles.
Primeiro foi Legosi quem estourou na peça. Ele reconheceu, depois, graças a Jack, que ele quis expressar o que estava sentindo. Mas por que ele quis isso pela primeira vez? De novo, Legosi deve agradecer ao cão: é porque está apaixonado.
Quando reencontrou Legosi nesse episódio, Haru não se lembrava direito do que havia acontecido da última vez. Ao se lembrar, porém, tudo voltou. Foi uma experiência diferente de todas as que já teve antes. Pela primeira vez, um macho não quis fazer sexo com ela.
Não é que Legosi a tenha rejeitado. Ele estava claramente agitado, como qualquer adolescente excitado ficaria. Legosi não quis, e Haru não entende muito bem porque, mas ele não quis e ainda a cobriu. O grande predador, o lobo cinzento, parecia estar preocupado com ela. Parecia querer protegê-la. Sentir isso a fez sentir-se “salva”, em suas próprias palavras.
Para alguém que é vista como um objeto sexual pelo resto da escola isso deve ser mesmo algo grande, importante. Contraste com Louis, o quase santificado estudante modelo, que deu-lhe um calaboca para chamá-la logo para cama.
Haru queria conversar. Estava preocupada ou interessada em Louis? Não sei. Talvez só quisesse conversar por conversar, até porque ela não tem muitas oportunidades para isso. Perguntou a Louis se ele estava bem. Louis respondeu-lhe que o que ela tinha de “bom” era “não tentar ser terapeuta”.
Para bom entendedor, meia palavra basta. O que Louis valoriza em Haru não é o que ela fala ou pensa, mas seu corpo.
O mesmo corpo que ela ofereceu para Legosi, mas ele recusou, porque estava preocupado com ela – e havia acabado de conhecê-la.
Eu já disse que o anime foi confuso no caso do sangue do Bill e que isso é um problema. Nesse episódio houve mais alguns momentos de notável confusão.
Em contexto, quando Haru fala que se sentiu salva por não ter que fazer sexo com um lobo enorme, pode ter ficado parecido que ela se sentiu fisicamente salva, como se fazer sexo com um lobo fosse um risco para sua integridade corporal.
Talvez até seja, né? Mas eu não acho que foi isso o que ela quis dizer, como a minha interpretação nos parágrafos acima deixa claro. Não há motivo para esse tipo de ambiguidade, então considero problemático.
Durante toda a cena em que conversavam, no refeitório ou depois, caminhando, em mais de um momento pareceu que Haru e Legosi liam a mente um do outro e respondiam o que só havia sido pensado, mas não falado.
Até certa medida isso é positivo, ajuda a mostrar como os dois estavam notando sinais mínimos um no outro e conseguindo se entender, mas algumas das “respostas” foram muito específicas.
Por fim, o momento em que eles finalmente se apresentam. Não ficou claro se Legosi estava falando em “olhos de coelho” no sentido genérico ou se a chamou de “Coelha”. É a diferença entre:
“Olhos de coelho são bem pretos, né?”, e
“Coelha, seus olhos são bem pretos, né?”.
Nesse caso suponho que a confusão possa ser atribuída ao idioma. Talvez em japonês não seja nada confuso. A Haru entendeu que ele a chamou de “Coelha” e usou isso como senha para se apresentar e perguntar o nome dele. Tudo está bem quando acaba bem.
Agora os dois já se conhecem, se apresentaram, e, apesar do medo inato da Haru ao ver o lobo cinzento comer (pode ser instinto tanto quanto pode ser memória subconsciente traumática de quando o próprio Legosi tentou devorá-la, coisa que ela não se lembra), parecem interessados um no outro.
Estou ansioso para o Festival do Meteoro!