Se você é fã do My Bloody Valentine deve ter amado esse episódio, e se é do de Nirvana deve ter curtido também, mas deve gostar mesmo é do próximo. Eu confesso ser mais fã da segunda banda, mas também reconheço o valor e tenho apreço pela primeira. Aliás, eu adorei todas as 746735638 referências que esse episódio teve, só não achei melhor porque foram tantas que talvez tenha deixado alguma escapar. Let’s go rock!

Diferente do que eu imaginava era o trio esquisito quem estava fazendo as ilusões e atazanando a Mu, não era coisa dos monstros. No fim, a garota e o Echo foram salvos e não pagaram pela hospitalidade, mas deveriam ter pago pela aula de como referências ao rock que a dupla da Player com seu engenheiro deram, não à toa os nomes deles fazem referência aos nomes dos guitarristas da banda My Bloody Valentine.

Nem precisa conhecer tanto da história do rock ou do estilo shoegaze, uma das muitas ramificações do chamado “rock alternativo,” para conhecer essa banda e seu legado e até por isso super entendo o episódio ter feito muitas referências a ela. Quase todas as frases falados em inglês gratuitamente também eram referências a músicas da banda. Lá pelo finalzinho do artigo comento essas e outras referências em mais detalhes.

O importante foi que o episódio não teve só isso como chamariz, mas principalmente a exploração de um momento de definição para a protagonista que precisava cravar suas convicções e definir um objetivo claro a fim de seguir a jornada ao lado de seu parceiro, alguém que ela conheceu há poucos dias, mas já é querido.

Se Echo fosse um álbum de rock (não é Echo, mas Echoes é uma obra-prima do Pink Floyd) seria amor a primeira vista, digo, a primeira audição completa. Enfim, o episódio foi bem dinâmico na maneira como abordou o problema da Mu, propôs uma solução para ele e deu a resposta, e isso, sinceramente, não é bem um problema nesse anime em que amplificadores de guitarra se tornam mechas quando plugados em pessoas.

Aliás, o amp dos protagonistas existe na vida real, e é um clássico, o VOX AC30, que eu já vi em uma penca de palcos diferentes, mas não vou a fundo na história do equipamento porque até minha otaquice por música tem seus limites e, infelizmente, não toco nenhum instrumento.

Tentei aprender violão, teclado e bateria; fiz aulas de violão e desisti, o teclado que ganhei queimou quando tentei ligá-lo e só consegui comprar as baquetas. Se eu virar DJ será que posso me consider musico? Enfim, se não vejo o que escrever sobre as lutas de mecha; que não me desagradam, mas passam longe de ser o que mais curto nesse anime; acho legal especular sobre o tal Jimi Stonefree.

Não lembro se comentei no artigo de primeiras impressões, mas o nome dele é outra óbvia referência, dessa vez aquele que é tipo o Pelé da guitarra, o maior guitarrista de todos os tempos, Jimi Hendrix. Stone Free é uma de suas músicas mais conhecidas. Inclusive, ela também é referenciada na próxima parte de Jojo a ser adaptada em anime, Stone Ocean. Estão guardando um “deus” para o final desse anime? Estão. Acho isso irado? Acho!

O mistério gira em torno de qual é a exata ligação entre Jimi e Mu e do que levou ao Player a estragar o plano de extermínio em massa dos monstros. É como se ele tivesse acabado com um Rock in Rio, trazendo a comparação para o mundo da música brasileira, e isso tivesse causado uma reação em cadeia não só nos músicos, mas também no país, troque o Brasil por Inglaterra aqui, mesmo uma década após o acontecido.

Quanto ao casal de novos personagens eu gostei bastante deles, fiquei com a impressão de que eram marido e mulher, ou eram irmãos? Não saquei muito bem, estava tão entretido tentando captar as referências que não me apeguei a esse detalhes. Gostei de como o evento de dez anos antes impactou a vida deles e não só isso, fez com que passassem por uma experiência similar a que a Mu estava passando com o Echo no momento.

Mas o paralelo a ser tratado era de ordem inversa, a Mu estava tentando fazer o que o Kevin havia fez, enquanto o Echo nessa situação seria a Bilinda. Inclusive, essa referência pode parecer besta, mas, olhando para o contexto geral, faz certo sentido. Quando a Bilinda fala que a Mu e uma “garota de Chelsea” ela a apelida com o nome do famoso bairro londrino de classe alta pejorativamente, como se ela fosse “filhinha de papai.”

Não é exatamente o caso, mas é bem verdade que a Mu é muito inexperiente, a garota tem corpo de adolescente e nem age exatamente como uma criança, mas não tem memórias e não sabe bem o que quer, ou não sabia até ser confrontada pelo Echo. Nada como uma sessão de reparos em um amp para fazer um cara tomar coragem de se abrir com uma garota, né? Okay, isso soou estranho, mas não mais do que o anime é haha.

Eu achei que o problema lançado foi resolvido até bem rápido, no mesmo episódio e com poucas cenas entre a Mu dizer ao Echo que queria que ele fosse embora e ele dizer a ela que não vai. Mas, repito, isso não desqualificou o desfecho, o mínimo para fazer o público entender que a Bilinda e o Kevin falavam por experiência própria e proveram uma ajuda valiosa foi feito. além do lance de nomear as coisas ter sido lembrado.

O Echo dá nomes “criativos” para as coisas, né, mas o importante é que deu e se somarmos isso a maneira como ele expressou sua convicção dá para entender porque a Mu seguiu seu ritmo e encontrou ela mesma o queria fazer naquele momento. No fim, a Bilinda dá um empurrão para os dois os mandando visitar outros Players para descobrir os mistérios que cercam o passado da garota e esse também foi um desenrolar adequado.

É verdade que tudo isso ainda foi muito pouco para garantir que a Mu é uma garota de forte convicção que não vai mais fraquejar em meio ao medo ou a culpa, mas já foi um começo. Se Listeners é mesmo um “anime rock n’ roll” é certo que as palavras serão importantes para marcar momentos relevantes na trama, mas serão as atitudes dos protagonistas que mostrarão o quanto se desenvolveram.

Então sim, dar nome as coisas é importante, mas isso tem que andar de mãos dadas com a coragem para agir e foi o que vimos nesse episódio, tanto que até o Kevin, que se tornou recluso pelos mesmos motivos que a Mu queria que o Echo se afastasse dela, enfrentou seu medo e lutou ao lado de quem amava. Falar é fácil, mostrar com atitudes nem tanto, mas o anime está conseguindo manter o equilíbrio entre uma coisa e outra.

A única coisa realmente “desequilibrada” foram as referências, foram muitas, mas até que achei isso legal, porque deu ainda mais ao público a dimensão de como a música, o rock principalmente, é o pano de fundo da história, e quem faz o anime entende do que está fazendo, tendo sensibilidade para transitar entre referências diretas, menos óbvias e que, indubitavelmente, tem alguma ligação com o roteiro.

Por exemplo, a frase falada pelo Kevin, “é melhor queimar com tudo do que desaparecer aos poucos,” em tradução livre, é um verso de música do Neil Young que está enraizado na história do rock não só por ser sempre homenageado por vários músicos, mas também porque marcou o último ato daquele que deve ser o grande homenageado no próximo episódio; Kurt Cobain, vocalista, guitarrista e compositor da banda Nirvana.

Não vou me aprofundar ao escrever sobre a banda, até porque você deve conhecê-la, mas foi bacana como uma frase catalisou bem o que foi o episódio ao mesmo tempo em que cantou a bola do que vai ser o próximo. O título do próximo episódio, a frase que o Kevin (se não me engano era a voz do personagem) fala antes do título aparecer na prévia e até o que estava escrito no quadro nessa cena. Tudo aponta para o Nirvana de Kurt.

A perspicácia de trazer esse subtexto da música, e não só do que está as claras, mas também do que fica nas entrelinhas, é um dos maiores charmes desse anime e não me canso de ficar com os olhos brilhando por conta disso, afinal, sou rockeiro mesmo, fã de carteirinha da fonte na qual quem escreve o roteiro bebeu.

A título de curiosidade, a música da lenda do rock Neil Young que tem o verso icônico é Hey Hey, My My (Into the Black) e advinha só quem fez cover dela? Sim, o Oasis, a banda de destaque no primeiro episódio. Em uma eventual resenha devo fazer um apanhado pelo menos das referências mais pungentes em cada episódio, como foi o caso do My Blood Valentine dessa vez, e talvez ache uma conexão entre todas as bandas.

Tendo ou não, aposto que todas serão bandas de rock com legados incríveis a serem conhecidos por quem assistir o anime. Vai por mim, se ainda não tiver ouvido todos esses sons a hora é agora!

You Made me Realize, Feed Me with Your Kiss e I Can See It (But I Can’t Feel It) são todas músicas do My Blood Valentine. Hey Hey, My My (Into the Black) é, como escrevi pouco acima, uma canção do Neil Young. Teen Spirit faz referência a Smells Like Teen Spirit, o grande sucesso do Nirvana. Stone Free é um petardo do gênio Jimi Hendrix e ainda tem mais uma referência que parece até mentira de tão “peculiar.”

Like a Daydream, outro dos versos aleatórios em inglês falados pelos novos personagens, é uma música da banda Ride, também pertencente ao estilo shoegaze e que, muito coincidentemente, teve seu baixista Andy Bell trabalhando com o Oasis e o Beady Eye (banda formada pelos ex-integrantes do Oasis, tirando o líder Noel Gallagher) até seus respectivos fins. Parece piada, mas é sério, se duvidar nem a produção do anime sabe disso.

Ufa, será que o Capitão ficaria orgulhoso? Tive a impressão de que as falas na prévia faziam referência a alguma coisa… Não, já chega de referências por hoje, é melhor ansiar pela expansão de mundo que está por vir.

Até a próxima!

Comentários