Dimension W – ep 6 – Transhumanismo
Esse episódio não foi particularmente genial mas acho que conseguiu ser um ponto de inflexão que irá reverter a curva descendente do anime. Até então eu me perguntava: mas sobre o que exatamente é Dimension W? Que história o anime quer contar? Enquanto eu possa ainda não ter essas respostas, pelo menos parece que algumas vários fios de enredo soltos serão unidos nos próximos episódios e um pedaço de informação vital sobre o passado do protagonista foi revelado nesse episódio. Enfim, nada ainda para ficar empolgado, mas eu estava esperando algo bem pior e fui positivamente surpreso.
O tema do episódio em si (e talvez se torne o tema do anime) foi o transhumanismo, algo caro à co-protagonista Mira. E que por acaso eu me encontrava já pensando a respeito por dias.
Responda rápido: a Mira é humana? Não né, afinal é um androide construído, não um bebê que saiu da barriga de uma mãe humana, por mais que ela funcionalmente seja idêntica a um humano normal, inclusive em sua capacidade intelectual. Então faça o exercício mental (hehe) de imaginar um cérebro humano transplantado para um corpo cibernético. Personalidade, memórias, até a origem dele é humana, exceto, lógico, pelo corpo quase inteiro com exceção do cérebro. Alguém assim é humano? Ou deixou de ser humano?
Se ainda está difícil vamos com mais calma. Sem dúvida você não acha que alguém que teve que amputar membros – e talvez os tenha substituído por próteses – deixou de ser humano, certo? Tampouco é menos humano alguém com óculos, marca-passo, aparelhos auditivos e toda sorte de dispositivos ativos e passivos para auxiliar ou substituir funções corporais falhas. Faça apenas o exercício então de imaginar que progressivamente mais partes de um corpo biológico são substituídas por partes eletrônicas (ou mecânicas, ou bio-artificiais – órgãos artificiais criados com células biológicas reais, usando por exemplo uma impressora 3D que as molda em tecidos), até que reste muito pouco. Ainda é humano? Até que reste apenas o cérebro. Ainda é humano?
E só estou fazendo essa distinção para o cérebro porque conhecemos muito pouco dele e jamais seríamos capazes de substituí-lo. Mas e se fôssemos? E o fizéssemos? O ser final deixaria de ser humano? Se não deixasse mas fosse em tudo igual a um ser artificial desde a origem, por que negar ao androide a distinção de ser humano? Sem apelar à religião é difícil (mas não impossível). Mas falando fácil, transhumanismo é uma filosofia que prega que não apenas podemos (e devemos) substituir partes biológicas por artificiais como devemos fazê-las melhores que as originais – bem melhores. Olhos que enxergam o espectro ultravioleta, pernas incansáveis ou que saltam metros, membros especializados para conectar em dispositivos eletrônicos (imagine um cabo USB saindo de um dos seus dedos), escolha aí.
Algumas das resistências (apenas algumas) ao transhumanismo são a habilidade de criar super-humanos que em tudo seriam superiores aos seres humanos normais e os substituiriam; a revogação final da evolução da espécie humana (segundo esse ponto de vista); o risco de que os ricos se tornem também super-humanos, enquanto pobres se transformariam em uma subespécie inferior – especiação por riqueza! Esse episódio de Dimension W toca nesse ponto muito brevemente: parece que, no mundo do anime, estabeleceu-se um critério segundo o qual se é humano até o limite de 60% do corpo modificado (essa informação sozinha não significa muito, mas o anime não dá detalhes). E se ultrapassar esse critério? Não faço ideia, mas pense apenas por um instante: os direitos humanos são assim chamados por uma razão. Se você deixar de ser legalmente humano…
A conversa entre o Vento da África e a Claire Skyheart no final do episódio dá a entender que a vida da mulher foi estendida muito além do normal para um ser humano. Ela provavelmente deveria no mínimo ser uma velha senil em alguma instituição ou na casa dos filhos, mas ao invés é um membro ativo e importante da sociedade. Isso também é resultado de transhumanismo. O irmão mais novo do Vento da África, o príncipe Lwai, parece já ter morrido (ou, mais provavelmente, chegado bem perto disso com seu corpo original clinicamente morto) e agora seu cérebro humano habita um corpo androide tão poderoso quanto o da Mira, que já nasceu androide mas seu cérebro cibernético é tão complexo que o Koorogi é incapaz de compreendê-lo.
Enquanto isso, alguma esperança parece ter brotado no coração do Kyouma com relação à sua falecida noiva ou esposa (surpreendente que ele tenha tido alguma!). Mas o caso dele é meio místico: não apenas ele parece ter ainda alguma amnésia impedindo que se lembre de tudo como ela está, de fato, morta há anos. A experiência com os mortos do hotel que continuaram de alguma forma bizarra vivos na dimensão W por anos foi o que deu-lhe esperança. Por outro lado acender essa fagulha o fará usar a Mira, que ele ainda enxerga (ou finge enxergar?) apenas como um objeto. E ele está perfeitamente consciente dos riscos que a androide corre ajudando-o. Grandes conflitos à vista! Agora que a história começa a ficar boa decidem ter um torneio … bom, que seja. Está melhorando pelo menos.